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Sexta-feira, 28 de junho de 2024

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Defensoria Pública do Pará vai definir proteção a agricultores ameaçados

A Defensoria Pública do Pará vai definir, nesta terça-feira (21), o sistema de proteção que será oferecido para as duas famílias de agricultores que estão, desde sábado (18), sob escolta da Força Nacional de Segurança, em Marabá (PA). Eles viviam no assentamento Praialta Piranheira, em Nova Ipixuna (PA), no mesmo local onde os extrativistas José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo foram mortos em uma emboscada, em 24 de maio deste ano.


A avaliação da manutenção ou alteração do tipo de proteção oferecida aos agricultores será feito por recomendação da Secretaria Nacional de Direitos Humanos da Presidência da República.

Com as famílias, também foi retirada a irmã do extrativista Ribeiro da Silva, Claudelice Silva dos Santos, de 29 anos. Ao todo, são dez pessoas, cinco adultos e cinco crianças. Todas foram levadas pela Força Nacional e agentes federais para um local desconhecido em Marabá.

Segundo Márcio Cruz, defensor público paraense, uma equipe técnica deve se encontrar com os agricultores sob escolta nesta terça-feira. "Precisamos entrevistar um a um para sabermos o grau de atividade de cada um, o tipo de ameaças, o risco que correm no local, se parmanecerão em suas antigas casas com proteção policial, se mudarão de endereços sob proteção policial, ou terão a vida completamente alterada caso tenham de ser retirados do estado."

Claudelice disse ao G1, em entrevista exclusiva neste sábado, que está bem. "A tocaia não foi direta para mim. Fizeram duas tocaias para pegar os dois agricultores que ainda vivem no assentamento. Não posso falar onde estou, mas acompanhei a retirada deles do assentamento."

Majestade
Há duas semanas, no início do mês, o G1 acompanhou Claudelice em um visita ao local onde vivia o irmão José Claudio Ribeiro e a cunhada Maria do Espírito Santo. "Esta castanheira era a árvore símbolo da luta de meu irmão. Ele a chamava de Majestade. Pense se não é um crime derrubar uma árvore desse tamanho e vender a madeira por R$ 50. Imagine se não é para defender essa árvore. Toda vez que venho aqui eu fico emocionada, pois lembro de meu irmão e da luta dele para defender a floresta", disse Claudelice na ocasião. (Veja o vídeo acima)

A ação da Força Nacional faz parte da Operação Defesa da Vida, montada pelo governo federal para combater os conflitos agrários no Pará. A ação também foi montada em Rondônia e no Amazonas.

A reportagem do G1 esteve com o agricultor José Martins, 57 anos, no início deste mês, logo depois de ele sofrer as primeiras ameaças de morte e de ter quatro construções em sua propriedade queimadas por fazendeiros da região.Ele está sob proteção da Força Nacional de Segurança e já havia sinalizado que deixaria o assentamento. "O camarada ameaçado vive com medo. É melhor a vida da gente do que a terra. Já queimaram minha casa uma vez e prometeram voltar", disse, na ocasião.

Martins afirmou que deixou o assentamento com dor no coração. "Derrubei muita gota de suor para plantar tudo isso aqui, mas tenho certeza que Deus vai me proteger e dar uma outra terra para eu cuidar", disse neste sábado.

O grupo de agricultores ameaçados também enviou para a ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, relatos sobre novas ameaças de morte contra eles. Em Marabá, uma das ameaças foi feita por telefone, alertando que um agricultor do grupo iria "virar carvão".

Denúncia contra policiais
Um dos escoltados pela Força Nacional já havia denunciado ao G1 que tinha sofrido ameaças de morte por parte de policiais civis e militares. O agricultor, que pediu para não ser identificado, chegou a viajar até Brasília para relatar as ameaças para o Ministério dos Direitos Humanos e do Meio Ambiente. Ele também está entre os escoltados pela Força Nacional desde sábado.

Apuração
O secretário de Segurança Pública do Pará, Luiz Fernandes Rocha, disse que tomou ciência do fato e afirmou que os quatro policiais citados na denúncia estão sob investigação. "É um caso de 2010, quando eu ainda não tinha assumido a secretaria, mas o fato está sendo apurado em um Inquérito Policial. Já ouvimos entre 50 a 60 pessoas sobre isso. Essa investigação está no contexto do crime cometido contra José Claudio Silva e Maria do Espírito Santo [mortos em uma emboscada em 24 de maio, em Nova Ipixuna]. O caso já faz parte da nossa investigação. Tudo tem uma ligação."

O secretário de segurança disse que os policiais investigados continuam trabalhando. "Vamos analisar a conduta deles e depois levar o caso para as corregedorias das polícias Civil e Militar."

O advogado da Comissão Pastoral da Terra (CPT) no Pará, José Batista Afonso, disse que o caso foi levado para a Ouvidoria Agrária do Incra e entregue ao delegado José Humberto Alves, da Delegacia de Conflitos Agrários em Marabá. Para ele, "a investigação do caso não está sendo feita da melhor forma".

Perigo em qualquer lado
No início deste mês, o agricultor que pediu para não ter o nome divulgado havia afirmado ao G1 que está desistindo de permanecer no assentamento em Nova Ipixuna. "Sou ameaçado por fazendeiros e madeireiros. A polícia, que deveria proteger as pessoas de bem, vem até minha casa e me ameaça também. Não me sinto seguro para continuar aqui. Sair para ir trabalhar na roça, deixar minha mulher e filhos em casa, é uma coisa muito difícil agora."
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