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Sábado, 27 de julho de 2024

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Drama peruano traz realismo mágico e cultura indígena

La Teta Assustada começa com uma canção melancólica relatando um caso de estupro e entoada por uma velha índia moribunda para sua filha. Esta se chama Fausta (Magaly Solier) e sofre de uma doença rara transmitida pelo leite das mulheres que foram violentadas durante o período de terrorismo que se instalou no Peru. É a teta assustada do título.


Fausta desmaia com dores também. O médico diagnostica a existência de batatas na sua vagina. Teriam sido colocadas ali para protegê-la dos estupros. Com a morte da mãe, a jovem decide que quer levar o corpo embalsamado do bairro pobre na periferia de Lima, onde vive, para o vilarejo de origem da família. Mas falta dinheiro e o jeito é ela se empregar numa casa rica para pagar o transporte.

A essa altura, o espectador já sabe que esse drama que representa o Peru na competição de Berlim tem muito de mágico e folclórico, mas só mesmo a diretora Claudia Llosa para esclarecer o que é imaginário, o que é real na trama. "Essa doença a que as pessoas mais simples, e em geral indígenas, se referem realmente existe; a primeira vez que ouvi a expressão teta assustada fiquei impressionada pelo significado e impacto desse nome; diz-se de crianças fracas e com algum trauma que nasceram da teta assustada, de mulheres que sofreram violência sexual durante o terror no Peru". A diretora, parente distante do diretor Luis Llosa e do escritor Mario Vargas Llosa, não nomeia, e nem quer, mas esse terrorismo é o período em que o Sendero Luminoso atuou no país e a resposta do governo a ele, que para Claudia também foi um gesto de terror.

"Por isso que não quis dar uma cara certa a esse inimigo de que falo no filme, não quis nomeá-lo justamente para não valorizá-lo". E completa: "além do mais não sabemos no Peru nunca quem é o mocinho ou quem é o bandido".

Dito assim, o filme parece triste e duro no trato da história, e realmente o é em alguns momentos. Mais correto seria dizer melancólico. Muito dessa melancolia se apoia nas canções que a protagonista canta em vários momentos, que foram compostas pela própria atriz Magaly Solier, cantora com discos lançados em seu país. Mas a jovem diretora, que apresentou aqui em Berlim Maidenusa há dois anos, também sabe temperar seu drama com irreverência e humor ao falar do cotidiano dos personagens da periferia, o jeito como se relacionam e seus costumes de origem quechua, de cultura andina, como nos casamentos.

São cenas que para alguns críticos guarda o exotismo que agrada as platéias internacionais, e para outros mostram o diálogo da diretora com colegas latino-americanas como a argentina Lucrecia Martel. A lembrança ocorre quando da ótima cena em que uma cova aberta inicialmente para enterrar a mãe torna-se uma piscina para a diversão das crianças.
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