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Segunda-feira, 29 de julho de 2024

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‘Lugar errado, na hora errada’, diz corintiano sobre prisão no Anhembi

“Estava no lugar errado, na hora errada”, disse neste sábado (25) o estudante Cauê Santos Ferreira, integrante da Gaviões da Fiel, preso por quatro dias sob a acusação de ter destruído documentos e provocado danos no Anhembi na última terça-feira (21), quando integrantes de escolas de samba invadiram a área onde era feita a apuração das notas dos jurados do carnaval deste ano de São Paulo.


Na sexta-feira (24), o jovem de 20 anos deixou a penitenciária de Tremembé, no interior do estado, após o Grêmio Recreativo Gaviões da Fiel Torcida pagar fiança de R$ 12,4 mil fixada pela Justiça para que ele responda aos crimes solto.

O pedido de liberdade para Cauê, feito pelo departamento jurídico da organizada, também foi estendido ao autônomo Tiago Ciro Tadeu Faria, 29, participante da Império da Casa Verde, que também deixou o mesmo presídio após ter sido flagrado por câmeras de TV pulando um cercado e rasgando documentos.

Em entrevista ao G1, Cauê negou as acusações de supressão de documentos e dano ao patrimônio público pelas quais foi indiciado pela Polícia Civil. Disse ainda que é um dos responsáveis pelo departamento de bandeiras da Gaviões, tanto em relação à torcida do time de futebol do Corinthians quanto à da escola de samba. Afirmou também que não pertence à diretoria da organizada e pediu desculpas à sua família por ter entrado sem autorização dos dirigentes no espaço reservado no Anhembi à presidência e diretores.

De acordo com Davi Gebara, advogado da Gaviões e defensor dos interesses de Cauê, o rapaz será suspenso pela organizada por ter ficado na área destinada somente àqueles que tinham pulseirinhas de identificação da diretoria das escolas. “Ele não poderia estar lá. Não havia sido convidado pelos diretores. Por esse motivo sofrerá essa punição”, disse Gebara.

Por conta do tumulto de terça no Anhembi, a apuração foi paralisada e membros da Gaviões protagonizaram cenas de vandalismo. A Polícia Militar interveio. Um carro da Pérola Negra foi incendiado e a Delegacia Especializada de Assistência ao Turista (Deatur) procura os autores. Horas após a confusão, reunião entre os presidentes das escolas decidiu declarar a Mocidade Alegre, que lidera a disputa, campeã.

O delegado Osvaldo Nico Gonçalves, da Deatur, investiga a suspeita de que a invasão no Anhembi tenha sido “combinada”, “orquestrada” e “ordenada” por dirigentes das agremiações. São investigadas as escolas Império da Casa Verde, Gaviões da Fiel, Camisa Verde e Branco, Vai-Vai, Pérola Negra e Tom Maior. Um diretor da Camisa foi indiciado pelos mesmos crimes atribuídos a Tiago e Cauê.

Leia abaixo a entrevista que o membro da Gaviões desde 2008 concedeu ao G1:

G1 – Como você está se sentindo após sair da prisão?
Cauê Santos Ferreira - Aquilo lá não é meu lugar. Não sou bandido. Foram dias ruins para mim, para minha família, minha namorada. Minha imagem ficou exposta.

G1 – Quem pagou a fiança?
Cauê – Foi a Gaviões. Graças a Deus todo mundo correu por mim. A vaquinha veio deles e agradeço muito. Até porque não tinha esse dinheiro todo [R$ 12,4 mil] e ninguém está me cobrando para pagar isso depois.

G1 – Você foi preso sob a acusação de destruir documentos e causar danos...
Cauê – Não fiz nada disso [interrompendo a pergunta]. Não apareço em imagem nenhuma da TV destruindo nada. Não chutei troféu, não rasguei cédulas nem causei dano.

G1 – Então por que você foi preso?
Cauê - Estava no lugar errado na hora errada. Estava onde eu não podia. Eu ia para a arquibancada com a torcida, mas não tinha mais lugar. Então desci e passei ‘normal’ pela segurança da área reservada à diretoria, onde ficam àquelas mesas. Quem quisesse entrar armado entrava. A segurança era falha no dia. Eu não tinha nem a pulseirinha e entrei. No dia da apuração, entrei na área reservada à diretoria das escolas e fiquei na mesa com o pessoal da Gaviões. Sempre tive um bom relacionamento com os diretores. Mas não sou membro da diretoria e não tive autorização deles para estar ali.

G1 - Como foi sua prisão?
Cauê - O Choque da Polícia Militar. Foram os policiais da PM que me prenderam no momento da confusão. Não entendi. Alegaram que eu causava arruaça. Fui acusado de supressão de documentos e dano ao patrimônio. Sou inocente. Não fiz nada disso.

G1 – Então o que você fez?
Cauê – Vou contar do início, ok? Não deu tempo de chegar à arquibancada para ver a apuração de lá. Então queria acompanhar a apuração e passei pelos seguranças da Liga [Independente das Escolas de Samba de SP]. Sentei na mesa da Gaviões porque conheço o pessoal. Então soube que houve uma reunião. Eu não participei, mas o comentário que tinha é que não cairia ninguém e ano que vem cairiam quatro escolas por causa da troca dos dois jurados na última hora. Estávamos tranquilos na mesa e a expectativa era essa do combinado, mas nada disso aconteceu e o pessoal das escolas se revoltou. A Gaviões então tirou a faixa da arquibancada quando deram uma nota 8.9 no quesito evolução. Ai quando vi, já tinha empurra-empurra. Lembro do Tiago [Faria] pulando o cercado e pegando as notas. Eu fiquei com receio de ficar sozinho onde estava porque não tinha autorização e poderiam me tirar de lá. Então acompanhei o pessoa da Gaviões. Passei pelo cercado quando os membros das outras escolas passaram. Aí apareceu um PM e me prendeu. Foi isso. Foi isso o que fiz.

G1 – A polícia suspeita que você e outros membros das escolas foram orientados a invadir o local da apuração, que tudo foi orquestrado pelos diretores das agremiações.
Cauê - Não teve orientação de ninguém da Gaviões, não teve ‘orquestragem’. Foi coisa de momento, momento de cada um de sair da mesa. Alguns foram protestar contra as notas outros contra a apuração que poderia rebaixar escolas, indo contra o combinado de não rebaixar ninguém.

G1 – Se arrepende de algo?
Cauê – Eu estava no lugar errado na hora errada. Não tinha autorização. Por isso, errei e peço desculpas à minha família por ter causado essa situação. Em relação a Gaviões, conversei com o pessoal: serei suspenso por ter entrado sem autorização. Quero deixar claro que serei suspenso por ter entrado sem autorização e não porque a Gaviões acha que rasguei documento ou causei dano. A Gaviões me deu apoio e sabe que sou inocente dessas acusações.

G1 – Quais são seus planos agora?
Cauê - Eu espero provar minha inocência . Eu entre de laranja nessa história. A PM precisava de alguém da Gaviões e me pegou. Não tinha passagens pela polícia. Nunca fui a uma delegacia, nem para fazer boletim de ocorrência.

G1 – Pretende voltar a torcer pela Gaviões no carnaval, acompanhar desfiles apuração?
Cauê - Jogos de futebol sim, mas carnaval tenho que pensar um pouco mais. Fui preso no sambódromo, fiquei no presídio, queria sair de lá. Foi meio traumático. Queria sair de lá e sai. Agora quero falar para todo mundo me deixar em paz.
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