Olhar Direto

Quinta-feira, 02 de maio de 2024

Opinião

O novo e o velho Mato Grosso

Entre as obras realizadas pelo governador Mauro Mendes, o Parque Novo Mato Grosso com certeza é uma das mais ousadas. Situado na MT 251, que liga Cuiabá a Chapada dos Guimarães, o parque irá contar com uma ampla estrutura para realização de eventos automotivos, shows e outros tipos de atividades. Em contraste ao investimento no Novo Mato Grosso, importantes patrimônios do velho Mato Grosso, que contam a história do estado, como a Usina Itaicy em Santo Antônio do Leverger, e a Usina Casca I e o Chalé dos Governadores em Chapada dos Guimarães, caminham no ritmo dado pela deterioração do tempo, para se tornarem apenas ruínas postas ao chão de um passado de glória distante.

Para a historiadora Emília Viotti da Costa, "Um povo sem memória é um povo sem história. E um povo sem história está fadado a cometer, no presente e no futuro, os mesmos erros do passado." Um povo sem história acaba por não entender como chegou ao local que está. Ou seja, fica, sem entender como o seu entorno foi formado.

No estado, existem importantes construções que marcam alguns momentos e acontecimentos históricos. Em Chapada dos Guimarães, o Santuário de Sant’Ana, construído em 1779, é um registro fantástico do período barroco, porém que precisa de restauro para manter sua imponência e registro histórico. Outros locais como a Usina Casca I, primeira usina hidroelétrica a produzir energia para abastecer a população de Cuiabá em 1928, e o Chalé dos Governadores, residência de campo dos governadores, durante cerca de 8 décadas, estão a cada dia se aproximando mais do destino trágico de se tornarem apenas ruínas.

Outro caso que merece ser elencado é a Usina Itaicy, construída no final do século 19, por Antônio Paes de Barros, o ex-governador do estado Totó Paes. O local chegou a abrigar uma população de cerca de cinco mil pessoas, tinha moeda própria e uma ampla estrutura, com farmácia, escola, capela, entre muitas outras benfeitorias. Um verdadeiro registro da revolução industrial em solo mato-grossense. Porém, ao que tudo parece, também caminha para um destino trágico.

O Parque Novo Mato Grosso pode contribuir para o turismo na região e é uma obra relevante, com investimentos previstos de cerca de 150 milhões. Mas será que não seria importante o Governo do estado ter olhos para o velho Mato Grosso também? As construções históricas citadas também são importantes para o turismo, para a cultura e para a história. Os registros contados por elas ajudam a contar como o estado chegou aonde está hoje. Podemos ir muito mais além e debater a deterioração de centros históricos, casarões antigos e outros locais onde foram cunhadas as raízes do estado.

O fato é que a história precisa ser valorizada com políticas públicas e investimentos que permitam preservar o passado, para aqueles que virão no futuro, conciliando desenvolvimento do novo Mato Grosso, com as memórias e sentimentos que são contadas pelas paredes antigas e esquecidas, das quase ruínas que registram o passado do velho Mato Grosso.
 
Caiubi Kuhn é Professor na Faculdade de Engenharia (UFMT), geólogo, especialista em Gestão Pública (UFMT), mestre em Geociências (UFMT).
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