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Quarta-feira, 08 de maio de 2024

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Tony Ramos: “Eu não me levo a sério”

Tony Ramos recebeu ÉPOCA duas vezes nas gravações de Passione, a novela das nove da TV Globo. Na primeira, conversamos numa antessala do estúdio, na Central Globo de Produções, o Projac, em Jacarepaguá, zona oeste do Rio de Janeiro. O ator estudava o texto e aguardava sua hora de ir para o set. Na segunda, a entrevista foi durante o intervalo de uma gravação na cidade cenográfica que simula ruelas de ladeira da região da Toscana, Itália – onde se passa parte da novela. Tony falou de seu sucesso de seus 46 anos de carreira, dos personagens na TV e no cinema e de religião.


ÉPOCA – Qual o segredo de ser protagonista por tanto tempo?
Tony Ramos – O segredo é trabalho e, naturalmente, ter prazer no que se faz. Eu adoro fazer novela. Não é apenas o contrato a ser cumprido. Poderia ter recusado alguns papéis ao longo do tempo, mas nunca recusei.

ÉPOCA – Jamais recusou um personagem na TV?
Tony Ramos – Não que eu me lembre. Acho que só me convidam para coisas legais! Eu me apaixono pelas histórias rapidamente e logo mergulho nos personagens.

ÉPOCA – Existe outro ator de TV que faça tantos protagonistas por tanto tempo?
Tony Ramos – Sim, certamente.

ÉPOCA – Quem?
Tony Ramos (pensa algum tempo) – O (Antônio) Fagundes!

ÉPOCA – Talvez. Mas seus intervalos entre uma novela e outra têm sido bem menores que os dele...
Tony Ramos – É, digamos que eu tenha uma continuidade bem contínua (risos). Bem, eu sei da minha importância. Detesto falsa modéstia, como detesto a humildade subserviente, mas e não gosto de me colocar num pedestal. Sou profissional, adoro o que faço, mas eu não me levo a sério. E não gosto nada desse falso glamour que é atribuído à vida do artista hoje em dia. Eu não sou uma celebridade. Celebridade é Shakespeare, é Tom Jobim!

ÉPOCA – Sua vida é muito comum?
Tony Ramos – Sim. É claro que quando eu saio na rua algumas pessoas me param, pedem autógrafo. Mas faço tudo normalmente. Vou ao supermercado, ao cinema. E gosto de ser próximo das pessoas. Os paparazzi me respeitam. Outro dia eu estava na praia e um deles me perguntou se podia tirar uma foto. Eu disse que sim. Interessante ele não ter simplesmente fotografado.

ÉPOCA – Você sempre foi considerado “bom-moço”. Isso ajuda ou atrapalha?
Tony Ramos – Tenho uma vida pessoal estável, estou com a mesma mulher desde 1966 e não abro minha intimidade, não me deixo fotografar em minha casa. Isso e mais os heróis românticos que sempre vivi na televisão se misturaram na cabeça das pessoas. Mas eu sou um cara ético, sim. Isso é a coisa mais importante do mundo para mim. Nunca pisei em ninguém. Jamais invejei outra pessoa. Nem inveja boa, como dizem por aí.

ÉPOCA – Quais são seus hobbies?
Tony Ramos – Sabe que eu não tenho hobbies? A leitura é o que eu mais gosto. Tenho uma pilha de livros esperando um tempo mais livre, além de muitos outros que quero reler. Vejo bastante televisão quando posso. Acordo cedo para ver o Globo Rural, assisto sempre ao Esporte Espetacular. Não perco uma corrida de Fórmula 1. Leio jornais esportivos estrangeiros, como o Corriere della Sera e a Gazetta dello Sport. Antes eu comprava, mas agora leio on line mesmo. Mas não sou muito da internet. Não tenho blog, não tenho twitter. Mas estou up to date com tudo isso. Gosto de estar informado. Também caminho todos os dias na esteira, ou faço transport, em casa mesmo, para manter a forma.

ÉPOCA – Você vive na sanfona?
Tony Ramos – Um pouco. Mas a verdade é que magro eu nunca fui. Mesmo jovem, sempre fui cheinho.

ÉPOCA – Mas hoje você cuida da alimentação?
Tony Ramos – Na alimentação eu sou naturalista. Como naturalmente de tudo! (risos) Adoro comer, não tem jeito. Seguro o que posso. Mas tenho prazer na comida e em um bom vinho.

