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Sexta-feira, 26 de julho de 2024

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Sem vaga em Moema, comerciante deixa cliente estacionar dentro de loja

A eliminação de 3.850 vagas de estacionamentos em Moema, bairro nobre da Zona Sul de São Paulo, há cerca de 15 meses obriga comerciantes e moradores do bairro a improvisar alternativas. Proprietário de uma papelaria na Alameda dos Maracatins, Renato Negri encontrou uma solução drástica: resolviu abrir mão de parte do interior da loja, afastando prateleiras, para clientes poderem estacionar no local.


O corte de vagas nas ruas foi adotadas em maio de 2010 para desafogar as avenidas Ibirapuera, República do Líbano, Indianópolis e Bandeirantes. Comerciantes dizem que a proibição provocou queda de até 80% no movimento, esvaziamento das ruas e aumento da insegurança. Além disso, segundo os moradores, o aumento da velocidade de veículos em ruas internas - antes congestionadas - tem representado um risco maior para os pedestres.
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A Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) afirma que desde a adoção da restrição - acompanhada da criação de outras 1.482 vagas -, a fluidez do tráfego aumentou 40% nos corredores, com reflexo benéfico nas ruas vizinhas. Diz ainda que a Secretaria Municipal de Transportes (SMT) estuda alternativas de estacionamento no bairro.

"Criou-se uma situação em que aquilo virou uma ilha. As ruas ficaram desertas e a segurança diminuiu. Vários acidentes ocorreram por causa do aumento da velocidade dos veículos. As pessoas, principalmente as idosas, não estavam acostumadas. Muitos comerciantes estão revoltados, demitiram funcionários. Os imóveis comerciais estão praticamente às moscas", diz o vereador Eliseu Gabriel (PSB), que fez uma audiência pública sobre o tema na Câmara Municipal de São Paulo.

Gabriel defende a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar se as medidas adotadas pela CET beneficiam o setor imobilário, mas afirma que ainda vai consultar os colegas sobre o assunto. "Quem está comprando esses imóveis são as empreiteiras. Há denúncia das entidades de que isso foi feito propositadamente para afetar o comércio e atender ao interesse das construtores", afirma. Questionada sobre essa suspeita, a CET diz que não vai se manifestar.

O comerciante Marcelo José Sampaio, de 40 anos, que faz parte da Associação dos Moradores e Amigos de Moema (AMAM), diz que a proibição de estacionamento favoreceu, sim, a especulação imobiliária. “Quando o Plano de Readequação Viária foi adotado alegou-se que o objetivo era melhorar a fluidez do tráfego e proteger o pedestre, mas afirmo com tranquilidade que ele favoreceu o esvaziamento do comércio e o adensamento demográfico da região. É possível ver uma grande quantidade de edifícios em construção."

Em nota, a CET diz que "o programa foi concebido com base em estudos que consideravam os gargalos de trânsito e a demanda por vagas de estacionamento" e que "o objetivo das mudanças nas regras é otimizar e aumentar o uso das vias públicas, melhorar as condições de circulação e segurança e, com isso, dar prioridade ao transporte coletivo e compatibilizar a fluidez com acessibilidade".

Negri, que teve de recuar as prateleiras para permitir ao cliente estacionar o carro dentro da loja, afirma que suas vendas caíram em torno de 40%. "Muitos comerciantes venderam ou fecharam as portas. Os meus clientes não vinham necessariamente à papelaria, mas vinham para outros comércios e aproveitavam para passar aqui."

Ele diz notar que os consumidores passaram a evitar o bairro e migraram para outras regiões da cidade. "O que eu consegui fazer foi recuar as prateleiras para que pelo menos um cliente posssa estacionar aqui dentro. Estou aqui há 19 anos. Essa via nunca teve problema de congestionamento. O único ponto de congestionamento é no cruzamento com a [Avenida dos] Bandeirantes. A [Alameda dos] Maracatins virou uma pista de corrida. Os atropelamentos aumentaram demais”, afirma. Não houve resposta por parte da CET sobre esse aumento relatado pelos moradores.

Também na Alameda dos Maracatins, o proprietário da farmácia Farmad’oro Amarildo Cappelaro, de 44 anos, diz ter sido surpreendido com a determinação da CET de extinguir as vagas de estacionamento.

“Tiraram até as vagas de estacionamento que tínhamos por se tratar de uma farmácia. Eu mandei um e-mail solicitando a permissão para estacionar em frente à farmácia, mas nunca obtive respostas. O movimento caiu. Ficou difícil para a gente. Fomos obrigados a fazer convênio com uma loja ao lado. Pago mensalmente R$ 250 para que os meus clientes possam deixar o carro lá, mas a prioridade é o cliente dele. Se o meu cliente chegar e estiver lotado, ele não vai ter onde deixar. Os clientes reclamam muito. Tem cliente que tomou multa e não voltou mais. É uma medida arbitrária que tende a prejudicar o comércio. Já se falou que ia rever, mas, por enquanto, nada mudou. No início parecia que o problema seria resolvido logo, mas não teve solução.”
Amarildo (Foto: Letícia Macedo/ G1)Dono de farmácia, Amarildo teve vagas em frente ao estabelecimento cortadas (Foto: Letícia Macedo/G1)



O proprietário do restaurante Porpetão, Alípio de Andrade Ávila, de 65 anos, localizado na esquina com a Rua Miruna, também fez um acordo com o posto de gasolina que fica em frente ao restaurante.

“Tínhamos vários fregueses que vinham de carro. Esse pessoal não vem mais porque não tem lugar para estacionar. Eu não trabalho para os moradores de Moema. Meu movimento mais forte é de quem trabalha. O pessoal não tem poder aquisitivo para pagar R$ 12 de estacionamento e mais R$ 10. Eu fiz um acordo com o posto de gasolina. O cliente paga R$ 4 e eu pago R$ 1 para ajudar, mas é pouco. Se liberassem pelo menos um lado da Maracatins já ajudaria, mas não tem nada."

Segundo Ávila, até para receber entregas é difícil. "A Miruna não tem trânsito e o caminhão não pode parar nem para descarregar. Hoje ninguém mais quer imóvel que não tenha estacionamento. Eles [que tomaram a decisão de proibir o estacionamento] estão em um escritório e não sabem o que acontece. A gente paga uma fortuna de impostos, tem que manter um quadro de funcionários e ainda fica prejudicado com a queda no movimento, porque ninguém pensou nas consequências de eliminar as vagas de estacionamento.”
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