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Sexta-feira, 03 de maio de 2024

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Estreia: Superficial, 'Jobs' fica aquém do criador da Apple

Uma das principais características do famoso empreendedor Steve Jobs era saber vender os seus produtos não como simples mercadorias, mas como elementos indispensáveis na vida de seus clientes. Por isso, os lançamentos de seus novos projetos se transformavam em grandes eventos, em que o público aguardava ansiosamente qual novidade a Apple iria trazer.
"Jobs" (2013), a aguardada cinebiografia do fundador da gigante do mercado da informática assinada por Joshua Michael Stern, começa justamente com um anúncio, o do primeiro iPhone.

Planos fechados se alternam e evocam a conhecida imagem do inventor nos anos 2000, até finalmente mostrar Ashton Kutcher caracterizado como ele.

Exatamente isso, caracterizado, pois, além da semelhança física do astro das comédias, do figurino e da maquiagem, a interpretação dele não contribui muito na tarefa de dar vida a Jobs. Ele até se esforça bastante, porém, mais em um trabalho de mimetização do que de atuação, o que fica evidente nos momentos de maior exigência do ator.

No entanto, Kutcher não é o único bug do filme. Depois da cena inicial, a do anúncio do smartphone, o roteiro do estreante Matt Whiteley volta aos tempos de estudante de Steve, quando já tinha abandonado a faculdade e apenas era ouvinte nas aulas da Reed College, passa pelo ano sabático na Índia e traz os primeiros passos da formação da Apple, com todos os altos e baixos da empresa.

Ignora, porém, fatos importantes da vida dele, a exemplo da compra da Pixar, que ele ajudou a transformar no mais renomado estúdio de animação do cinema atual, junto com a Dreamworks.
A opção pelo recorte de determinada fase da vida da pessoa retratada é válida, mas os acontecimentos escolhidos e o desenvolvimento do próprio personagem, neste caso, são feitos de forma superficial. Em determinado momento do longa, por exemplo, o protagonista cita o fato de ter sido abandonado pelos pais, mas essa informação não é aproveitada posteriormente.

A direção de Stern, que esteve à frente de produções menores como "O Segredo de neverwas" (2005) e "Promessas de um cara de pau" (2008), também contribui muito nesse processo de enfraquecimento do personagem central.

A ideia é mostrar Steve Jobs como um gênio incompreendido por aqueles que o cercavam. Apesar de algumas cenas mostrarem as desavenças e um certo egoísmo dele como empresário e namorado, pouco foi retratado do conhecido - com o perdão do trocadilho - gênio difícil do milionário.

Ao contrário, o início imponente, a sequência "poética" da inspiração no meio do campo e o discurso motivador no final aumentam mais a sensação de endeusamento da figura de Jobs.

A trilha sonora desses momentos também serve de apoio nessa glorificação. Já as músicas utilizadas para ambientação das cenas em seu contexto histórico cumprem melhor o seu papel - a fotografia que abusa dos tons em sépia para representar os anos 1970 realiza a mesma função.

A estreia de "Jobs" nos cinemas está muito longe de ter importância semelhante a do lançamento do iPhone para o mundo da informática e telefonia. Na realidade, se aproxima mais do fracasso do Lisa, mas de um modo diferente: apesar do PC ter sido revolucionário tecnicamente, foi um desastre no âmbito comercial.

A produção cinematográfica já conseguiu "se pagar" com a renda da bilheteria nos Estados Unidos e deve obter algum lucro no mercado internacional, mas é um fiasco para crítica e público. Se o próprio Steve Jobs, conhecido pelo seu perfeccionismo, estivesse à frente desse longa, talvez mandasse devolvê-lo aos projetistas.
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