ÉPOCA – Você sabe cozinhar?
Tony Ramos – Lidiane é a grande cozinheira lá de casa. Mas eu sei fazer bem algumas coisas. Meus molhos são muito bons. E sempre me pedem para temperar saladas. Tenho mão boa para isso. E faço ótimos sanduíches, especiais. Com uma receita na frente, nada me aperta. Mas meu talento mesmo é comer. Sou um gourmet de primeira água, como se pode perceber pelo meu corpinho e pelas sanfonas da minha vida.

ÉPOCA – Você tem personagens preferidos?
Tony Ramos – É muito difícil escolher alguns. São mais de 40. Nino, o Italianinho, nos anos 60, com Juca de Oliveira e minha querida Aracy (Balabanian), que foi minha madrinha de casamento. O Márcio, de O Astro e todo aquele furor nacional em torno do assassinato de Salomão Hayala...E Pai Herói? André Cajarana me marcou demais. Grande Sertão Veredas foi uma virada na minha vida. O público veio junto comigo naquela trama de Guimarães Rosa. Foi quando disseram: olha, ele faz sempre o herói romântico, mas tambéms abe fazer isso...E na Comédia da Vida Privada mostrei que sabia fazer humor também. Edgar só esteve no começo da série, mas foi sensacional.

ÉPOCA – Mas você gosta mais do drama?
Tony Ramos – Dos dois. Comédia ou drama, o que me pega pelo pé é a ideia, a história. Mas, continuando, como esquecer da minha participação em A Vida como ela é, adaptação de Nelson Rodrigues? E os gêmeos de Baila Comigo, Quinzinho e João Vitor? Laços de Família, do Maneco (Manoel Carlos), foi delicioso. Em Torre de Babel, foi maravilhoso fazer o Clementino. Você lembra dele, que mata a mulher e o amante no primeiro capítulo? O grego Niklos, o Coronel Boanerges de Cabocla foram fantásticos também. O vilão Antenor Cavalcanti. E como esquecer de Opash, querida? Enfim, é duro escolher. E ainda esqueci de muito que amei.

ÉPOCA – Ultimamente você também tem feito grande sucesso no cinema. É uma fase?
Tony Ramos – Eu gosto de tudo, não sou de guetos. Também já fiz mais de vinte peças de teatro. Mas a TV me tornou mais popular. Gosto muito de cinema, foi minha primeira paixão. Na Vila Maria, onde me criei, eu ia na matinê de domingo com notas amareladas de dois cruzeiros e me deliciava. Senpre gostei de Oscarito e também do ator italiano Totó – e, que coincidência, agora eu faço personagem com este nome...

ÉPOCA – Você tem grande ligação com a Itália?
Tony Ramos – Enorme. Viajo para lá com frequência há mais de 30 anos. Lidiane é neta de italianos. Aprendi a língua sozinho. Aliás, sou autodidata em francês e espanhol também. Só inglês é que aprendi em cursinho. Quando eu estava na faculdade de Filosofia, na PUC de São Paulo, descobri que ler os poemas de (García) Lorca no original era muito melhor.

ÉPOCA – Então foi maravilhoso gravar Passione por lá?
Tony Ramos – Sim. Foram 150 cenas em 52 locações. Lugares maravilhosos.

ÉPOCA – Certamente estar lá serviu de laboratório para criar o Totó.
Tony Ramos – Olha, eu não sou químico, não faço laboratório (risos). Mas certamente o clima, a conversa com as pessoas, me ajudaram bastante. Totó é bem parecido comigo. É um homem ético, apaixonado, que preza a família acima de tudo.

ÉPOCA – Entre Caminho das Índias e Passione, o intervalo foi bem pequeno.
Tony Ramos – Caminho das Índias terminou em 14 de setembro do ano passado. No dia 29 eu já estava começando a primeiras aulas com a professora de italiano para Passione. Isso aconteceu porque antes mesmo de Caminho das Ìndias começar, o Silvio (de Abreu, autor de Passione) já havia me telefonado com a informação de que sua nova novela seria depois da de Glória Perez. Ele me disse: estou com uma história linda sobre a nossa Itália. Eu não tinha como não topar!

