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Notícias | Moondo de Nina Moon

segregação social

O apartheid moderno é jovens da periferia serem barrados em shopping-centers

18 Jan 2014 - 16:12

Especial para o Olhar Conceito - Nina Moon

Foto: Reprodução

O apartheid moderno é jovens da periferia serem barrados em shopping-centers
Porque nos dizemos uma sociedade contemporânea se continuamos animalizados e a única diferença é que vestimos roupas e arrotamos hipocrisia? Afinal, pelados somos todos iguais.

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Em 1888, a princesa Isabel aprovou a Lei Áurea, que aboliu a escravatura, agora relegada apenas aos anais da cruel história humana. E agora estamos aqui em 2014, mais de 100 anos depois, e ainda vemos episódios que demonstram que o ódio permanece vivo na sociedade.

Jovens de baixa renda e predominantemente negros, estão sendo proibidos de ir ao templo do capitalismo e consumismo: os shoppings centers. E grande parcela da população aplaude de pé as medidas liminares concedidas pela Justiça que impedem os tais ‘rolêzinhos’ de acontecerem.

Então vejo muitos criticando os jovens negros. Afinal, porque motivos estes pensam que tem os mesmos direitos de todos os brancos burgueses, que podem adquirir e consumir? Os jovens só querem olhar, se divertir, ter lazer. Mas, não. O shopping center, o templo do consumo não aceita diferentes daqueles que possuem cartão de crédito.

Impedir jovens de adentrarem em shoppings centers é o mesmo que mascarar o apartheid. É a segregação. Não é apenas racismo, é diferenciação social. Porque não são apenas negros, são pobres. São filhos da escravidão. E os brancos não podem quebrar essa eterna amarra que os diferencia, afinal, se fosse assim, todos seríamos iguais.

Mas não é este discurso que ouvimos pregar aos quatro ventos? Somos todos iguais. Sim, anatomicamente somos iguais. Possuímos dois braços, duas pernas, um pescoço, dois olhos, um nariz, uma boca, e órgãos vitais. O sangue corre em todas as veias, e é vermelho, nunca foi azul. Quando se precisa de transfusão não perguntamos se o sangue é de um negro e pobre.



Em 2013, o homem que mais lutou pelos negros, Nelson Mandela morreu. E agora a humanidade está órfã? Como podemos retroceder 126 anos em poucos dias? A verdade é que nunca fizemos o caminho para o futuro. Sempre damos voltas no passado.

E nos atemos a estas amarras. Não tiramos as vendas dos olhos. Não atentamos em observar quem está ao nosso lado. Não queremos ler a tristeza dos outros rostos, já nos basta a nossa miséria humana. O problema é que ainda somos e sempre seremos animais. Movidos mais pelos valores culturais adquiridos ao longo de anos de escravidão, do que pela nossa intuição, pela nossa sensibilidade, pelo coração que grita o que é certo e errado.

Apontamos o dedo e julgamos. Somos os próprios inquisidores. Perseguimos. Condenamos. Matamos. E quando o espelho se vira e vemos o reflexo daquilo que somos hoje e daquilo que fomos há 126 anos, a única coisa que nos difere é que o açoite agora vem acompanhado de uma liminar judicial que legitima a segregação racial e social.

Rasguem os direitos humanos e abracem a cegueira coletiva. Afinal, é mais fácil perpetuar a ignorância do que romper com os padrões e abraçar o amor.
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