Olhar Direto

Quarta-feira, 26 de junho de 2024

Notícias | Brasil

Estudiosos analisam ciclo das águas no Pantanal de MS e cheia de 2011

A dinâmica hidrológica no Pantanal é regida pela força das águas das chuvas que se desenrolam ao longo dos meses de outubro a março. De modo geral, ocorre mais chuva nas cabeceiras do Planalto, de forma que a cheia anual resulta em ondas de escoamento que descem paulatinamente pelas distintas sub-regiões da planície pantaneira.


O nível do rio Paraguai em Ladário, de certa forma, representa uma integração e “suavização” de boa parte dessas ondas de escoamento, resultando em uma onda usualmente unimodal, cuja amplitude e duração dependem de diversos fatores como a condição inicial da planície após a fase de vazante, e a distribuição espacial e temporal e a intensidade da precipitação ao longo do período chuvoso.

Tendo em vista que as chuvas são derivadas da dinâmica planetária em relação ao Sol e a complexos fenômenos de dinâmica dos fluidos (interações oceano-atmosfera), é possível afirmar que um ano raramente é igual ao seguinte. A esse fenômeno damos o nome de anti-persistência. Contudo, fenômenos mais persistentes de grande escala ocorrem numa frequência mais baixa (décadas), como as alterações da temperatura superficial do mar. Tais mudanças interferem diretamente na circulação atmosférica e na distribuição e intensidade de chuvas sobre os continentes.

É possível verificar esses fenômenos anti-persistentes (interanual) e persistentes (interdecadal) na régua centenária de Ladário, instalada e mantida com o esforço da Marinha Brasileira. As mudanças da cheia de um ano para outro são usualmente anti-persistentes, ora mais ora menos significativas.

Foram poucos os momentos em que o Pantanal se manteve mais seco por anos consecutivos, embora se ressalte o período de 1964-1973, com 10 anos seguidos de seca. Esses eventos podem estar ligados, portanto, a fenômenos globais mais lentos, mas de forte impacto na precipitação no continente sul-americano. O mesmo padrão de relativa persistência pode ser verificado na década de 1980-1989, exacerbando cheias mais expressivas, usualmente acima dos 6 metros.

A última década de 2000-2009 foi também caracterizada por cheias bem desenvolvidas, sempre acima dos 3 metros, apresentando, no entanto, sinais de redução em relação ao período de 1974-1999 que se refletiu em uma forte estiagem no ano de 2010.

Na transição 2010/2011 o nível do rio Paraguai em Ladário manteve-se ao redor de 1 metro ao longo de 2,5 meses (de novembro a meados de janeiro), quando as precipitações foram abaixo da média histórica. Contudo, a partir do dia 17 de janeiro houve uma mudança repentina e tem chovido intensa e persistentemente na região. Somente no mês de fevereiro a chuva superou os 450 mm em Corumbá.

O nível do rio subiu mais de 2 metros em aproximadamente 2,5 meses, atingindo marcas similares àquelas verificadas em anos de grandes cheias, como 1980, 1982 e 1988. Não é possível, no entanto, precisar se a cheia de 2011 seria um indicativo de um novo período persistente de cheia, como ocorreu após 1974, ou trata-se apenas de uma anti- persistência interanual.

Munidos dessas informações, e com base também no Modelo de Previsão de Cheia (MODELAD), a Embrapa Pantanal vem divulgando cenários plausíveis para a cheia em 2011. A primeira previsão em 31 de janeiro indicava uma cheia entre 3,5 e 4,5 metros e a segunda previsão feita recentemente em 28 de fevereiro sugeria uma cheia entre 4 e 5 metros. A equação do MODELAD a ser usada em março é dada por zmax = 3,05 x ln(z) + 1,06, onde zmax representa o valor da cheia anual em metros, ln representa o logaritmo neperiano e z é o nível do rio em Ladário no dia 31 de março, também em metros. Hoje é possível estimar o estado do rio Paraguai em Ladário no dia 31 de março, assumindo diferentes taxas de incremento diário.

A partir dessa análise de prospecção de cenários plausíveis verifica-se que o nível no dia 31 de março pode se situar aproximadamente entre 4 e 5 metros, dependendo da taxa média de incremento diário ao longo dos próximos dias. Com essa perspectiva e a equação do MODELAD para o mês de março podemos estabelecer cenários plausíveis para a cheia de 2011, que pode se situar entre 5,4 e 6 metros, a ocorrer entre meados e fim de abril. Tendo em vista que a previsão feita pela equação de março tem erro médio de 0,43 metros, um intervalo mais plausível seria entre 5 e 6,4 metros. Portanto, a cheia de 2011 pode ser similar aos anos de 1980, 1982, 1988 ou 1984, dependendo da força da onda de escoamento de água chegando do planalto, e das chuvas ao longo do mês de março, as quais podem ser ainda intensas.
Entre no nosso canal do WhatsApp e receba notícias em tempo real, clique aqui

Assine nossa conta no YouTube, clique aqui
 
xLuck.bet - Emoção é o nosso jogo!
Sitevip Internet