Em tempos de profunda inoperância criativa a Indústria Audiovisual apoia-se em antigas muletas para realizar e comercializar seus filmes, garantindo, mesmo que por hora, sua existência. Essas muletas, paradigmas apelativos e gratuitos, são mais comumente relacionadas ao sexo e, principalmente, à violência.

Depois de Lúcia (2013) também versa sobre a violência. Não espere, entretanto, cenas rápidas, cortes secos, tiros e explosões como no último Duro de Matar 8 (não, esse filme ainda não existe), ou mesmo outros clichês provenientes do gênero de ação. “A violência está na falta de comunicação”, responde o diretor mexicano Michel Franco, a Flávia Guerra do Estadão, sobre o eixo central do seu debute.





Na história de Franco existe o espaço para a violência física, como também, existe um espaço maior ainda para a violência psicológica proveniente do bullying, presente na cultura universal. É, porém, como o próprio autor afirma: a falta de comunicação entre pai e filha, violentados pela perca repentina de Lúcia, esposa e mãe, traz a carga mais pesada de mal estar. Afetados, ambos criam, e sem perceber, barreiras entre eles, como a que impedirá Alejandra (Tessa Ia) de desabafar e denunciar, ao seu pai, Roberto (Hernán Mendoza), os abusos cometidos pelos colegas de escola e seus costumes burgueses, que sintetizam a sociedade.

O filme remete intensamente ao curta E assim vou morrendo violentamente, de Fabricio Brambatti, o Urso Morto (As 7 mortes de Pedro: o menino que colecionava crânios de vaca). Brambatti é poético ao tramitar entre seu título e a própria obra de 4 minutos que exibe uma senhora em seus afazeres de sua casa-leito de morte, numa melancolia que expressa a violência em se morrer lentamente.

Em Depois de Lúcia, as violências são múltiplas, e são sentidas de diferentes formas. Para o público um tipo de agressão de espelho, já que a tela da televisão, do cinema ou do computador reflete um monstro que não existe ali dentro, mas está diante da tela.