Olhar Conceito

Quinta-feira, 02 de maio de 2024

Notícias | Literatura

na íntegra no olhar conceito

Com diálogo contemporâneo, Máxima Vida Mínima traz mais 25 micro contos no II volume; Leia aqui

Foto: Reprodução

Do filme

Do filme "A Febre do Rato"

A literatura pode ser uma arma, o cultivo de uma flor ou o florescer de um amor. De qualquer forma, o seu poder de transformação é inegável, real e palpável. A literatura engrandece e a leitura se torna vício. Para os leitores viciados em literatura, o Olhar Conceito publicou nesta semana, na terça-feira (14), o 1º volume da antologia Máxima Vida Mínima que reúne micro contos de 50 escritores. Divididos em dois volumes, trazemos a segunda parte com mais 25 contos. Para acessar os volumes completos e informações dos escritores, basta acessar o blog Beatniks Cuiabá.

Leia também: Poucos caracteres que tiram o ar, I volume de Máxima Vida Mínima traz 25 micro contos; Leia aqui

“Com o mundo contemporâneo tendo como algumas de suas principais marcas a redução e a aceleração, seja das distâncias geográficas ou do tempo das relações afetivas, o miniconto, com ferramentas como o Twitter, ganha mais adeptos e popularidade. Nos cinquenta micro contos que selecionamos, temos uma mostra de sua diversidade e relevância. Agradecemos aos escritores que participaram do projeto, que usaram o domínio que possuem da linguagem literária e contaram um conto, não o aumentando mas o reduzindo até encontrar o que há de essencial na estória a qual deram vida. Uma vida mínima alçada ao máximo. E que o sim e o não sejam reflexos de beleza, rebeldia e arte. “Um brinde aos costumes condenados!” (Zizo, poeta marginal do filme Febre do Rato(2012), de Claudio Assis)”, explicam os organizadores Wuldson Marcelo e Wender Souza.

Máxima Vida Mínima – Volume II

Cidade Baixa

Ela abriu as pernas e ficou estática... depois falou:
“Se vira, meu fio, por esse preço num vô nem tirar a calcinha”.

Adê Otênio

Crime Perfeito

Num beco frio e mal iluminado um corpo jaz, em meio a uma poça de sangue e alguns curiosos, alguém se aproxima e observa os orifícios no peito do cadáver, então se ajoelha e reza para a infeliz alma, levanta-se e se afasta. Somente quando se encontra a uma distância segura livra-se da arma do crime.

Antônio Leôncio


***

E tarde, de noites em noites, procuro na prateleira aquele livro favorito... que na meia luz, algumas linhas leio, só para ter a certeza que estou viva.

Ângela Coradini

Pensáre

Nesta noite se permitiu pensar, por um breve momento, imaginou tudo diferente. Há tempos não se propunha a tal feito. Contudo, a letargia absorveu o mel. Com o fel, a cabeça dói.
- Não quero mais matutar!

Juliene Leite Souza

***

O barco estava afundando. Ele foi o primeiro a pular em alto mar. Como era o mais pesado, o barco se estabilizou e todos se apressaram em tirar a água de dentro. Sobreviveram e o transformaram em herói.

Andhressa Heloiza Sawaris Barboza

Mácula

Quarto branco (todo branco, como numa cena de THX 1138). Um ponto preto macula o ambiente. Curiosos se aproximam e o ponto age como um buraco negro dominando tudo.
Quarto preto. Um ponto branco macula o ambiente...

André Nör F.


Breu

Sofia mal sabe que o mal que segue é o mau que a cegue.

Yaemi Yamauchi

***

O quase-suicida abriu os olhos e pensou: Caralho, o tiro saiu pela culatra!

Eduardo Ferreira

***

As lágrimas que escorriam de seus olhos carregavam o peso da existência. O choro não era por não ser, mas sim pelo que queriam que ele fosse.

