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MORTE TRÁGICA

Dançava balé e planejava abrir sorveteria com namorado, conta amiga de Maíra em entrevista exclusiva

21 Jan 2017 - 11:50

Da Redação - Paulo Victor Fanaia Teixeira

Foto: Acervo de amigos

Maíra, ao meio, com sua equipe de balé

Maíra, ao meio, com sua equipe de balé

“Cheirinho de Minha Terra! Mato Grosso”, postou em seu perfil no Facebook Maíra Lidiane Panas Helatczuk, 23, em 28 de dezembro de 2016 , quando visitou sua mãe, a também mato-grossense Maria Hilda, em Juína (a 750 km de Cuiabá). A postagem expressava a alegria que Maíra sentia ao visitar sua terra. Ela morava há cerca de dois anos em São Paulo, capital. Desde agosto do ano passado, cursava fisioterapia na unidade Paraíso da Universidade Paulista (Unip) e trabalhava como fisioterapeuta no hotel Emiliano, do empresário Carlos Alberto Fernandes Filgueiras. Praticante de dança, para completar a renda ensinava balé para crianças no bairro da Mooca, em SP, fabricava e vendia sucos detox na faculdade e fazia apresentações de dança do ventre na casa de chá egípcia Khan El Kalili, na capital paulista.

 
Ao Olhar Direto, com exclusividade, a amiga de Maíra, Ieda Barreto, ajuda a constituir a verdadeira identidade da jovem que poucos conhecem: filha de Maria Hilda e de Vitório Helatzuck e namorada do marceneiro Rodrigo Santo, e que teve a vida ceifada pela maior tragédia aérea envolvendo um membro do judiciário brasileiro.
 
Maíra conquistou como presente de aniversário para sua mãe a realização de um sonho, levar Hilda para conhecer o litoral fluminense. O voo ia para Paraty, no Rio de Janeiro, no último dia 19. Nele, também estava Teori Zavascki, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF). Maíra não o reconhecera, sabia que em seu voo havia apenas “um senhor muito chique”, brincou com os amigos no Whatsapp, em seus últimos diálogos antes do acidente.

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“Maíra queria levar a mãe para aproveitar o que era bom em São Paulo e mostrar o que era a vida dela aqui, mostrar os amigos, a cidade, mostrar que ela estava bem vivendo em São Paulo, que tinha bons amigos por perto e que estava segura. A preocupação da mãe de Maíra era que se fosse para estar em uma metrópole, que ficasse ao menos rodeada de pessoas que lhe passavam confiança”, conta Ieda Barreto ao Olhar Direto.
 
Especialista em tango e zouk, Maíra Panas era apaixonada pela dança. Há cerca de dois anos ganhou uma bolsa de estudos para dançar balé da Suíça, mas um pequeno acidente, já no aeroporto, lhe retirou das mãos a possibilidade da ida. Quando se dirigia à pista de embarque, passou mal, desmaiou e fraturou o pé. A jovem precisou permanecer no Brasil. Após muitas sessões de fisioterapia, conseguiu retornar para o que mais lhe dava prazer: a dança.

“Eu tenho casa, mas não tenho lar. Não me permito ficar muito tempo por onde passo, estou sempre de passagem. Minha distância, esta frieza, é apenas um mecanismo de defesa contra o estranho e angustiante. Dentro sou areia e vento. Sou cigana de partida, nunca de chegada. Meu único planejamento será não planejar”, postou Maíra em seu Facebook, no dia 30 de dezembro de 2016.
 
Apaixonada por livros, seus hobbies eram a espiritualidade, sua coleção de relíquias e os discos de vinil. Maíra mantinha ainda um blog na internet, onde compartilhava um pouco de sua vida. A jovem não escondia seu desgosto pela política. “Não vou dar moral para hipócritas, políticos corruptos, ou modinhas. Não quero saber dos falsos ou mentirosos e, muito menos, daqueles que medem as pessoas pela grana ou carro que possuem”, tampouco seu amor por sua mãe, Hilda. “A única que não importa a circunstância, tempo ou dificuldade, continuará comigo”, “mãe é o Deus de cada um”.
 
“Era uma menina lutadora, que queria se realizar como fisioterapeuta, ajudar a mãe e os amigos que moram em Juína. Sua intenção era crescer para ajudar os outros. Ela frequentava minha casa por conta da faculdade, pois eu moro do lado, então tudo era motivo para nos reunirmos, a Maíra criou um vinculo conosco e acabei conhecendo a vida dela, o namorado dela, a casa e um pouco do trabalho. A gente não falava muito de vida pessoal, mas de diversão. Principalmente, gostava de vê-la dançando. Adorava dançar e gostava que a gente a visse dançando. Esse era o prazer dela”, narra.

                           
Maria Hilda, última à esquerda, Maíra ao meio ao lado de Ieda, última à direita. 
 
