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Segunda-feira, 22 de julho de 2024

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Um ano após levar 7 tiros no réveillon, taxista fala de sua luta pela vida

Há um ano, o taxista Guilherme (nome fictício), como muitos paulistanos, comemorava o réveillon com a namorada em um bar no Jaçanã, Zona Norte de São Paulo. O clima de renovação e esperança foi quebrado quando um homem, sem aviso, se aproximou da mesa, sacou uma arma e disparou diversos tiros na direção do motorista. Naquelas primeiras horas de 2010, Guilherme, então com 54 anos, adiava todos os planos de ano novo para lutar pela vida.


Sete balas atingiram o tórax, barriga, o braço direito e a perna esquerda. O atirador, da mesma forma que surgiu, desapareceu misteriosamente – e sem levar nada da vítima. Desesperada, a namorada de Guilherme chamou o socorro, que o encaminhou ao Hospital São Luiz Gonzaga, também na Zona Norte.

Até hoje o criminoso não foi encontrado. O taxista disse acreditar que foi confundido com alguém. “Nunca fiz mal a ninguém. Não há motivos para que me matassem”, afirmou. Apesar disso, por questão de segurança, ele pediu à reportagem que não revelasse seu nome real nem que seu rosto fosse fotografado.

Recuperação
Durante pouco mais de um mês, o homem ficou à beira da morte em um leito na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). “Me deram só 2% de chance de sobrevivência." A melhora, considerada milagrosa por sua família evangélica, deu-se em fevereiro, quando foi encaminhado para um quarto normal do mesmo hospital.

Um problema, porém, persistiu: uma das balas atravessou a coxa e prejudicou a circulação no membro. “Chegaram a sugerir que minha perna seria cortada, para me salvar”, disse. Os médicos, no entanto, conseguiram reverter o quadro e, após diversas operações, a perna foi salva.

Mas não sem deixar sequelas. Além da enorme cicatriz na canela (resultado de um procedimento para aliviar a circulação naquela área), Guilherme manca e sente dores constantes.

Esse incômodo, antes insuportável, agora já faz parte de seu cotidiano. Atualmente, a dor está em segundo plano – tanto é que ele já voltou a trabalhar, com o táxi do irmão.

Após quase um ano lutando para voltar a caminhar, agora ele junta forças para uma nova batalha: a regularização de seu registro de taxista junto à Prefeitura. Um processo criminal aberto contra ele o impede de conseguir a documentação necessária para tanto.

Crime
Em 2005, ele fez algo de que até hoje se arrepende profundamente. “Falsifiquei um cheque e acabei preso.” Além dos dois meses de cadeia, fato que ele não gosta de lembrar, Guilherme foi processado por estelionato. “Por isso, trabalho irregular. Eu tenho que dar comida para meus cinco filhos de forma honesta, e essa é a única maneira que sei”, afirmou.

A pena foi revertida em 308 horas de trabalhos sociais em um orfanato. Até agora, completou 28 horas –segundo ele, sem reclamar e com muito empenho. O problema é que o taxista só pode trabalhar sete horas por semana. “Se eu pudesse ir todos os dias para acabar com meu processo, eu trabalharia.”

Segundo suas contas, sua ficha criminal acabará limpa apenas em setembro de 2011. “Até lá, vou trabalhar irregular mesmo”, afirmou. O serviço irregular tem uma série de restrições. O medo de ser flagrado pela fiscalização é o maior deles.

“Tem lugares que eu não posso ir, pois há fiscais. [O aeroporto de] Congonhas, as rodoviárias do Tietê e da Barra Funda", contou. “Quando o passageiro pede para ir a um desses lugares, eu tenho que pedir desculpas e negar a corrida.”

Questionado a respeito de seus sonhos para 2011, ele foi claro: “Quero ficar em dia com a Justiça”. Após levar sete tiros e passar por diversas cirurgias, Guilherme afirmou que esse desejo, considerado pequeno para quem venceu a morte, pode demorar a se realizar, mas acontecerá.
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