Guilherme Cesar Meneguci

Vazio

- Por que você bebe e fuma? Não faz mal?
- Eu continuo sem ela. E talvez dessa maneira eu morra tão vazio quanto nasci.

Michael Chowski

Amor Finito (Parte II)

Quando a gente jogava xadrez, você sempre ganhava.
...
Porque eu te amava.

Pauline Rodrigues de Arruda

Impureza

Naquela manhã, Anita descobriu sua ganga bruta: o prato além de frio era amargo e de dissabores variados. Assim, percebeu que três anos de planejamento se equivaleram às decepções de uma jazida sem valor.

Wuldson Marcelo

***

Tudo ia mal em sua vida. Leu o jornal, na página de horóscopo, se algo poderia melhorar.

Sabrina Aglae Sonai

Caminho do Mar


O rio corria sereno por baixo da ponte de madeira. Sentada nas pedras, eu me lavava na água. Lavava o meu corpo e minha alma. Uma voz me disse: "Yemanjá, sua Mãe, lhe chama pra morar com ela no mar". Eu disse: "Eu vou, minha Mãe. Não tardo." E as águas, que também corriam pro mar, foram levando meu recado.

Lilly Farias

O Cão

Um cão miúdo, belo e maldito foi estraçalhado por um pitbull... a vida, então, a noite fez uma festança para homenagear a si mesma.

Henrique Souza

***

O homem acorda aos 80 anos e no espelho vê como foram pontiagudos os cravos da morte. Estranho a si mesmo amaldiçoa o vidro e sorri por julgar não viver dentro dele.

Felippy Damian

Acontecimento em Santo Antônio

Em uma noite de verão, os raios do luar incendiaram a superfície do rio (com extrema luminosidade), enquanto a cidade e seus habitantes calmamente adormeciam às 22:00 horas.

Carlos Amorim

iPhone 5

Sthefany me disse, com um pouco de orgulho, que está ganhando a vida em Goiânia tirando a roupa. Três meses que foi embora, já comprou um celular novo. Fora isso, a vida continua a mesma. A única diferença, arrematou, é que em Cuiabá fazia tudo de graça.

Odair de Morais

Qualquer Pessoa

Entre pela porta e caia no abismo. Veja uma esfera intacta parada antes da superfície. Essa bolha de ar dentro dela foi o grito de susto da sua queda; é todo o ar que tem pra você menor, ainda. Qualquer pessoa pequena sabe e se esquece nisso.

Caio Mattoso


Quase fim

Brigaram loucamente mais uma vez e ele finalmente pediu para que ela fosse embora.
Ela, por preguiça de arrumar as malas, pediu uma última chance.

Cinthia Andressa de Lima

***

Estou aqui treinando meu coração a bater em três tempos, e no auge desse embalo o descompasso da minha valsa é você.

Raquel Mützenberg

Papo de Bobo

-Vi um anjo azul, sóbrio...
- Sóbrio? Você ou o anjo...?
- Sei lá, estava muito escuro.

João Pede Feijão

***

A solidez da solidão, não tão saudosa quanto os aplausos da multidão, é bem-vinda em qualquer luz do dia. De um profundo narcisismo, não no sentido aparente, mas no mergulho naquilo que pensa ser si mesmo para encontrar o resto do mundo.

Julianne Moura

***

Um coração peixe está preso na praia. Debate-se eufórico. Sua pele descarna, a carne branca queima ao sol, a areia pontiaguda lhe marca as retinas. Salta, vai voltar ao mar? - Não. Uma bota infantil o pisa. Vira-o do avesso. Os olhos esbugalham. As algas amarelas, semi digeridas, precipitam pelo nariz. - É domingo, as crianças vêm brincar na areia. Mais tarde alguém reclama. A areia está suja. Tem cheiro de peixe podre.

Luis Bonfim

R.G.

O menino condenado e violentado, algumas horas depois de encontrado seu corpo, finalmente recebeu um nome: batizaram-no de Indigente. Morreu como viveu: esquecido.

J.P. Woolf
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