Nos últimos dias, Maíra estava feliz: comemorou o aniversário da mãe na casa de Ieda Barreto e realizaria o sonho da mãe: conhecer o mar. “A gente fez a festa para a mãe da Maíra no dia 14, um jantarzinho, só para não passar em branco. Foi o aniversário de 55 anos dela e nós reunimos as pessoas mais próximas, a Letícia, o Patrick e eu, os amigos. A mãe dela veio a São Paulo para conhecer a vida da Maíra e a nós, que éramos pessoas de quem Maíra falava muito e a quem ela recorria quando precisava de qualquer coisa”, consta Ieda.

Poucos dias depois, o grupo, em companhia da visitante de Juína, iria curtir o verão no litoral. “Estávamos combinados de irmos para Riviera de São Lourenço, praia do litoral norte de São Paulo, onde Patrick tem um apartamento. Íamos para lá passar o fim de semana e levar a mãe para conhecer um pouco do litoral. Maíra não poderia tomar sol (por conta da tatuagem que tinha feito recentemente), e falou que iria para Santos, na casa de Letícia, não sabia se iria para Riviera. Até então ela não sabia que a viagem (para Paraty) seria a trabalho”, conta Ieda.

Com a solicitação do patrão Carlos Alberto para que Maíra e o namorado, Rodrigo, viajassem com ele, para Paraty, aproveitando o hotel e trabalhando como fisioterapeuta, a jovem teve então a ideia de solicitar que, ao invés de Rodrigo, fosse sua mãe, Hilda. Seria a oportunidade de presenteá-la.  

“O Carlos sempre viajava, segundo Rodrigo me dizia, com uma fisioterapeuta plantonista, por causa das dores no ciático e nas costas que sentia. Neste voo foi a Maíra, mas não era sempre ela quem ia, foi somente desta vez, infelizmente. Coincidentemente, a mãe dela estava aqui e Maíra queria presentear a mãe com essa viagem. Ela pediu para Carlos, que abriu essa exceção. Elas iriam passar apenas o fim de semana, iriam na quinta-feira e voltariam na segunda”, conta Ieda. “O Rodrigo na verdade era quem iria nessa viagem. Eles dois são amigos do patrão da Maíra, que criou esse vínculo afetivo com eles por serem dois lutadores, sentia admiração mesmo. Carlos Alberto tornou-se amigo de Maíra e Rodrigo”, acrescenta.
 
A amiga revela mais detalhes sobre a vida da jovem ao lado dele. “Ela morava com Rodrigo Santo há um ano e meio. Antes de sair eles tiveram uma briguinha de casal e ela deixou uma carta demonstrando que ainda assim estava tudo bem e que eles iriam continuar juntos”.
 

* Rodrigo Santo mostrando carta que jovem deixou ao sair para voo em Paraty. 
 
Sobre a vida do rapaz, a amiga conta. “Rodrigo Santo é formado em administração de empresas, possui uma marcenaria, eles estavam juntos e iriam montar uma sorveteria, onde ela venderia os sucos detox dela. Ontem, às 22h, estivemos no aeroporto de Guarulhos, onde fui recepcionar, com o pessoal do hotel de Carlos Alberto, o pai da Maíra. Levei o Rodrigo, até para conhecer o pai dela. Juntos eles foram para Angra dos Reis com a equipe do hotel. Rodrigo está inconformado. Como todo casal briga, ela saiu sem se despedir e ele estava aguardando a volta, foi um choque para ele. Maíra estava muito feliz, pois sempre dizia que queria cuidar de Rodrigo assim como ele cuidava dela, eram muito parceiros. A Maíra deve ter ficado feliz de termos ido atrás de Rodrigo para dar esse suporte e esse apoio. Ele está no necrotério neste momento (10h do dia 21/01). Só agora que ele conseguiu dormir, depois de dois dias”, encerra.

Neste momento, familiares, amigos e colegas de trabalho aguardam a liberação do corpo de Maria Hilda, para então despacharem os corpos para Juína. O velório será realizado na capela mortuária da AME. “Vai o pai e estamos vendo se Rodrigo vai junto”, acrescenta Ieda Barreto.
 
* Maíra com grupo da faculdade de Fisioterapia em São Paulo.
 
Sobre os comentários maldosos nas redes sociais, por pessoas que insinuam que jovem levaria uma vida de prostituição, Ieda Barreto defende a memória de sua amiga. “Estou sabendo dos comentários e por isso mesmo pedi autorização à Kelly (irmã de Maíra) para falar sobre quem ela era realmente. Esses comentários vão existir. Imagine, era uma menina bonita, linda, inocente e que ganhou do presente de um amigo um ensaio de fotos. Em nenhum momento em seu Facebook diz que ela é garota de programa ou que possui má índole. As pessoas interpretam do jeito que querem. São pessoas que veem os outros com maus olhos, seja Maíra, seja qualquer outra mulher. No avião estava o ministro, mas a Maíra, a mãe dela e nem eu sabíamos quem era aquele senhor. Falar as pessoas podem falar o que quiserem, isso não vai mexer com a gente”, concluiu.
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