Cem famílias da cidade de São Luiz do Paraitinga que perderam suas casas durante a enchente de janeiro deste ano devem se mudar neste mês para novas moradias. As casas fazem parte de um conjunto construído pela Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU) que deve ser inaugurado na próxima sexta-feira. Segundo autoridades municipais e a população, a conclusão das residências é um marco importante do processo reconstrução da cidade, a 170 km de São Paulo.

Nove meses depois da cheia do Rio Paraitinga que inundou e destruiu boa parte do município, a pequena São Luiz do Paraitinga ainda é grande um canteiro de obras. Pelas ruas estreitas e íngremes da cidade histórica erguida entre as montanhas do Vale do Paraíba e o rio, tapumes e ruínas ainda se misturam à paisagem bucólica local.

Casas coloniais, igrejas dos séculos XVIII e IXX e duas vias de acesso à cidade ainda precisam ser refeitas. Contudo, a entrega das 100 casas aos maiores prejudicados pelas chuvas de 1° de janeiro promete ser um passo importante para a retomada da normalidade da vida dos 10 mil luizenses.

"A entrega das casas é um momento crucial desse processo", afirmou o arquiteto e professor da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp), José Xaides de Sampaio, um dos profissionais envolvidos na reconstrução da cidade. "Vai dar novo ânimo aos moradores e, principalmente, conforto aos que perderam sua propriedade durante as chuvas", disse Sampaio.

O temporal do início do ano deixou cerca de 9 mil desabrigados. Segundo a prefeitura de São Luiz do Paraitinga, 210 famílias ainda não puderam retornar para as suas casas. Dessas, 100 eram proprietárias desses imóveis. Essas famílias têm prioridade no realojamento.

Edésia Rodrigues Santos Lopes, 40 anos, é uma das luizenses nessa situação. Ela teve a casa em que vivia com o marido e os dois filhos interditada após as chuvas. Há oito meses, Edésia mora em uma pousada, junto com outras 17 famílias de desabrigados. Na próxima quinta-feira, ela assina o contrato de financiamento de sua nova casa. Na segunda ou terça-feira, Edésia já quer mudar.

"Estou dando graças a Deus", disse ela, ao falar sobre a mudança de endereço. "A gente estava precisando disso. Agora, só vou ficar mais feliz quando tiver a Igreja Matriz de volta", afirmou Edésia.

A Igreja Matriz e outras duas igrejas históricas estão entre as próximas prioridades do plano de reconstrução elaborado pela prefeitura de São Luiz do Paraitinga. A assessora de Planejamento, Cristiane Bittencourt, afirma que, no dia 1° de outubro, será realizada uma audiência pública nas ruínas da Matriz para discussão dos projetos de restauração dos prédios históricos, originalmente feitos com madeira e barro.

"Será a primeira vez que a população poderá entrar novamente na área da igreja", disse ela. "Depois disso, uma estrutura metálica será montada para proteger a obra e as pessoas poderão acompanhar de dentro do canteiro a reconstrução de um dos edifícios mais importantes da cidade", afirmou Cristiane.

De acordo com a assessora de Planejamento, com a entrega das casas, a reabertura - ainda que parcial - da Matriz e a conclusão das obras emergenciais de infraestrutura, previstas para novembro, São Luiz do Paraitinga finaliza a sua fase mais urgente de recuperação. A cidade se voltará, então, para a atração de turistas e para a organização de eventos culturais, atividades que a tornaram famosa como ponto turístico e a consagraram como patrimônio nacional. "São Luiz está pronta receber visitantes, sempre esteve", afirmou ela. "Estaremos ainda mais bem preparados", disse Cristiane.