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Quinta-feira, 02 de maio de 2024

Opinião

Estamos nos separando: como lidar quando se tem filhos?

Durante a pandemia, o Brasil bateu recorde de divórcios registrados em cartórios e esse aumento se deu, principalmente, pelo isolamento social que nos foi imposto, consequentemente, com a proximidade e intimidade mais presente no cotidiano, sobreveio também os conflitos e estresses dentro das relações familiares, tanto que esse fator pode ser um dos principais causadores de tantas separações que aconteceram ao nosso redor.

Essa circunstância pode ser mais impactante quando existem frutos na relação: os filhos. Quando eles são pequenos, você pode pensar que não percebem ou não são afetados pelos problemas que possam ter, sejam pessoais ou como casal, mas às vezes crianças percebem até o mais imperceptível. O divórcio ou a separação, embora seja uma situação importante de mudanças, as consequências psicológicas que podem existir não se dão por essa situação em si mas pela forma como os pais lidam neste momento.

Inicialmente, as crianças podem ter muitos sentimentos confusos no momento da separação dos pais, incluindo: surpresa, tristeza, raiva ou até mesmo alívio se descobrirem que as brigas entre os pais irão diminuir. Cada criança irá sentir da sua maneira, dependendo de como isso vai ser comunicado a ela. Fique atento à sensação de vulnerabilidade, medo ou insegurança de ser abandonado pelos pais, sentimentos intensos de tristeza, fantasias de reconciliação dos pais e em sentimentos de culpa pelo divorcio ter ocorrido.

Então, como você pode lidar se está passando por esse cenário?

● Sente-se com as crianças e explique o que vai acontecer: crie uma história que faça sentido e de fácil entendimento;
● Evite minimizar seu sentimento: “Não vai ser tão ruim”; "Não pense nisso". Permita que ela expresse suas emoções, sejam quais forem, tristeza, raiva ou medo. Reitere que sempre serão amados e continuarão sendo uma família, embora agora vivam em casas diferentes.
● Valide sua emoção e responda às perguntas que houver.
● Fale verdades com que eles possam lidar: há detalhes que eles simplesmente NÃO precisam saber, principalmente sobre questões judiciais.
● Antecipe os momentos: não suma de casa, nem invente uma viagem;
● A adaptação deve ser progressiva (ir para a casa do pai/mãe e dormir um dia) e deve ocorrer aos poucos (principalmente quando as crianças são pequenas);
● Entenda que todos vivenciam este momento: o ideal da família foi quebrado e você tem que deixar as emoções fluírem;
● Em ambas as casas, mantenha rotinas, hábitos e regras;
● Tenha um relacionamento cordial: não precisam ser melhores amigos, mas o respeito deve prevalecer;
● Evite culpar: "Por causa do seu pai estamos vivendo isso"; "Foi sua mãe quem queria o divórcio." A separação é do casal;
● Sob nenhuma circunstância fale mal do outro progenitor. Seu filho precisa amar vocês dois sem culpa ou remorso.
● Evite usá-lo como mensageiro ("Pode contar para sua mãe ..."). Nem mesmo faça perguntas para obter informações ("Seu pai tem namorada?"). Os problemas dos adultos são resolvidos entre os adultos. Não crie lados ou coloque-os no meio;
● Comunique-se sempre: tudo relacionado a crianças deve haver consenso;
● Mantenha um estilo parental conjunto: nada de a mãe ser a chata e o pai ser o legal.

Mas e se o processo de divorcio for conflituoso? É mais comum do que se imagina mesmo não sendo o ideal. Felizmente, as crianças se adaptam a diferentes ambientes, regras, e rotinas. Não é preciso tentar prejudicar o outro genitor, os filhos sozinhos à medida que se desenvolvem formam uma construção de quem cada um é, mas lembre-se: Podem deixar de ser maridos ou esposas, mas NUNCA deixarão de ser PAIS.

Observação importante: Procure ajuda profissional caso a criança apresente dificuldades emocionais e comportamentais frequentes.


Rayra Costa, Psicóloga Clínica Infantil CRP 18/06176, formada pela UFMT e pós graduanda em Neupsicologia, residente em Cuiabá. 
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