Próximo ao quilômetro 17 da rodovia que liga Cuiabá a Santo Antônio de Leverger está localizada a Capril Estrela da Manhã, uma empresa de produção de leite de cabra e seus derivados. Com trabalho familiar e produção artesanal, a Capril tem conquistado muitos clientes, principalmente os que prezam por hábitos alimentares saudáveis.
O proprietário, Cleudes da Costa Brandão, faz questão de uma produção orgânica, sem conservantes e aditivos químicos. Ele e a esposa, Solange Maria Brandão, fazem com o leite da cabra produtos como doce de leite, iogurte, queijo frescal, queijo boursin, ricota, versões condimentadas dos queijos (com azeitona, orégano, ervas finas e pimenta calabresa), bebida láctea e a cachorrada, um tipo de doce feito a partir do leite talhado. Tudo isso além do leite puro pasteurizado.
As cabras criadas por Cleudes são da raça Saanen, próprias para leite. Pelo público seleto e a dificuldade de comercialização, ele tem produzido cerca de 15 litros de leite pasteurizado por dia. O processo de pasteurização é feito por uma máquina, que esquenta o leite a 67° e depois o resfria a 4° negativos.
A comercialização dos produtos é feita basicamente em feiras e por encomenda. Cleudes explica que o iogurte de leite de cabra, por exemplo, ele só faz por encomenda. “Não coloco conservante nenhum. Então tem um prazo de validade muito curto. Faço quando os clientes pedem”, explica.
As atividades da Capril tiveram início em 2006. “Tudo começou do sonho de fazer queijo de cabra”, conta o proprietário. E, hoje, a produção foi muito além do queijo. Além dos produtos alimentícios, Cleudes e sua esposa também desenvolvem cremes hidratantes e sabonetes naturais à base de leite. “O leite de cabra é muito hidratante e, além disso, ajuda a prevenir queda de cabelo”, conta.
Um dos clientes mais ilustres – senão o mais – da Capril até hoje foi o presidente Lula. Em visita a Cuiabá para o lançamento do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), Lula conheceu Cleudes e seus produtos e levou para Brasília alguns deles. Na parede de casa, o produtor exibe, com orgulho, um retrato junto ao presidente.
Apesar de já ter sido personagem de muitas matérias e de sempre acompanhar a exposição dos produtos nas feiras e conversar com cada cliente sobre o que produz, Cleudes diz que ainda esbarra em uma questão cultural dos consumidores. “As pessoas acham que o leite de cabra deve ser consumido só por quem tem alergia ao de vaca. Mas não. O leite de cabra pode ser adicionado ao cotidiano de qualquer pessoa, porque ele é muito saudável”, explica. Ele ainda diz que outro mito em relação ao leite é que ele tem gosto e cheiro muito fortes. “Esse com cheiro forte e gosto diferente é o comercializado em caixinha, porque ele precisa de conservantes e aditivos. Esse aqui é puro”.
Leite de cabra x Leite de vaca
O gosto do leite de cabra, em relação ao de vaca, não é tão diferente. Ele é mais encorpado, mais forte, o branco é bem mais intenso e o sabor é parecido, com as peculiaridades apresentadas, claro. Tem-se a impressão de que quem acostuma a tomar o leite de cabra, acaba achando o leite de vaca mais “aguado”, como se comparasse com um desnatado.
Essa sensação de que o leite de cabra é mais forte, não é em vão. Ele tem uma série de vantagens sobre o leite de vaca. Possui 40% a mais de cálcio, suas gorduras são insaturadas, apresenta ômega 3, mais vitamina A, mais proteína, menos colesterol e menos carboidrato. Além disso, é muito rico em CLA (ácido linoléico conjugado), substância que previne o câncer e a formação de placas de gordura nas artérias. O leite de cabra também é melhor para quem tem desajustes gastrointestinais, pois sua digestão é muito melhor que a do leite de vaca. Um copo de leite de cabra demora 40 minutos para ser digerido pelo estômago humano, enquanto o de vaca demora cerca de 2 horas e meia. È por todas essas vantagens que Cleudes insiste em dizer que o leite de cabra não deve ficar taxado como “o leite alternativo para quem tem alergia ao de vaca”. E ele tem razão.
O único inconveniente do leite de cabra é o preço, ele custa em média o dobro do leite comum. Na Capril, Cleudes vende o litro, pasteurizado e ensacado, por 4 reais.
Planos, negócios e a crise
Cleudes tem planos para a Capril. Ele está investindo em equipamentos para a industrialização do negócio e, em breve, irá implantar um laticínio. Porém, uma de suas grandes preocupações é manter a base orgânica da produção, já que esse é grande diferencial dos seus produtos.
Ele conta que tinha planos de ser uma empresa maior, com mais funcionários e uma produção mais extensa, e, consequentemente conseguir colocar no mercado produtos com preço mais baixo. Mas, sofre com a falta de incentivo. “O pequeno produtor não tem incentivo. Há uma dificuldade imensa em conseguir crédito rural”, lamenta.
Passo a passo, com planejamento, ele vai conseguindo crescer o negócio, e tem a vantagem de ser o único no Estado. “Tem muitos produtores, mas que trabalham só com leite. Somos os únicos a fazer todos os derivados”, explica.
Sobre a crise econômica mundial, Cleudes conta que não chegou a ser afetado diretamente em sua propriedade. Mas, tem vendido um pouco menos e acredita que seja pelo receio do consumidor em gastar. “A população ficou com medo de consumir”, diz.
Quem quiser encontrar os produtos da Capril em Cuiabá, pode achar na feira Bulixo, no Sesc Arsenal, todas as quintas-feiras de noite, ou aos finais de semana na feira da Praça Santos Dumont (Av. Getúlio Vargas). Eles também comercializam seus produtos algumas vezes por mês no Mercado do Porto. A Capril está localizada no quilômetro 17 da rodovia Palmiro Paes de Barros, em Santo Antônio de Leverger.
