Olhar Direto

Quinta-feira, 25 de abril de 2024

Opinião

A nova dinâmica do poder na era Bolsonaro

Votei em Jair Messias Bolsonaro. Pelo bem da democracia (o pior sistema excetuando-se todos os outros) era importante que os governos de esquerda fossem substituídos por uma nova visão de mundo, alinhado à defesa das liberdades individuais e economia de mercado, ou seja, um pouco da postura política conservadora de entender a estrutura da realidade. Os governos de esquerda, por definição possuem em seu DNA a cosmovisão do pensamento revolucionário: o passado nada nos ensina e tudo está justificado no presente em nome de um amanhã idealizado. Não é assim que o mundo funciona.

Em seu quinto mês de governo, Bolsonaro já encontra ferrenha resistência por forças que atuam dentro e fora do seu staff. Podemos apenas conjecturar sobre as intenções existentes sob cada ato produzido pelos diversos atores que integram os poderes da república, mídia, militantes e demais núcleos significativos. Individualmente, com a massificação e ampliação das vozes individuais via redes sociais, conjuga-se uma miríade de opiniões, análises, palpites, birras, picuinhas e divulgação de mitos e narrativas que, com boa ou má-fé, informam e desinformam ao mesmo tempo.

Olavo de Carvalho x General Santos Cruz x Carlos Bolsonaro abalaram os bastidores do poder nas últimas semanas. O Professor Olavo desistiu do embate e manifestou-se recentemente em silenciar por algum tempo. Acrescente-se o Decreto que flexibiliza o porte e posse de armas de fogo; o alinhamento com os EUA e Israel; a Medida Provisória 870 da reforma administrativa, cuja validade expira em junho e, caso o Congresso Nacional não vote, Bolsonaro terá que governar com a estrutura administrativa de 31/12/2018, ou seja, 29 Ministérios; o contingenciamento do orçamento que gerou a polêmica sobre “cortes” de 30% nas Universidades (na realidade foi um contingenciamento de 30% nas despesas discricionárias das Universidades que representam apenas 12% do orçamento delas, gerando um impacto final de apenas 3% do orçamento) e por aí vai...

A política no Brasil sempre foi sórdida e utilizada mais como ferramenta de fazer negócios privados utilizando-se do aparato governamental que o contrário. O Governo petista, representante das esquerdas, apresentou-nos de forma didática (a operação lava-jato é reveladora nesse sentido) aquilo o senso comum sempre nos alertou: as esquerdas, pela sua própria natureza, não fazem a menor ideia de como conduzir uma nação rumo à prosperidade econômica sem comprometer a liberdade individual. O melhor modelo que apresentam hoje é a China. Alguém aí quer morar na China? Ou preferem assentar azulejo na construção civil dos Estados Unidos, mas terem liberdade? Essa é a diferença. Foram os Estados Unidos que enriqueceram a China e não o contrário! O que os governos de esquerda são experts é gastar (e mal) os recursos arrecadados mediante política fiscal. Gastarmuito mais do que arrecada é o mantra deles. Claro, isso é um clichê, mas, perceba leitor, está sendo utilizado nesse momento contra o governo Bolsonaro, no momento em que este procura realizar uma política fiscal de austeridade por absoluta imposição da realidade. Mas, a realidade nunca foi um bom parâmetro para as esquerdas!

Por mais paradoxal que possa parecer, Bolsonaro vem sofrendo revezes em seu governo justamente por tentar cumprir suas promessas de campanha. Entre elas estava a de estabelecer uma nova relação do executivo com o legislativo, que não fosse a nociva troca de favores ou presidencialismo de coalizão, raiz da corrupção. O Congresso resiste e se metamorfoseia no sentido de continuar sua existência fingindo mudar para continuar do mesmo jeito.

Analistas falam agora em “parlamentarismo branco”, ou seja, um eufemismo para dizer que o Congresso vai assumir determinadas pautas encaminhadas pelo Executivo, assumindo sua autoria, como por exemplo, uma PEC paralela da reforma da previdência, outra para reforma tributária e assim por diante. Nesse sentido, esvaziaria o executivo de ser o indutor das reformas necessárias, colocando-o como ator coadjuvante, ao tempo em que enfraquece o Presidente em eventual processo de reeleição.

