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Sexta-feira, 03 de maio de 2024

Notícias | Ciência & Saúde

AIDS – Jovem de Sorriso fala da experiência de ser portadora do vírus

Ela descobriu aos 20 anos, de uma maneira dramática, que é portadora de HIV. A partir de então, há exatos 8 anos e 4 meses, sua vida mudou completamente. Hoje, com 29 anos, luta pela vida e contra o preconceito, em especial porque quer defender a filha, de apenas 9 anos, que também é portadora o vírus.


REPORTAGEM: Como você descobriu que é portadora do vírus da AIDS?


ENTREVISTADA: Da pior maneira possível. Tive um problema de saúde e dei entrada no hospital. Estava na enfermaria quando a médica chegou e me revelou na frente de vários pacientes que meu exame de sangue tinha dado positivo para HIV.


REPORTAGEM: Qual foi sua reação naquele momento?


ENTREVISTADA: Primeiro eu não acreditei. Nem cheguei a ficar chocada porque tinha certeza que aquilo não poderia estar acontecendo comigo. Depois, é claro, fiquei muito revoltada com a médica pela forma que ela me abordou, falando algo tão grave de uma maneira tão insensível e na frente de tantas pessoas.


REPORTAGEM: Mas você ficou com medo? Não se preocupou em refazer o exame para ter certeza que era um engano?


ENTREVISTADA: Não. Eu estava convicta de que aquilo era um grande absurdo. Fui para a minha casa e exatos 18 dias depois voltei ao hospital para internar minha filha, na época com 1 ano e seis meses, que estava com muita febre e hemorragia. Foi ai que meu mundo caiu!


REPORTAGEM: O que aconteceu?


ENTREVISTADA: Ela estava muito mal e acabou ficando na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Foi ai então que os médicos me pediram autorização para vários exames de sangue e depois de três confirmações acabaram me dando a pior notícia da minha vida: que minha filhinha é portadora do vírus da AIDS.


REPORTAGEM: E desta vez, como foi feita esta abordagem?


ENTREVISTADA: Desta vez, da maneira correta. Ela já estava no quarto, feliz, brincando, sentada em cima da cama com uma luva cheia de ar que as enfermeiras haviam dado a ela. Então, o pediatra chegou, acompanhado de uma psicóloga e uma enfermeira e me revelou o diagnóstico.


REPORTAGEM: E sua reação, nesta segunda abordagem, como foi?


ENTREVISTADA: Totalmente diferente da primeira vez. Eu fiquei desesperada, descontrolada, em pânico. Primeiro porque era com minha filha e não comigo. Segundo porque eu não tive dúvidas desta vez, pois a equipe médica fez todo o procedimento correto, refazendo os exames para ter certeza do diagnóstico.


REPORTAGEM: O que aconteceu então?


ENTREVISTADA: Depois de algum tempo me acalmei e foi então que minha ficha caiu. Se minha filha estava com AIDS, eu também deveria estar e aquele diagnóstico que eu ignorei poderia mesmo ser verdadeiro. Tomei coragem e refiz o exame, a pedido dos médicos que atenderam minha filha. Eu estava mesmo com HIV.


REPORTAGEM: O que passou por sua cabeça neste exato momento em que confirmava que tanto você quanto sua filha eram portadoras do vírus da AIDS?


ENTREVISTADA: Um grande desespero. Na hora pensei que a desgraça poderia ser ainda maior, porque tenho outra filha mais velha, hoje com 12 anos e que ela também poderia ser portadora. Mas, graças a Deus fizemos todos os exames e ela não tem a doença.


REPORTAGEM: Com a confirmação dos diagnósticos, o que mudou em sua vida?


ENTREVISTADA: Tudo. Primeiro, tive que ser forte e contar aos meus pais e familiares, depois tive que enfrentar uma crise em meu casamento. O fato de minha filha mais velha não ter o vírus da AIDS me fez pensar que meu marido havia sido infiel comigo e que ele poderia ter me passado a doença. E foi exatamente isso.


