Quando Divino Alves de Oliveira, 42, chegou à frente do Hospital Pronto Socorro Municipal de Cuiabá (HPSMC) na manhã deste sábado (3), o ‘evento’ de vistoria das obras de reforma já havia acabado, tanto que o prefeito de Cuiabá, Chico Galindo (PTB), e o ex-prefeito Wilson Santos (PSDB) já haviam deixado o local. Divino saltou de um carro e foi para a calçada pulando sobre o pé direito, pois o esquerdo estava demasiadamente inchado e dolorido.

Na calçada percebeu a dificuldade que teria para descer a íngreme rampa que dá acesso ao piso inferior do Pronto Socorro, onde o atendimento está funcionando. Qualquer um que visse a cena perceberia que aquele homem de roupas humildes precisava de atendimento médico e de ajuda para entrar na unidade. No entanto foi ignorado por quem passava, inclusive, por alguns políticos que pouco antes declaravam sua preocupação com a saúde pública da população cuiabana.

Todos fingiam que não o viam. Um segurança que estava à porta do hospital disse que o fato não dizia lhe respeito. “Não posso fazer nada”, defendeu-se. Enquanto isso, no piso inferior os funcionários também se esquivavam da responsabilidade. Um empurrava para o outro. Uns diziam que o maqueiro devia ir buscar o rapaz, e o maqueiro dizia que não tinha autorização para tal. E ficou por isso mesmo.

A busca de Divino Alves pelo serviço público começou em Várzea Grande, onde um acidente de moto lhe causou a lesão. O rapaz foi com a irmã buscar atendimento médico no Pronto Socorro de VG. Chegando lá, assinou a ficha e recebeu a informação de que devia esperar. Após aguardar um bom tempo ele perguntou se demoraria muito para ser atendido e ouviu como resposta que só teria ortopedista disponível no período da noite. Além disso, lhe foi negada a consulta com um clinico geral, uma vez que seu problema era ortopédico.

Sem sucesso no Pronto Socorro de Várzea Grande, Divino seguiu para o hospital da cidade vizinha e passou por esse constrangimento. Após algum tempo, Divino conseguiu descer a rampa de carona em um carro. Não se sabe se no Pronto Socorro de Cuiabá foi finalmente atendido, a reportagem não conseguiu entrar em contato com ele novamente. Mas o que aconteceu neste sábado não foi um fato isolado. A notória incapacidade da saúde pública em atender a população se agrava quando somada a doses de má vontade.

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