O número de casos de meningite meningocócica - transmitida por bactéria e considerada a mais propensa a causar epidemias - caiu 40,6% nos últimos dez anos no Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde. Em 2009, 2.514 pessoas foram infectadas com a doença e 514 morreram, enquanto em 2000 foram notificados ao menos 4.238 casos e 771 mortes.

Neste período, a mortalidade pela doença caiu 33% no país, mas continua alta se comparada aos países desenvolvidos.

Inverno

A meningite é um processo inflamatório das meninges (membranas que envolvem o cérebro), que pode ser causada por diversos agentes infecciosos, desde bactérias, vírus, fungos e parasitas. A maioria de suas vítimas são crianças bem pequenas ou bebês, mas adultos podem adquiri-la também. Sua principal forma de transmissão é por via respiratória, por meio do contato com gotículas e secreções do nariz e da garganta. Até um beijo pode causar a infecção. Com a chegada do inverno é comum as pessoas se manterem em locais fechados, o que facilita a transmissão. 

- A meningite meningocócica aparece com maior frequência em países em desenvolvimento do que nos desenvolvidos porque quanto maior o número de pessoas por metro quadrado, maiores as chances de contaminação.

Localidades pobres também são foco, pois, segundo o infectologista, a população tem menos acesso à vacina meningocócica, uma das formas de prevenção à doença. A dose, segundo o médico, só é disponibilizada no SUS (Sistema Único de Saúde) para pacientes que apresentam determinadas doenças como HIV, anemia falciforme e pessoas que perderam o baço, em especial crianças, entre outras doenças. Quem tiver fora destes grupos tem de pagar para se vacinar em alguma clínica particular.

- Como a vacina é paga, nem todo mundo pode arcar, ou seja, só quem tiver condição pode adquiri-la. Por isso, nos Estados mais pobres a população fica mais exposta à doença.

Vacinação e prevenção

Um surto da doença na Bahia no começo do ano fez o governo estadual distribuir a vacina meningocócica na rede pública depois de protestos da população. Segundo a Secretaria Estadual de Saúde do Estado, ao menos 22 pessoas morreram em decorrência da doença no Estado até a semana passada. Segundo o Ministério da Saúde, está prevista a inclusão desta vacina em toda a rede pública de saúde do país no próximo semestre. No entanto, não há data definida de acesso à população.

O ministério ainda informa que até junho deste ano vai começar a distribuição da vacina pneumocócica conjugada 10-valente, que protege contra a pneumonia e meningite por pneumococo, considerada de alta letalidade. Doze Estados, incluindo São Paulo, já fizeram pedidos das vacinas, que serão produzidas pelo Laboratório Biomanguinhos, da Fundação Oswaldo Cruz. A vacinação contra a meningite só não está mais disseminada, pois parte dos Estados esperam o fim da vacinação contra a gripe A (H1N1), popular suína, para começar a nova campanha.

Além da vacinação adequada, há outras maneiras de se prevenir contra a doença. Para a infectologista-pediátrica Renata Succi, da Unifesp, a primeira precaução é evitar levar o bebê e crianças muito pequenas para ambientes fechados ou de grandes aglomerações, principalmente se ela apresentar sintomas como mal estar e sinais de febre.

- Além de evitar ambientes com muita gente circulando, não leve as crianças para festinhas de aniversário se ela estiver passando mal, febril, pois ela pode estar doente e passar para as outras crianças. Lavar as mãos delas também é importante para evitar contaminação de outras pessoas.

Regiões com maior número de casos

A junção de grandes populações e pobreza faz a região Sudeste ser a recordista em número de casos ao longo da década. Em 2010, pelo menos 239 pessoas foram infectadas e 46 morreram, destas 34 só no Estado de São Paulo, nove no Rio de Janeiro e três em Minas Gerais, até 23 de março.

Em 2009, 1.544 pessoas pegaram a doença e 314 morreram na região. Estes números, comparados aos casos de 2000, quando 2.285 ficaram doentes e 412 morreram, indicam uma queda de 32,4% no número de casos nos últimos dez anos na região e 23,8% no número de mortes.

A região Nordeste é a segunda em número de pessoas infectadas nos últimos dez anos. Só em 2010, a doença meningocócica já atingiu pelo menos 43 pessoas, 31 só no Estado da Bahia. Segundo o balanço do ministério, até 25 de março, quatro pessoas morreram no Estado, mas segundo o último boletim da Secretaria Estadual de Saúde baiana, o número mais que dobrou no mês de abril, com 22 mortes pela meningite meningocócica, o tipo com maior poder de disseminação.

No ano passado, 479 pessoas foram infectadas pela meningite meningocócica na região e 99 morreram. Se comparado à 2000, quando 986 pessoas ficaram doentes e 201 morreram, houve uma queda de 51,4% dos casos e 50,7% de mortes.