O governador afastado do Distrito Federal, José Roberto Arruda (sem partido, ex-DEM), apareceu na janela da sala onde está preso, no prédio da Polícia Federal, na noite desta terça-feira (16).

O escândalo do mensalão do DEM de Brasília começou no dia 27 de novembro, quando a Polícia Federal deflagrou a operação Caixa de Pandora. No inquérito, o governador José Roberto Arruda é apontado como o comandante de um esquema de distribuição de propina a deputados distritais e aliados.

Em frente ao prédio, apoiadores rezavam e gritavam. O governador afastado apareceu várias vezes. No sexto dia de prisão, ele vinha até a janela, saía, voltava e surgia de novo em meio à persiana. Pouco antes, Arruda jantou com a primeira-dama. Durante o dia, só recebeu a visita do advogado.

Quem também pretende visitá-lo na Polícia Federal é Paulo Octávio, que vive um momento delicado. Desde que assumiu interinamente o comando do DF, a situação do governador em exercício só tem se complicado com as suspeitas.

Em depoimento à polícia e ao Ministério Público, o ex-secretário de Relações Institucionais, Durval Barbosa, contou que entregou R$ 200 mil ao então vice-governador. Seria dinheiro de propina paga por empresários.

Em um dos vídeos gravados por Durval, o diretor das Organizações Paulo Octávio, Marcelo Carvalho, fala sobre pagamentos.

Durval – Aqui tem R$ 6.600.
Durval – Tem que ser muito direitinho mesmo.
Marcelo – Depois o Toledo traz de volta.

Toledo é Marcelo Toledo, policial civil aposentado que na gravação estaria, em nome de Paulo Octávio, supostamente pedindo mais dinheiro.

Toledo – Paulo Octávio pediu pra ver se manda pra ele alguma coisa hoje.
Durval – Hoje não.

Em outro vídeo, Gilberto Lucena, dono de uma das empresas suspeitas de financiar o suposto esquema de corrupção, diz com quanto Paulo Octávio ficaria.

Gilbert – Paulo Otávio tem quantos aí?
Durval – Tem 30%.

O Democratas, que vinha poupando Paulo Octávio, passou a pressioná-lo desde a prisão de Arruda. Alvo de quatro pedidos de impeachment na Câmara Legislativa, ele poderá enfrentar um processo de expulsão no DEM.

“Eu sou a favor da expulsão dele do partido. Ele tem que sair do partido. Tem que haver uma intervenção no diretório do Distrito Federal. Tem que fazer uma assepsia completa e ninguém do Democratas pode participar do governo”, afirma o senador Demóstenes Torres (DEM).

Os pedidos incluem ainda a retirada de todos os membros do Democratas do GDF e a intervenção no diretório regional. O secretário local não vê motivos. “O diretório de Brasília vai reagir com todos os instrumentos necessários para evitar esta intervenção. Nós não sabemos nem de que estamos sendo acusados", diz o secretário-geral do DEM-DF Flávio Couri.

Paulo Octávio passou o feriado articulando em duas frentes. Numa delas, para evitar a expulsão do DEM. Chegou a ligar para o senador Demóstenes Torres, mas não adiantou. O pedido vai ser mesmo apresentado à Executiva Nacional.

O governador em exercício também se dedicou também a costuras políticas. Participou de reuniões para buscar apoio, inclusive entre os antigos aliados. Um encontro com 12 partidos ocorre quarta ou na quinta-feira.

Paulo Octávio também aguarda a confirmação de uma reunião com o presidente Lula na tarde desta quarta (17). O governador em exercício vai pedir apoio para garantir a governabilidade.


Reunião

A reunião da Executiva Nacional do Democratas, que deve analisar o pedido de expulsão de Paulo Octávio e a dissolução do diretório regional, está prevista para terça-feira que vem. A executiva deu prazo até amanhã, para os filiados deixarem os cargos de confiança no GDF. Quem não seguir a orientação poderá ser expulso do partido.