A frase do Deputado Federal Paulinho da Força, dita em um arroubo de sincericídio, ilustra magistralmente a leitura acima, uma vez que sintetiza o pensamento dos partidosintegrantes do agora chamado “centrão”: “[uma economia] de R$ 800 bilhões, como ele [Bolsonaro] falou, garante de cara [a reeleição do Presidente]. Nos últimos três anos de mandato ele teria R$ 240 bilhões para gastar, ou seja, garantiu a reeleição”.

Essa declaração foi dada no Vale do Anhangabaú (SP) em 1º de maio. Para Paulinho a reforma da previdência deve gerar uma economia de no máximo R$ 500 bilhões PARA NÃO SUBSIDIAR A REELEIÇÃO DE BOLSONARO (disponível em www1.folha.uol.com.br. acessado em 17/05/19). Pergunto ao estimado leitor se ele tem alguma dúvida ser esse exatamente o raciocínio da oposição e parte da base aliada do governo.

Lula governou sem oposição, isso é um fato. Bolsonaro governa tendo o PT, mesmo enfraquecido como oposição (no que eles sabem fazer de melhor). A diferença é que o PT, antes de chegar ao poder, venceu a guerra cultural. Ocupou espaços na sociedade organizada (sindicatos, universidades, escolas, mídia, aparelhos de estado etc) produzindo no inconsciente coletivo o senso comum da supremacia do socialismo sobre qualquer outra visão de mundo. Ou seja, o PT, antes de obter o poder do Estado, como disse Flávio Gordon (Corrupção da Inteligência, 2017) “já detinha em larga medida o poder da cultura, a capacidade de moldar o imaginário coletivo, impor narrativas e definir os termos do debate público. O mensalão e o Petrolão foram a expressão, na política, da hegemonia que a esquerda conquistara na cultura. Foram a tentativa de transpor essa hegemonia para o interior do Estado”. Tanto é verdade que, como todos lembram, no auge do escândalo do mensalão, com todos os indícios apontando para Lula e seus asseclas, aliado à “oposição” pífia do PSDB (na verdade um partido que representa a direita da esquerda), Lula, para nossa infelicidade, reelegeu-se e ainda elegeu aquele ser que se auto-intitulava-se da espécie “mulher-sapiens”.

Esse panorama histórico nos ensina uma verdade dura. Não se muda a estrutura da realidade sócio-política de uma hora para outra. Ainda é incipiente a formação de uma intelectualidade conservadora no Brasil. Vejam as manifestações ocorridas nas universidades por conta do contingenciamento do orçamento. Alunos não sabiam o que ali faziam (idiotas úteis?). Bandeiras vermelhas tremulavam junto com cartazes pedindo “Lula livre”. A mídia publicou uma enxurrada de manchetes falando em “cortes de 30% no orçamento das universidades”, em um país onde a maioria se informa apenas pelas manchetes das notícias. O mesmo “modus operandi” tem se adotado por conta do decreto de armamento. Perceba que a hegemonia cultural conquistada pelo PT ainda se faz presente de forma acintosa.

O dito “centrão” arma uma “cama de gato” para Bolsonaro. Uma das estratégias é forçá-lo a fazer “pedaladas fiscais”, não votando a MP da reforma administrativa ou não aprovando um suplemento de 250 bilhões no orçamento, culminando em um processo de impedimento. Outra é, como mencionado, enfraquece-lo politicamente, “empoderando” o Congresso como o verdadeiro protagonista das reformas (parlamentarismo implícito).

O Brasil precisa urgentemente retomar o crescimento econômico, ponto final. Ou a economia cresce e, assim, o governo maximiza a arrecadação para pagar a conta do nosso “estado de bem estar social tupiniquim”, ou vamos colapsar. Para crescer é preciso estabilidade política, segurança jurídica, estímulo ao empreendedorismo, política fiscal responsável e controle das contas públicas (austeridade) no mínimo. OU SEJA, TUDO O QUE A ESQUERDA NÃO QUER. As forças políticas já decidiram: Bolsonaro tem que sair. Se o preço for o apocalipse econômico e social, eles aceitam pagar esse preço. E o Brasil? Ora, esse fica para depois. O objetivo agora é a retomada do poder. Simples assim. Essa é a leitura que humildemente faço com base nos acontecimentos atuais.
 

Julio Cezar Rodrigues é economista e advogado (rodriguesadv193@gmail.com)
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