A primeira característica lembrada pelos observadores políticos, ao analisarem a pretensão do empresário Dorileo Leal de participar do processo político deste ano, é que o executivo do Grupo Gazeta não quer ser prefeito de Cuiabá tão somente para satisfazer uma vaidade pessoal, senão como forma de resgatar uma dívida que tem com a população cuiabana, que teria lhe proporcionado muito daquilo que ele tem.
Não deixa de ser interessante tal discurso, principalmente por granjear a simpatia do eleitorado, porém ele vai precisar de muito mais do que isso para ter pelo menos uma boa performance neste período que antecede a campanha propriamente dita.
Dele se conhece, por exemplo, parte de uma história edificante sob vários aspectos. Veio do interior para fazer a vida em Cuiabá, trocando uma pequena cidade do médio norte pela Capital do estado. Aqui, começou de baixo, como radialista e jornalista especializado da área esportiva – com algum destaque na profissão, mas nada que pudesse prenunciar a posição de vanguarda que conquistaria no mundo empresarial.
É só após a inauguração da Gazeta que seu nome se projeta, primeiro como o único jornalista representante de um grupo empresarial com interesses centrados na construção civil; em seguida, como o empresário de destaque entre os integrantes desse grupo, depois de provar ter aprendido a dirigir empresas de comunicação com raro tino empresarial. Se naquele início ele foi chamado de modo pejorativo até mesmo de ‘testa de ferro’ do grupo proprietário da Gazeta, hoje é visto como o seu principal executivo - Um sinal inequívoco de que ‘deu a volta por cima’.
Mas o reconhecimento de que não basta assinar uma ficha de filiação para ser candidato ao cargo de prefeito da capital de Estado, um dos mais visados da política por ter o condão de projetar quem o exerce e credenciá-lo a alçar voos mais altos, é talvez um dos detalhes de começo de carreira política com o qual ele já se deparou. Muitos desdobramentos ainda virão - uns mais fáceis, outros extremamente difíceis de ser superados. Ele provavelmente tem despertado muita ciumeira dentro do PMDB e, a esta altura, já terá sido alvejado com freqüência pelo conhecido ‘fogo amigo’, que de ‘amigo’ mesmo só tem o nome.
A própria posição de candidato a candidato sempre depende da evolução das discussões dos nomes considerados com potencial bastante para se eleger. Deve-se lembrar, também, que nem sempre o candidato com maior chance consegue se impor como a escolha oficial do partido ao qual é filiado. Isto quer dizer que, se o PMDB se aliar ao PT, PR, ou ao DEM ou a qualquer outra agremiação que exija a posição de cabeça de chapa para o seu candidato, como condição para apoiar os candidatos peemedebistas em outros importantes municípios, Dorileo verá ir por água abaixo a sua pretensão.
De concreto mesmo, a leitura feita desse período em que se falou com insistência da candidatura de Dorileo Leal ao posto principal do Palácio Alencastro é que, ele ainda não passa de apenas um pretenso candidato a candidato a prefeito.
As críticas que tem recebido, embora já tenha dito e repetido mais de uma vez que não é filho de pai assombrado e não teme nada, ainda são muito tênues ou pouco contundentes para saber se o outro lado conseguirá efetivamente mostrá-lo, durante a campanha, de modo que o seu lado negativo sobrepuje suas qualidades. Afinal, como dizia Tancredo Neves, na política vale mais a versão do que o fato.
Ter ou não ter telhado de vidro, é o que se leva em conta com freqüência quando as conversas giram em torno da candidatura do pretendente a candidato Dorileo Leal. Até agora ele foi estilingue e se acostumou com esse papel privilegiado inerente a posição de capo de um poderoso grupo de comunicação. A partir do momento em que se expuser como candidato, assume a condição de vidraça, com todos os riscos que esse papel representa para um político.
