A escritora Adélia Prado e o jornalista Edney Silvestre se encontraram no Fórum das Letras, que termina nesta segunda-feira (15), em Ouro Preto (MG), para discutir “Literatura, Identidade e Verdade”. Eles destacaram a influência do cotidiano no trabalho do escritor e falaram sobre a crítica especializada.

Apesar do reconhecimento como escritora, a mineira Adélia Prado diz que precisou lidar a todo momento com um desconforto causado por conceitos e preconceitos da crítica literária. “No início, diziam que ‘uma pacata senhora mineira, casada com um funcionário do Banco do Brasil’ estava fazendo poesia’”, lembrou. “Mais prosaico, impossível”, brincou.

Os julgamentos não pararam por aí, segundo ela. “Depois passaram a dizer que a minha poesia era religiosa, de eucaristia”, disse. A escritora afirmou que as críticas à obra dela são consequências de um tema recorrente que trata, o cotidiano.

“Eu tinha que ter uma convicção profunda em mim mesma, ou parava de escrever”, falou. Para ela, todos os escritores falam sobre o cotidiano, apesar de muitos se esforçaram para fugir do tema. “O cotidiano é a minha condição humana, eu não tenho outra. É a partir daí que faço perguntas transcendentais, como ‘de onde vim’, ‘para onde vou’ e ‘o que é o amor”, exemplificou.

Silvestre é autor do romance “Se eu fechar os olhos agora”, lançado em 2009, após um processo de criação que durou seis anos. “Várias vezes pensei em desistir”, disse. Depois do trabalho pronto, ainda faltava a aceitação dos leitores e da crítica. “Um jornalista de TV fazer romance não foi facilmente aceito”, afirmou o autor que se tornou o vencedor do Prêmio Jabuti 2010.

O jornalista também destaca a contribuição das experiências particulares no trabalho do escritor. “Eu não seria o mesmo sem o 11 de setembro e sem o caso João Hélio”, disse, referindo-se à cobertura que fez dos atentados terroristas aos Estados Unidos, em 2001, e sobre a morte do garoto carioca, que morreu durante um assalto no Rio de Janeiro , em 2007.