A arte brasileira que usa meios tecnológicos para recriar dispositivos tem uma visão "open source" do mundo.

"É uma visão de que você está com um patrimônio que você usa e ele deverá ser usado por outra pessoa depois", explicou Giselle Beiguelman, professora da pós-graduação em Comunicação e Semiótica da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica) que desenvolve projetos envolvendo dispositivos de comunicação móvel desde 2001.

Beiguelman falou durante o GloNet, conferência global que ocorreu na quinta-feira (6) sobre as relações entre tecnologia e espaço.

O evento ocorreu simultaneamente nas cidades São Paulo, Istambul, Vancouver, Manchester e Sendai. As palestras locais eram transmitidas virtualmente a outras cidades e a parte paulistana da conferência foi sediada no Masp (Museu de Arte de São Paulo).

A professora usa a noção de "tecnofagia", a apropriação da tecnologia de maneira criativa, o ato de "comer a tecnologia em todas as formas".

"Prefiro a noção de tecnofagia a de gambiarra, acho que a Gambiarra é uma característica cultural brasileira em vários níveis", defendeu. Para ela, a geração atual de artistas brasileiros que usam meios tecnológicos trabalha em uma direção "generosa".

"É você criar obras, que são obras em si e apontam para outras possibilidades de serem recriadas", disse.

Beiguelman citou trabalhos de artistas como Lucas Bambozzi, que concebeu a obra Mobile Crash por meio da qual um sensor "sente" quando alguém entra dentro do espaço determinado pela instalação e toca uma série de sequências de vídeo na tela. "Ele trabalha com sensores, câmeras de presença, dispositivos ultrassofisticados e, ao mesmo tempo, propõe uma interação básica em que só se usa o corpo", explica a professora.

Ela também citou o trabalho de Fernando Rabelo, que substituiu um teclado por palhas de aço para que as pessoas pudessem manipulá-lo de outra maneira, como se fossem alavancas.