REPORTAGEM: Como você teve certeza disso?


ENTREVISTADA: Porque de tanto eu insistir ele acabou fazendo o exame e constatou que era portador do vírus também. Mais um grande choque para minha vida!


Ele havia sido o único homem com quem me relacionara, desde os meus 14 anos. Mesmo assim ele não admitia que havia me passado a doença e muito menos que havia tido um relacionamento extra conjugal.


REPORTAGEM: Como foi a convivência a partir da confirmação de que ele também era portador?


ENTREVISTADA: Um inferno. Passamos a ter muitas brigas porque ele jamais admitiu que havia pego a doença primeiro. Dizia sempre que eu devia ter sido infectada durante alguma consulta ou procedimento médico ou até mesmo fazendo as unhas.


REPORTAGEM: Você acha que isso é possível?


ENTREVISTADA: Não, absolutamente. Anos depois acabei descobrindo que ele mantinha relacionamentos com outras mulheres e acredito que acabou pegando o vírus de alguma delas e trazendo para dentro de casa, infectando a mim e a própria filha.


REPORTAGEM: Como ele se sentia quanto a isso?


ENTREVISTADA: Indiferente. Não via nele nenhum sentimento de arrependimento ou remorso e este foi um dos motivos do fim de nosso casamento. Nos separamos dois anos depois de descobrir que tinha a doença ele faleceu.


REPORGAGEM: O que você sentiu ao saber da morte do seu ex-marido?


ENTREVISTA: Foi estranho. Ao mesmo tempo em que fiquei com medo por saber que a doença que o matou é a mesma que atinge a mim e a minha filha, fiquei aliviada. Ele não foi um bom marido e o fato dele ter nos transmitido a doença me deixou com raiva e com mágoa. Acho que nunca serei capaz de perdoá-lo, nem tanto por mim, mas pelo fato de minha filha estar doente também.


REPORGAGEM: E como está o seu estado de saúde e de sua filha?


ENTREVISTA: Vivemos normalmente, tomando o coquetel que é fornecido pelo SUS. Não é fácil, pois estes medicamentos causam muitos efeitos colaterais. Mas, é preciso tomá-los rigorosamente. Tenho consciência disso e não deixo de tomar e de dar a medicação para minha filha.


REPORTAGEM: Sua filha sabe que é portadora do vírus da AIDS?


ENTREVISTADA: Não. Quando ela me pergunta sobre os remédios invento alguma desculpa ou digo que são vitaminas. Com apenas 9 anos acredito que ela ainda não tem como entender a gravidade desta doença. Mas, ela já está fazendo acompanhamento psicológico e dentro em breve saberá que é soro positivo por uma psicóloga.


REPORTAGEM: E você, sente-se preparada para este momento?


ENTREVISTADA: Não. Acredito que será o pior momento da minha vida. Mais do que o dia que eu soube que ela era soro positivo e logo depois que eu também era portadora do HIV. Só de pensar o quanto ela irá sofrer com isso fico desesperada.


REPORTAGEM: Além disso, o que mais te aflige?


ENTREVISTADA: O preconceito. O fato de ter AIDS não me preocupa e nem me abala muito, pois tomo a medicação e estou vivendo normalmente com isso. O que me fere, muito mais do que a doença é o preconceito das pessoas. A maneira como me olham, me julgam e me desprezam, como se eu fosse culpada pelo que aconteceu comigo. Eu não tive culpa, fui uma vítima da situação assim como a minha filha.


REPORTAGEM: Qual o seu maior sonho.


ENTREVISTADA: A cura para a minha filha. Não me importo de conviver com esta doença, ser chamada de aidética ou mesmo de morrer por causa disso. O maior desejo da minha vida é que um dia eu possa ver minha filha curada sem que jamais alguém diga ou aponte para ela na rua dizendo com preconceito: ela tem AIDS.
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