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Sábado, 20 de julho de 2024

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Quilombolas contam como escaparam da enchente em jaqueiras

“Em 70 anos vivendo nessa comunidade, essa foi a primeira vez que vi algo parecido. A destruição foi total e rápida demais.” Essa foi a maneira que o aposentado Antonio Nunes, 70 anos, encontrou para contar, com os olhos cheios de lágrimas, a sensação de ter perdido a casa com a chuva de sexta-feira (18) para sábado (19), em União dos Palmares (AL). Para conseguir escapar da água, 56 integrantes da comunidade quilombola Muquém subiram em duas jaqueiras e no telhado de uma casa para sobreviver.


No estado, foram confirmadas 34 mortes causadas pela chuva desde a semana passada. Em Pernambuco, foram 17 óbitos. Com isso, o número de mortes nos dois estados chega a 51.


Antonio Nunes disse nunca ter visto enchente tão
forte em 70 anos de vida (Foto: Glauco Araújo/G1)Todos os integrantes da comunidade quilombola chegaram a ser considerados desaparecidos pela Defesa Civil de Alagoas desde sábado. Eles só foram localizados na terça-feira (22), quando integrantes do Instituto de Meio Ambiente de Alagoas (IMA) e da Secretaria de Meio Ambiente e de Recursos Hídricos (Semarh) foram ao local, de helicóptero. “Temíamos o pior, mas conseguimos encontrá-los com vida. Alguns chegaram a ficar até 18 horas sobre as árvores”, disse Adriano Augusto de Araújo Jorge, presidente do IMA.

O quilombola Aloísio Nunes, 65 anos, disse que não teve tempo de escolher em qual árvore subir e se proteger. “Subi com meus parentes e ficamos agarrados na jaqueira, até a água baixar, a cerca de meio metro de altura. Era madeira boiando, móveis, tudo que tinha por perto foi arrastado pela água.”

Auricéia Maria Nunes da Silva, 13 anos, conseguiu pegar o primo Nandiel, de 2 anos, no colo para socorrê-lo. “Ele estava dormindo quando o colocamos no alto da árvore. Ele só ficou assustado depois que acordou. Tive muito medo que ele se mexesse e caísse na água.”


Tatiana da SIlva (esq.) está grávida de 4 meses e
chora ao lembrar da destruição
(Foto: Glauco Araújo/G1)Grávida de 4 meses, Tatiana da Silva, 24 anos, disse que saiu de Maceió para passar alguns meses com a família na comunidade quilombola e acabou perdendo tudo. “Não tenho mais nenhum documento. Perdi meu cartão do Bolsa Família. Tive medo de perder minha filha Tauane, de 2 anos. Agora, quero ir embora daqui.”

Os irmãos Arlindo Nunes da Silva, 68 anos, e José Nunes da Silva, 66 anos, socorreram um ao outro quando a força da água começou a destruir todas as casas da comunidade. “Nós corremos e subimos para o telhado de uma casa. Ficamos ali sem saber se tinha gente viva do outro lado. Quando a chuva parou e a água começou a baixar, começamos a gritar pelo nome das pessoas. Quem ouvia foi respondendo. Assim a gente foi ficando mais aliviado”, disse José Nunes.
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