Por ironia, os atos de descompatibilização de cargos políticos da maioria daqueles que pretendem disputar um novo cargo político majoritário – governador ou senador –, através do voto direto, ocorrem na data do 46º aniversário do golpe militar de 1964. No dia 31 de março daquele ano, o marechal Humberto de Alencar Castello pôs suas tropas em marcha em direção ao Rio de Janeiro, dando início a desdobramentos políticos que culminaram em um regime ditatorial com 21 anos de duração.

Agora, em 2010, ao invés de soldados nas ruas, militantes e a população em geral assistem a uma série de políticos brasileiros deixarem seus cargos para concorrerem a uma vaga majoritária. As descompatibilizações começam por dez ministros, entre eles a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT), candidata a presidente da República; passa por governadores de estado, como Blairo Maggi (PR), candidato ao Senado; e, por fim, prefeitos, como Wilson Santos (PSDB), candidato a governador.

No ano do golpe militar, historiadores relatam um momento de instabilidade política em decorrência do então presidente, João Gourlat, ser populista e propor uma série de reformas de base, entre elas a agrária, e a estatização de refinarias particulares de petróleo. Entre as justificativas para o golpe de 64, foi usada a alegação de que Gourlat, apoiado por Leonel Brizola (então PTB), imporia um regime socialista ou comunista no Brasil.

Hoje a situação é outra, apesar do presidente da Republica, Luis Inácio Lula da Silva, também ser populista, com níveis recordes de aprovação. A estabilidade política há algum tempo não é questionada, quanto mais uma possível mudança no modo de produção. Ao contrário, alguns dissidentes do Partido dos Trabalhadores, como senadora Marina Silva (PV), candidata à Presidência, afirma que Lula manteve a mesma política econômica implantada pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), que por sua vez é acusado de práticas neoliberais.