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Segunda-feira, 22 de julho de 2024

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'Não foi minha culpa', diz suspeito de matar jovem durante briga em boate

Na madrugada de dois domingos seguidos deste mês, dois jovens morreram em uma área nobre de São Paulo, onde se concentram vários bares e casas noturnas. As duas vítimas tinham a mesma idade: 22 anos. Ronald Braum morreu com um tiro na barriga. “Ele morreu de bobeira. Ele foi tomar as dores do outro, acabou acontecendo essa fatalidade, infelizmente”, lamenta Maria Rosa Alfredo Braum, mãe de Ronald.


Igor Caleman foi atingido por um copo. Os cacos de vidro perfuraram a jugular dele. “É uma sensação muito difícil de suportar, porque, na verdade, é um pedaço de você que sai. É muito duro”, conta Gilson Caleman, pai de Igor.

Em uma entrevista exclusiva para o Fantástico, Raphael Carvalho, suspeito de ser o agressor de Igor, se defendeu. “Não tive intenção de agredir o Igor, só fui [me] desvencilhar de uma briga. Eu nunca imaginei que um copo assim poderia tirar uma vida”, explica Raphael.

Os jovens se divertiam em uma das regiões mais chiques de São Paulo, onde ficam os bairros Itaim Bibi e Vila Olímpia, lugar de muitos bares e boates. Na sexta-feira (21) e neste sábado (22), produtores do Fantástico estiveram na região com uma câmera escondida. No local, muita gente bêbada e disposta a entrar em uma briga.

“Eu pago R$ 1 mil para não entrar. Mas pago R$ 10 mil para não sair”, diz um homem.

“Acho que o principal de tudo é a bebida”, opina o gerente de logística Ricardo Barbosa.

“De repente, esbarra em alguém. Ou dá em cima da namorada de outro”, aponta a administradora Adriana Brito.

“Normalmente, chegam, sim, às vias de fato. Brigas por mulheres, por xingamentos, fila nos banheiros, esses são os mais corriqueiros”, comenta a delegada Nilze Baptista Scapulatiello.

Bate-boca
Igor Caleman cursava o último ano de Direito e trabalhava em uma empresa de cartões de crédito. Ele estava em um bar quando foi morto. Era madrugada de domingo, dia 9 de janeiro. Acusado do assassinato, o rapaz de 20 anos falou pela primeira vez com uma equipe de reportagem. Raphael Carvalho não quer mostrar o rosto e diz que a briga começou depois de um esbarrão.

“Teve bate-boca, troca de insultos, e o segurança separou a gente. Depois de uns dez minutos, fui fumar um cigarro com meus amigos. Estava na área de fumante. Ele puxou meu cabelo para baixo. Eu estava com o copo de chope na mão, e eu tentei me soltar. O copo acabou atingindo ele. Escapou da minha mão e atingiu ele”, descreve Raphael.

O segurança do bar Luiz João Pedro Telles da Costa conta uma versão bem diferente. “Do jeito que o rapaz que faleceu puxou o cabelo, pus a mão no peito dos dois. Do jeito que os dois foram para trás, o rapaz arremessou bem no pescoço do menino”, lembra o segurança.

“Não estava embriagado naquele dia. Era o meu segundo copo de chope, que eu nem tinha terminado ainda”, defende-se Raphael, que faz faculdade de Administração e é analista de crédito em um banco. Ele foi preso em flagrante e indiciado por homicídio doloso, quando há intenção de matar. Passou quatro dias na cadeia e foi solto. A Justiça decidiu que ele pode responder em liberdade.

“As investigações precisam ser aprofundadas para nós descobrirmos qual foi e se foi praticado algum crime, porque tudo leva a crer que Raphael agiu em legítima defesa”, avalia o advogado de Raphael, Luciano de Freitas Santoro.

“Se eu tivesse a possibilidade de falar alguma coisa para a família dele, eu diria que eu estou muito chateado com isso. Estou rezando todos os dias, peço pela minha família que está muito mal com isso. Peço pela família do menino, para o próprio menino encontrar uma luz, mesmo porque não foi minha culpa”, diz Raphael.

“O que eu falaria para ele é que ele causou muito mal para mim. Eu falaria para os pais dele também terem força para superação. Eu acho que ele causou um mal também para os pais dele. Mas eu não posso me furtar como cidadão, de exigir justiça. Não justifica um ato de violência, você ferir uma pessoa até a morte”, declara Gilson Caleman, pai de Igor.

Briga por mulher
Ruas movimentadas à noite toda e muitos jovens à procura de diversão. Foi na Vila Olímpia, região nobre de São Paulo, em frente a uma boate, que aconteceu outro caso recente de violência na balada paulistana. Uma foto foi tirada pouco antes de Ronald Braum, promotor de eventos, ser morto com um tiro. No dia 16, ele e cinco amigos se envolveram em uma briga. Motivo: um deles dançou com uma moça e um rapaz, de óculos, não gostou.

Na saída, esse rapaz e outro - que estava de bermuda e, aparentemente, não tinha entrado na boate - discutiram de novo com Ronald e os colegas. O que estava de bermuda sacou uma arma e atirou várias vezes, matando Ronald e ferindo mais três pessoas. Os criminosos ainda não foram identificados.

“A gente vê muita briga em balada, mas não sei se [bebida] é o motivo. Ninguém respeita ninguém mais”, conta o promotor de vendas Rafael Alfredo Braum, irmão da vítima. “Ele não tinha o costuma de ir nessa balada, era a primeira vez. Primeira vez que ele foi conhecer”, diz Maria Rosa Alfredo Braum, mãe se Ronald.

Ronald morava com a mãe em um bairro da periferia: o Campo Limpo, a 13 quilômetros da boate da Vila Olímpia. As roupas dele vão ajudar as vítimas da chuva, no Rio de Janeiro. “O pessoal que também, infelizmente, está passando pela dificuldade. A gente vai doar. Fazer um gesto de bem”, diz o irmão Rafael.

Na madrugada deste domingo (23), na saída de uma boate da Vila Leopoldina, na Zona Oeste da cidade, a reportagem flagrou o desespero de uma moça. Ela diz que estava com o namorado e que, mesmo assim, um homem levantou o vestido dela. Houve briga e ela acabou levando um soco no rosto. “Pelo amor de Deus, ele me bateu muito. Eu quero ir embora”, se desesperava a jovem.

Estão na internet vários flagrantes de brigas na saída de baladas paulistanas. Para evitar que cenas assim terminem em tragédia, Gilson Caleman, o pai de Igor - o estudante que morreu ferido por um copo de vidro - tem uma proposta.

“Ter leis simples que proíbam a venda de bebidas em copo ou garrafa nesses bares caracterizados como balada. E que os seguranças desses locais sejam treinados para lidar com situação de risco”, sugere Gilson.

Médico sanitarista e professor de faculdade no interior paulista, Gilson Caleman faz ainda um apelo emocionado aos pais de jovens. “Ensinem seus filhos um senso de amor ao próximo, de paz. Se a gente não der esses ensinamentos diariamente para os nossos filhos, as tragédias vão continuar acontecendo”, conclui.
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