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Sexta-feira, 17 de maio de 2024

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Ativos da Cimpor podem ser repartidos, dizem analistas

A CSN fracassou nesta terça-feira em sua oferta de compra de pelo menos um terço mais uma ação da cimenteira portuguesa Cimpor, mas a luta pela empresa lusa não terminou e até pode levar à divisão de seus ativos.


A CSN recebeu intenções de venda de apenas 8,56% do capital da Cimpor, não atingindo o patamar mínimo de sucesso e a oferta revisada este mês de 5,75 euros por ação para 6,18 euros ficou sem efeito, não permitindo ao grupo siderúrgico comprar qualquer ação dentro da operação proposta.

A oferta da CSN, inicialmente lançada em dezembro de 2009, disparou uma resposta rápida de duas das principais cimenteiras do Brasil, Votorantim e Camargo Corrêa, que compraram posições relevantes da Cimpor sem manifestarem intenção de avançar para o controle.

O analista Bruno Silva, do BPI, em Portugal, disse que "a Camargo Corrêa e a Votorantim atingiram o primeiro objetivo imediato: travar a entrada da CSN, sem terem pago um elevado prêmio pelo controle".

"Nem a Votorantim, nem a Camargo Corrêa, nenhum deles, entrou na Cimpor para ficar minoritário, e um dos principais objetivos era ter acesso aos ativos de cimento (da Cimpor) no Brasil", disse a analista Rita Carles, do banco de investimento Banif, em Lisboa.

A Cimpor, terceira produtora de cimento do Brasil, tornou-se atraente diante da alta na demanda por cimento que o Brasil deve registrar com um boom no setor de construção civil fomentado por projetos de infraestrutura e pela realização da Copa do Mundo de 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016.

A Votorantim, maior produtora de cimento do Brasil com participação de 40% do mercado, comprou 21,2% da Cimpor e fez um acordo para travar os 9,6% detidos pela estatal CGD (Caixa Geral de Depósitos) na cimenteira portuguesa.

A Camargo Corrêa, número quatro na produção de cimento no Brasil, após ver a sua tentativa de fusão com a Cimpor bloqueada pelo regulador português CMVM, comprou 31% da Cimpor.

"Esta estrutura acionista tem os mesmos problemas da estrutura anterior e ninguém tem maioria. O viés especulativo aliviou um pouco agora, mas a médio prazo não, e vai manter-se", disse Rita.

Cade

O analista Paulo Macena, da All Consulting, em São Paulo, lembrou que a Cimpor "era o melhor ativo para a CSN crescer de maneira considerável (em cimento) no Brasil", ressaltando que a queixa da CSN ao Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) pode ser um "revés para Camargo e Votorantim".

O órgão antitruste avalia uma eventual concentração excessiva de mercado caso Votorantim ou Camargo Corrêa fiquem com ativos da Cimpor no Brasil.

A SDE (Secretaria de Direito Econômico) identificou grave potencial de lesão à concorrência nos acordos fechados pelas duas cimenteiras brasileiras sobre a Cimpor e recomendou ao Cade medidas para evitar mudanças no setor de cimento.

"O jogo da Cimpor ainda não acabou, pois o Cade ainda não se pronunciou sobre Votorantim e Camargo Corrêa", afirmou o analista Pedro Galdi, da corretora SLW, também em São Paulo. Ele considera que caso o Cade não permita que as duas cimenteiras passem a controlar fábricas brasileiras da Cimpor, a "CSN poderia insistir ou talvez tentar adquirir outra empresa do setor."

A corretora Itaú comentou em relatório que "a CSN poderia ainda adquirir diretamente uma participação minoritária na Cimpor e/ou comprar a Nassau, segunda maior produtora de cimento do Brasil."

Os analistas frisam, independentemente do que fizer o Cade, que é quase impossível Votorantim e Camargo Corrêa serem acionistas na Cimpor sem que se sintam tentadas a repartir a empresa.

"Acho que muita gente não vendeu ações da Cimpor na oferta da CSN por pensar que ainda poderá haver uma luta pelo controle. Mas, meu cenário central é que, mais cedo ou mais tarde, a Votorantim e a Camargo se entendam em uma divisão da Cimpor", disse o analista do BPI em Portugal.

Outros acionistas relevantes da Cimpor são o empresário Manuel Fino (com 10,7%) e o fundo de pensões do Millennium bcp (com 10%). Menos de 20% das ações do capital da Cimpor estão em circulação no mercado.

Segundo analistas, apesar de terem caído 5,35% nesta terça-feira, as ações da Cimpor ainda são negociadas a um prêmio maior em relação a grandes nomes do mercado mundial de cimento.

Isso porque investidores apostam que a luta pela companhia pode durar, o que sustentará a cotação do papel, que nesta terça-feira terminou em 5,54 euros na bolsa de Lisboa.

Dados da Thomson One Analytcs mostram a Cimpor sendo negociada com uma relação preço/lucro de 16 vezes, ante relação de 12 vezes da Lafarge, maior produtora mundial de cimento, e 15 vezes da Holcim.

Analistas acreditam que o fato de muitos acionistas não terem vendido suas ações na oferta melhorada da CSN mostra que aguardam a possibilidade de uma venda posterior com termos mais favoráveis.

"A luta pela Cimpor acabou de começar e isto não significa uma trégua. Aparentemente, a Votorantim e a Camargo conseguiram, por ora, afastar a CSN", disse um analista de um banco de investimento em Lisboa que pediu para não ser identificado.

Procurada, a CSN informou que não vai comentar o assunto.
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