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Sexta-feira, 26 de abril de 2024

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Dossiê Futebol: dirigentes e torcedores elencam dificuldades e tentam explicar ‘fracasso’ pós-Copa

Foto: Rogério Florentino Pereira/ Olhar Direto

Dossiê Futebol: dirigentes e torcedores elencam dificuldades e tentam explicar ‘fracasso’ pós-Copa
A Arena Pantanal foi construída com a dura missão de ser o ‘carro chefe’ para alavancar o futebol mato-grossense. Quase dois anos após a Copa do Mundo de 2014, pouca melhora foi vista. Agora, com o estádio cheio de problemas e liberado para apenas 10 mil pessoas, a Federação Mato-grossense de Futebol (FMF) sofre para conseguir renda, que seria posteriormente investida nos clubes. Para o presidente da FMF, João Carlos de Oliveira, a liberação da praça esportiva poderia auxiliar no incremento e melhoria dos times e estrutura.


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Para tentar entender o que se passa a reportagem do Olhar Direto ouviu a Federação Mato-grossense de Futebol, dirigentes das equipes do Estado e também torcedores da nova e velha geração. Entre os pontos debatidos estão patrocínios, categoria de base, investimentos e dificuldades.
 

 
Em maio de 2010 teve início a demolição do Estádio Governador José Fragelli, o Verdão, para a construção da Arena Pantanal. Prometido como um marco da história do futebol mato-grossense, o estádio foi concebido para receber quatro partidas da Copa do Mundo de 2014 e depois ser usado pelos clubes do Estado. Criticada pela imprensa nacional, a praça sempre foi apontada como um elefante branco, mas até o ano passado era uma das mais utilizadas no período pós-Mundial.
 
Porém, após a uma inspeção minuciosa, feita pela equipe do governador Pedro Taques (PSDB), foram descobertas diversas irregularidades. Laudos não foram renovados e até o início de junho deste ano a praça esportiva só estava liberada para 10 mil pessoas, sendo que a capacidade é de 43 mil. Dois anos após a realização do Mundial de 2014, a Arena Pantanal continua em obras e não foi entregue ao Executivo.
 
“Nem tudo que se escreve, fala ou discursa é verdade. Eu tenho minhas fontes, o governo pouco ligava para o futebol quando trouxe a Copa do Mundo. Queriam aproveitar o Mundial para mostrar as potencialidades daqui, queriam tirar proveito para melhorar a infraestrutura da Capital. Se fizeram tudo errado, não é culpa minha”, disparou o presidente do Luverdense, Helmute Lawisch.
 

 
Após um longo período recebendo partidas das séries A, B, C e D do Campeonato Brasileiro, além de confrontos da Copa do Brasil e até amistoso da seleção olímpica, a Arena Pantanal parou. O último grande evento do estádio foi realizado em julho do ano passado, quando Ponte Preta e Palmeiras duelaram. Na ocasião, foram 11.074 torcedores. De lá para cá, muitos clubes pediram, mas com o estádio em péssimas condições nenhum outro grande jogo foi realizado.
 
Este, inclusive, é um dos problemas apontados pela Federação Mato-grossense de Futebol. Segundo o presidente da FMF, João Carlos, 5% da renda de toda partida no Estado pertence à federação: “Em São Paulo (SP), em apenas um jogo os clubes arrecadam R$ 2 milhões, por isso que a interdição parcial da arena nos prejudica. Temos a vontade imensa de trazer jogos grandes para cá, já que isso gera renda para a entidade, que posteriormente é investida nos clubes daqui”.


 
“Nos três jogos do ano passado, foram R$ 100 mil arrecadados. Com isto, conseguimos investir no nosso futebol e subsidiar algumas despesas dos clubes no Mato-grossense de 2015. Este ano, tivemos mais de 20 propostas de clubes como Botafogo, Flamengo, Fluminense e Vasco que queriam jogar aqui, mas ficamos de mãos atadas”, revelou o presidente.
 

 
Em 2015, a federação conseguiu um patrocínio de R$ 600 mil da Gazin, que foi utilizado para subsidiar despesas dos clubes. Porém, para este ano, o patrocínio não foi renovado, o que dificultou ainda mais a realização da competição: “Em 2016, a nossa única investidora foi a TV Centro América, que ajudou com R$ 326 mil, utilizado para pagar taxa de arbitragem, um custo a menos para os times. Continuamos tentando melhorar, enfrentando a crise. Tudo dentro das possibilidades. Sem dinheiro não se faz futebol”, pontuou João Carlos.
 

 
Segundo a FMF, mesmo com todas as dificuldades foi possível ter um crescimento. A federação era a 22ª do ranking há cinco anos e agora ocupa a 14ª posição. Para que continue nesta crescente, o presidente tem a receita: “Os nossos times precisam de acesso, boas campanhas. Precisamos ter planejamento. Além disto, as prefeituras e o governo têm de olhar mais para o esporte. Os COTs (Centros Oficiais de Treinamento) estão abandonados e poderiam estar ajudando. O presidente do Operário esteve aqui reclamando que não tem lugar para treinar”.
 
Para o presidente do Luverdense, Helmute Lawisch – que também ficou à frente da FMF durante algum tempo -, faltam incentivos e participação de empresários e do poder público no futebol: “Em Estados menores que o nosso eles enxergaram que o esporte faz bem para a sociedade”. Helmute lembrou ainda que é preciso credibilidade para que as empresas comecem a investir nos clubes.
 
A falta de estrutura no futebol mato-grossense também rendeu ações na Justiça (mesmo que de forma amadora). O processo (nº 994/2011), que tem como representado o jovem L.K.P.S., denuncia que o até então atleta do Mixto Esporte Clube teria sofrido uma grave lesão durante uma partida (com fratura em seu joelho direito) e não teria recebido “atendimento por não haver médico por parte das equipes e muito menos por parte da Federação Mato-grossense de Futebol, tendo sido submetido apenas à medicação injetável sem qualquer prescrição médica, administrada por farmacêutico”.


