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Sábado, 20 de julho de 2024

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Lavrador buscou isolamento proposital para cometer crimes

José Agostinho Bispo Pereira, o lavrador que abusou sexualmente da própria filha por 17 anos em uma ilha no norte do Maranhão, sabia que estava agindo de forma errada e buscou o isolamento de propósito, para perpetrar tais atos. Essa é a análise de duas especialistas com experiência forense ouvidas pelo Terra, que analisaram os fatos tornados públicos desde o dia 9 de junho, quando Pereira foi preso.


Lorena Caleffi, psiquiatra gaúcha que já atuou na área forense e, atualmente, é responsável pela Revista de Psiquiatria da Sociedade de Psiquiatria do Rio Grande do Sul e Fátima França, psicóloga jurídica e perita criminal na Secretaria de Administração Penitenciária do Estado de São Paulo, analisaram as reportagens que desde então foram veiculadas na imprensa brasileira e afirmam: tudo indica que o pedófilo sabia que tinha uma conduta anormal.

"O criminoso já tinha sido casado, o que nos faz pensar na possibilidade de ele ter optado por este tipo de vida justamente para isolar as vítimas, que viviam sob ameaça para não fugir", analisa Lorena. "Muitas vezes, a pessoa busca esse isolamento para que as outras pessoas não tenham conhecimento do que acontece. Quanto maior o isolamento, ele terá mais controle sobre a situação", completa Fátima. "Ele tinha uma clara noção de que aquilo era errado", diz ela.

Apenas uma entrevista psiquiátrico-legal, ressalta Lorena, permite determinar o nível de distúrbio mental do lavrador, assim como sua noção de estar cometendo um crime. Porém, ela acrescenta que são normalmente os psicóticos (que sofrem alucinações, por exemplo) que perdem a noção de que seus atos são criminosos. "Os casos de pedofilia raramente são acompanhados de sintomas psicóticos deste tipo. O mais comum é o indivíduo ter noção da inadequação de sua orientação sexual e tentar escondê-la", acrescenta.

Fátima França admite ser possível que o lavrador, mesmo conhecendo as normas sociais, não sinta culpa pelo que fez. E observa que "muitos criminosos acreditam ter a razão a seu lado, mesmo sabendo ser contra a lei". Fátima lembra que o aspecto cultural é uma influência importante: "Há regiões em que isso é menos anormal do que em outras".

A vítima, no entanto, podia desconhecer que vivia em situação de abuso, diz Fátima. A filha do lavrador passou 17 dos seus 29 anos de vida isolada na ilha Experimento, com o pai e os filhos gerados por eles - das sete crianças, Pereira nega a paternidade de uma. "Se ela não tem parâmetros de outras relações, pode achar que aquilo está certo, que é normal. Não tem plena consciência do que está fazendo, sequer consegue avaliar. Normalmente entram aí também uma série de ameaças por parte do abusador", analisa.

Caso Fritzl
As especialistas avaliam que o distúrbio sofrido pelo lavrador maranhense é muito semelhante àquele do engenheiro austríaco Josef Fritzl, preso em 2008 (e condenado à prisão perpétua em 2009) por manter a própria filha em cativeiro por 24 anos e ter também sete filhos com ela.

"Eles têm o mesmo perfil de personalidade perversa. São casos de violência intrafamiliar que apontam distúrbios bem semelhantes", diz Fátima. E o fato de viverem em condições distintas, dizem as especialistas, não ameniza os crimes, só piora o do austríaco, já que era um homem que estudou, bem informado e que estava dentro da comunidade. Isso causa "um choque maior", na opinião de Fátima.

Desde que a história de Fritzl foi descoberta, já vieram à tona casos semelhantes na Austrália, na Polônia e na Argentina.

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