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Sexta-feira, 03 de maio de 2024

Notícias | Política BR

Sob a pressão de Lula e aquiescência geral, arquiva-se denúncia

Em discurso, Sarney buscou dividir responsabilidades: "Todos aqui somos iguais. Nenhum senador é maior do que o outro"

Sob pressão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, entendimento entre partidos, inclusive da oposição, o Conselho de Ética começou a arquivar ontem as primeiras representação por quebra de decoro contra seu presidente, José Sarney. Em discurso, Sarney procurou dividir responsabilidade com os demais senadores, no qual chegou a duvidar se alguém, entre os presentes, seria capaz de atender o pedido de uma neta - entre as acusações contra Sarney há a de prática desenfreada de nepotismo.

Ao subir à tribuna do plenário para defender-se de acusações, o Sarney (PMDB-AP), apontou sua amizade com o presidente Lula e o apoio que presta ao governo federal para avisar que não há hipótese de renunciar ao cargo. Disse que Lula "está fazendo um governo excepcional, com o apoio estimulante e forte do povo brasileiro". No passado - contou -, "quando nem era amigo de Lula, nem o conhecia pessoalmente", escreveu um artigo em defesa do petista, com o título "A Lula o que é de Lula".

Sarney teve boas razões para se referir de forma elogiosa a Lula por mais de uma vez, no discurso. O presidente está sendo fundamental para que Sarney atravesse essa primeira fase no Conselho de Ética - acredita-se no Senado que a crise pode arrefecer um pouco, mas vai continuar à espreita ao longo do semestre. Lula está certo de que a oposição aproveita-se do episódio para tirar proveito eleitoral mais tarde.

A palavra de ordem do Palácio do Planalto aos senadores aliados é "não deixar Sarney cair". Lula tem sido duro com os senadores, especialmente os do PT. A esses, mandou ou deu pessoalmente um recado que não deixa dúvidas: "Se você não vai atender o meu pedido, então ano que vem faça a sua campanha sozinho, não me convide para nada".

A direção do PT segue na mesma direção e pode criar muitas dificuldades aos candidatos do partido que não obedecerem à orientação do presidente da República. Em São Paulo, aliás, já há quem pense em concorrer ao Senado no lugar do líder, Aloizio Mercadante, que insiste no pedido de afastamento de Sarney, em nome da bancada petista.

O Palácio, no entanto, está bem informado: o placar da bancada do Senado é de virtual empate: seis estão com Sarney, cinco contra o presidente do Senado e um deles - Paulo Paim (RS) - oscila ora a favor e ora contra. Os senadores contrários a Sarney são todos do Sudeste e do Sul, com exceção da acreana Marina Silva, onde é mal vista a condescendência com os atos de Sarney.

Atos que ele procurou explicar um a um no discurso de ontem. Sarney repetiu a estratégia usada em outros discursos de defesa: distribuiu a culpa pelas irregularidades administrativas na Casa com os demais senadores, com os ex-presidentes do Senado e com o DEM, que ocupa a primeira-secretaria. Deu ênfase ao argumento de que é vítima de uma campanha midiática.

O discurso de Sarney, de quase uma hora, estava previsto para ser feito no mesmo horário em que iniciaria a reunião do Conselho de Ética. O objetivo era dispersar os líderes partidários e evitar o acirramento do debate em plenário, após as declarações de Sarney. Os aliados do pemedebista também queriam evitar que a reunião do conselho fosse transmitida pela TV Senado. Se fosse no mesmo horário, só seria exibido o plenário.

Mas tudo foi negociado, inclusive com PSDB e Democratas. Sarney falou primeiro. Depois, os governistas - com o apoio do DEM, partido que havia pedido a renúncia de Sarney - derrotaram a proposta de se debater o discurso de Sarney no plenário e começou a disputa no Conselho de Ética, onde o governo detém maioria. Tudo resultados das conversas que eram realizadas desde o domingo entre as siglas. É praticamente consensual no Senado que a crise está sendo ruim para todos.

"Todos aqui somos iguais. Nenhum senador é maior do que o outro e, por isso, não pode exigir de mim que cumpra a sua vontade política de renunciar", disse Sarney, reafirmando uma decisão que ele só consolidou mesmo entre sexta-feira e domingo passados - havia petistas não-senadores a bordo do avião que trouxe Sarney e a mulher, Marly de São Paulo - onde ela se tratava de fraturas sofridas num acidente -, para Brasília. Conversa depois relatadas e analisadas com o PT e o Palácio do Planalto. Marli também estava intransigente: Sarney não deveria renunciar.

"Permaneço pelo Senado para que ele saiba que me fez presidente para cumprir o meu mandato", declarou a um plenário lotado não só por senadores, mas também por alguns deputados. O parte destinada ao público foi fechada, para impedir protestos e somente jornalistas tinham acesso a esse espaço.

Sarney leu um discurso de quase 13 páginas e apresentou dados comparativos de sua gestão com a de outros presidentes do Senado, com dados projetados em um telão. Dessa forma, tentou dividir a responsabilidade dos atos administrativos secretos com seus antecessores e disse que, se os outros não sabiam dos atos secretos, não havia motivos para que ele fosse acusado pelos desvios. "Nenhum de nós, presidentes, sabia da não publicação desses atos".

"Estão vasculhando minha vida, desde o meu nascimento e, não encontrando nada, invadem minha privacidade e abrem devassa que se estende até a minha família inteira", reclamou. "Acusam-me de nepotismo. Essa é a grande acusação que me é feita. Há 55 anos no Congresso, nunca adotei a norma de chamar parentes para a minha assessoria". E citou outros senadores que também indicaram nomeações.

Sarney disse que desde que assumiu o mandato, há seis meses, "só corrigiu erros e tomou medidas saneadoras".

O governo acompanhou com alívio o que classifica de "arrefecimento da crise do Senado". O Executivo tentará pautar a agenda do Senado com o encaminhamento do marco regulatório do pré-sal para o Congresso, "para mudar o foco da crise".

O Planalto e petistas tentaram disfarçar a participação do presidente na crise. Nega-se inclusive que o Planalto tenha desenhado a estratégia mais belicosa do PMDB e aliados, nos últimos dias. "Mas se isto deu certo, ótimo", afirmou um petista. Na verdade, todos os líderes, governistas e da oposição, participaram de conversas para arrefecer a crise no Senado. Reuniões acompanhadas de perto pelo Planalto. Inclusive a combinação de preservar o líder do PMDB, Renan Calheiros, da batalha em plenário, tarefa assumida por Fernando Collor. Algumas ações menores podem correr no conselho. A oposição vai recorrer, perder e fica por isso mesmo. A menos que um novo e grave fato venha a ocorrer. (Colaborou Paulo de Tarso Lyra)
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