Torcedores quebraram um dos portões de entrada durante a final do MT de 2015, que teve entrada a R$ 2.

Ainda conforme o documento, sete dias depois – após a inércia das partes citadas – seus pais o levaram até o Hospital Ortopédico para consulta, onde foi constatada a fratura e a necessidade de cirurgia ortopédica, tendo sido esta realizada no Hospital Bom Jesus, com a colocação de vários pinos, devido ao tipo de fratura.
 
Por conta disto, o atleta entrou com um pedido de indenização pelos danos materiais e morais sofridos. Além disto, ainda requereu a quantia de R$ 545,00/mensais pelo abandono do autor. No processo, a FMF rebateu as acusações dizendo que “não teria responsabilidade pelo evento ocorrido”. Já o Mixto, aduziu que “havia ambulância com equipe médica estacionada no campo, e que não há provas nos autos que possam responsabilizar o requerido”.
 
O juiz Ricardo Nicolino de Castro entendeu que “não há como negar que a conduta negligente do Mixto configura descumprimento do dever jurídico que os clubes de futebol têm de dispensar aos seus atletas” e que “perdeu a sensibilidade no trato com seus atletas, e sua negligência, caracterizada pela conduta omissiva, constitui, no mínimo, concausa para o agravamento da lesão do autor”. Sendo assim, ficou determinado que a FMF e o clube pagassem solidariamente o valor de R$ 25 mil ao atleta, além das custas processuais e honorários advocatícios em proporção (50%). O processo segue correndo, já que os réus recorreram em segunda estância em fevereiro deste ano.
 

 
Conforme a federação, os times começaram a olhar para as categorias de base como forma de tentar melhorar o seu futebol. A antiga ‘Copa do Governador’ foi modificada e agora tem como base evoluir os jovens jogadores: “O Luverdense esses dias estava jogando com quatro garotos da base como titulares. Isso é o reflexo de um bom trabalho. Quando os times formam atletas, economizam na contratação e podem investir o dinheiro em outras áreas”, garante o presidente.
 
“Fomos campeões mato-grossense com cinco atletas formados no Luverdense, sendo que quatro deles eram titulares. Porque os outros não investem? Não sei, isso você teria que perguntar para eles”, afiançou Helmute.
 
O presidente da Associação Leões da Colina (Aleco), responsável pelo departamento de futebol no Clube Esportivo Dom Bosco, ressaltou que os clubes parecem estar iniciando uma reestruturação e reorganização no futebol regional: “prova disso é o surgimento da Aleco, que cuida do futebol profissional e das categorias de base do Clube Esportivo Dom Bosco, onde é formada por torcedores de varias áreas de atuação. Acredito que o investimento que fazemos na nossa base é proporcional ao investimento que fazemos no profissional”.
 

 
Como o nível do futebol mato-grossense ainda é baixo, em comparação aos grandes centros, os torcedores pouco vão ao estádio e se apaixonam cada vez menos pelos clubes mato-grossenses. Prova disto é a baixa média de público durante o Estadual, principalmente na Capital: “Nosso futebol ficou por muito tempo fora do cenário nacional e consequência desse hiato, foi a aproximação dos nossos torcedores a equipes de fora de Cuiabá. Com a chegada da tecnologia, as pessoas possuem acesso em tempo real ao futebol de outros países que possuem investimentos infinitamente maiores que o nosso e que consequentemente são mais atraentes que os daqui”, explicou o presidente da Aleco, responsável pelo Dom Bosco.
 
Para o operariano Gian Rodrigues, 23 anos, as proibições nos estádios deixou a paixão regional mais ‘chata’: “Os torcedores não podem mais fazer aquela festa no estádio. Os instrumentos musicais que trazem um clima diferente também foram proibidos, nem bandeira com mastro pode levar. Em São Paulo são liberados os instrumentos, enquanto que no Rio de Janeiro os torcedores podem entrar com bandeiras”.
 
“Eu com 23 anos fui a vários jogos do Mixto e Operário com públicos acima de 10 mil pessoas no antigo verdão. O valor dos ingressos também é algo complicado, tem jogos do estadual que o ingresso chegava a ser R$ 30, pense pegar isto em meio a esta crise?”, questiona o jovem operariano.

Martinho Moisés dos Santos, 46 anos, e apaixonado pelo Mixto explica que "um dos motivos para esta 'pindaiba' dos times daqui foi o roubo que eles sofreram nas mãos de muitos presidentes, principalmente os de maior torcida. Os clubes não tem uma sequência, só restaram dívidas e quando eles entram pra jogar, colocam a cara, passam vergonha".

"Não da pra chamar o amigo pra ir ver um jogo destes times daqui, você passa vergonha. O cara vai preferir ir ver jogo da série A ou campeonatos internacionais. Ai você chega na Arena Pantanal e tem de pagar R$ 7 em uma garraga de água ou é obrigado a tomar cerveja sem alcoól. Os jogadores profissionais têm de sobreviver no segundo semestre jogando campeonatos amadores. Falta estrutura, alguém que venha e transforme Mixto e Operário em clubes empresas. É só olhar o Luverdense e o Cuiabá como estão, com uma boa administração", finalizou o mixtense.



Últimos campeões do Mato-grossense:
    ► Luverdense - 2016
    ► Cuiabá - 2015
    ► Cuiabá - 2014
    ► Cuiabá - 2013
    ► Luverdense - 2012

    ► Cuiabá - 2011
    ► 
União Rondonópolis - 2010

 
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