ÉPOCA – Mas, mesmo assim, nestes últimos 40 anos, é difícil um ano inteiro passar e você estar fora da televisão.
Tony Ramos – Vou começar a espassar mais. Não é uma meta pomposa, mas algo que penso de verdade. Quero ter tempo para viajar mais, ler muito. Também penso em escrever roteiros para o cinema e até dirigir ou produzir. Agrada-me a ideia de levantar o Boeing.

ÉPOCA – Já pensou em escrever sua autobiografia?
Tony Ramos – Não. Se escrevesse um livro, acho que seria ficção.

ÉPOCA – Voltando à família, é comum filhos de famosos quererem ser artistas também. Nenhum de seus dois filhos quis. Por que?
Tony Ramos – Não sei dizer. Talvez por eu não glamourizar a minha vida. Quando eram adolescentes, disseram pra mim que queriam fazer curso do Tablado. Eu perguntei: mas vocês gostam disso? Sabem da exposição que a vida artística significa? Eles fizeram algumas peças, a que assisti, e minha filha era até boa comediante. Mas acabaram seguindo outros caminhos. Andréa é advogada e Rodrigo, médico. E ele já me deu dois netos, Henrique, de dez, e Gabriela, de seis.

ÉPOCA – Você é um avô que mima muito os netos?
Tony Ramos – Acho que não. Sou um avô preocupado. Penso muito no futuro deles, quero que sejam bem educados. Acho ótimo que eles gostem tanto dos joguinhos virtuais quanto dos livros. Quando eu passei no concurso Novos em Foco, em 1964, e entrei para a televisão, minha mãe me apoiou, mas disse: não quero filho burro. Terminei meus estudos, quase me formei na faculdade de Filosofia. E guardei esse conselho. Valorizo muito o conhecimento e tentei passar isso para meus filhos, assim como tento incentivar meus netos.

ÉPOCA – Você participa de Chico Xavier, o Filme. Qual a sua religião?
Tony Ramos – Sou católico de família, mas trabalhei minha cabeça a vida toda para ser o homem mais ecumênico do mundo. Nunca fui praticante, me encarei a religião de forma obsessiva, mas tenho uma fé enorme. Sempre perguntei a mim mesmo qual a importância da religião como referência de comportamento. Tenho amigos ateus que são pessoas muito melhores do que gente obsessivamente religiosa que é intolerante e preconceituosa. Acredito que fé não passe por catequese, não se passa fé por cartilha. Pode-se ensinar os ritos da igreja, orações ou mantras. Mas não se ensina a alguém a ter fé de verdade, algo que é intransferível e indissolúvel. Como a que tenho. Mas ela não me tira a razão. Eu acho que a fé gosta da razão.

ÉPOCA – Você chegou a estar com Chico Xavier?
Tony Ramos – Veja só, eu trabalhava na Tupi quando ele gravou o Pinga Fogo. Eu o vi passar pelos corredores. Mas nunca falei com ele. Da mesma forma, quando eu apresentei a missa do papa no Maracanã, nos anos 80, não fui até ele, apesar da emoção. Fique de longe, vendo. Não sou de avançar o sinal quando não sou convidado. Mas, voltanto à fé, eu às vezes tenho conversas com pessoas queridas que já se foram. Não que eu os veja. É algo muito íntimo, que me faz muito bem. Com minha avó, por exemplo, que me criou junto com minha mãe, eu falo sempre. A presença dela é muito importante (se emociona). Sei que muita gente pode pensar: isso é ridículo. Mas eu espero que me respeitem. Porque eu respeito quem não acredita em nada.

ÉPOCA – Seus colegas de profissão são só elogios a você?
Tony Ramos – Sou amigo de todo mundo e tenho bom humor no trabalho, sempre. Estou fazendo o que gosto. Mas a maioria das vezes que me elogiam, enumeram qualidades que, pra mim, deveriam estar na essência do ser humano. O básico. E quando falam bem de mim como ator, fico feliz, com o ego massageado. Mas não me iludo com crítica positiva e nem me abato com a negativa. Acho que é preciso ser estoico com a vida.

ÉPOCA – Você leva no bom humor as piadas sobre seus pelos?
Tony Ramos – Sim. Eu adoro piada. E não politicamente correto, embora ache que certas minorias merecem respeito. E eu sou muito feliz com meus pelos, meu nariz adunco e minha barriguinha.
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