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Segunda-feira, 29 de julho de 2024

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Em 6 anos, polícia de SP identifica 800 torcedores envolvidos em brigas

Cerca de 800 torcedores de 40 torcidas organizadas de times de futebol estão envolvidos nas brigas que ocorreram em São Paulo durante os últimos seis anos. É o que aponta levantamento inédito feito pela Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi) da Divisão de Proteção à Pessoa do Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP) da Polícia Civil de São Paulo.


O G1 teve acesso a esses dados e divulga abaixo os nomes das torcidas com o número total de torcedores cadastrados e fotografados destacado entre parênteses. Entidade e integrantes são investigados e monitorados nas redes sociais na internet pela delegacia especializada. A identidade dos integrantes suspeitos de participar de confrontos não foi informada.

Trinta e sete torcidas paulistas, duas fluminenses e uma paranaense foram listadas como suspeitas de envolvimentos em brigas, vandalismo, danos ao patrimônio público, assaltos, furtos e até assassinatos entre os anos de 2006, quando a Decradi foi criada, e 2012. Das organizadas procuradas pela equipe de reportagem, sete comentaram o assunto (as respostas foram mantidas na íntegra); 16 não responderam aos e-mails e recados deixados por telefone e 17 não foram localizadas.

Torcedores fotografados
“Temos fotos de cerca de 800 torcedores envolvidos diretamente em brigas desde 2006 até agora. Sempre que é possível, tentamos monitorar a maioria deles nas redes sociais. Sabe como é, são sempre os mesmos briguentos e reincidentes que arrumam confusão. Ao todo, a delegacia possui fotos de 17.284 integrantes de torcidas organizadas que já tiveram algum problema com a polícia, seja por vandalismo ou até por porte de entorpecente”, disse o delegado Arlindo José Negrão Vaz, da Decradi.

De acordo com a investigação, o último caso de brigas entre torcidas registrado em São Paulo aconteceu no dia 25 de março deste ano, quando dois palmeirenses da Mancha Alviverde foram mortos após confronto marcado pela internet com corintianos da Gaviões da Fiel na Zona Norte da capital paulista.

Naquele dia, quase 300 torcedores rivais se enfrentaram com paus, pedras, barras de ferro e armas de fogo na Avenida Inajar de Souza, horas antes do jogo entre Corinthians e Palmeiras no estádio do Pacaembu, na Zona Oeste, pelo Campeonato Paulista. Quatro integrantes da Gaviões estão presos e outros cinco são procurados por suposto envolvimento nas mortes de Andre Lezo e Guilherme Moreira, ambos da Mancha.

Para a polícia, o confronto de março foi marcado para vingar a morte do corintiano Douglas Karin Silva, de 27 anos, em 28 de agosto de 2011. O corpo dele foi achado no Rio Tietê, em São Paulo. Horas antes, ele havia deixado a sede da Gaviões da Fiel. Três palmeirenses chegaram a ser presos pelo crime, mas foram liberados pela Justiça. Um dos suspeitos, no entanto, continua detido por causa de posse ilegal de arma.

Casos elucidados
O torcedor que é pego em confusão é levado para a Decradi, onde é fotografado. As fotos ficam num computador e são mostradas para eventuais vítimas de agressões. Durante os últimos seis anos, a delegacia instaurou mais de 100 inquéritos envolvendo confrontos de torcidas.

“Todos elucidados com autores identificados, presos ou procurados”, disse o delegado Arlindo Negrão sobre os inquéritos. “Esse trabalho de levantamento de dados e fotos é pioneiro. Ele é importante para nosso trabalho. Saber quantas torcidas, torcedores e caso temos. É um trabalho de formiguinha graças à investigação. São informações enormes, com fotos, e características dos suspeitos. A vítima sempre consegue identificar seu agressor. A pessoa vem e dá a característica de quem a agrediu. Então mostramos várias fotos no banco de dados. Graças a isso é que conseguimos esclarecer esses casos”.

Dez policiais da Decradi participam diretamente das investigações e do monitoramento das torcidas suspeitas vasculhando a web. Dois delegados, três escrivães e cinco investigadores se revezam em tentar encontrar mensagens suspeitas ou subliminares de agendamentos de confrontos nas páginas frequentadas pelos torcedores: sites de clubes, de torcidas, blogs, Orkut, Facebook, Twitter etc.

Torcidas multadas
Recentemente, a Justiça determinou o pagamento de multa de R$ 30 mil para Gaviões, Mancha, Guerreiros da Tribo e Fúria Independente, essas duas últimas do Guarani, em Campinas, por considerar que elas participaram de brigas de torcidas. Ainda por causa da suspeita de participarem de confrontos, o Ministério Público também pediu a extinção de seis organizadas –além das quatro citadas acima, Serponte e Jovem Amor Maior, ambas da Ponte Preta, também de Campinas. A Promotoria também solicitou à Justiça que proíba a entrada de torcedores dessas entidades nos estádios de futebol.

Atualmente, oito torcidas organizadas e 59 torcedores estão proibidos de ir assistir aos jogos de seus times em São Paulo, segundo a Federação Paulista de Futebol (FPF). “A proibição é por tempo indeterminado ou determinado. Cada caso é um caso”, disse Marcos Marinho, presidente da Comissão Estadual de Arbitragem de Futebol e diretor do Departamento de Segurança e Prevenção.

O que dizem as torcidas

Gaviões da Fiel
"A Decradi sempre acompanha as torcidas organizadas desde a sua fundação. Mas o trabalho da delegacia não é o de investigar as torcidas, mas, sim, os indivíduos que cometem crimes com as camisas das torcidas. Não é a torcida que comete crime, mas indivíduos que se infiltram nela. A Gaviões da Fiel sempre combateu a atitude de brigar, tanto que expulsa quem sofre condenação por brigas."

Estopim da Fiel
"Esse é o trabalho da polícia, investigar para prevenir. Muito me espanta essa sua informação, pois a Estopim da Fiel não tem nenhum índice de violência e não estamos envolvidos em nenhum tipo de confronto, brigas ou algo desse tipo. Sempre saímos com escolta policial, e seguimos as determinações dos órgãos competentes pela organização dos campeonatos. E estamos à inteira disposição para ajudar. E até fazemos um convite para a sua produção para acompanhar um jogo com a nossa família para que tenha ideia como é o nosso procedimento."

Mancha Alviverde
"A partir do momento que existe um fato (crime), a Polícia Civil tem o dever de investigar e esclarecer os fatos, se no final da investigação houver comprovação de participação de qualquer membro da nossa torcida organizada, os mesmos serão expulsos."

Dragões da Real
"O monitoramento é valido para que dessa forma a Polícia puna realmente os culpados e individualize as ações para não punir as agremiações como um todo. A Dragões
tem uma filosofia diferente e cooperamos com todos os trabalhos das autoridades que visa o bem do futebol!!"

Serponte
"Ser monitorado pela polícia civil ou por qualquer polícia, dá arrepio, pois lembra a ditadura. Vivemos num estado democrático e as pessoas escrevem o que querem, especialmente nas redes sociais, da mesma forma que artistas escrevem músicas, novelas ou programas humorísticos com teor duvidoso. Tudo permitido pelo estado democrático. Em relação à Torcida Serponte, hoje somos uma torcida relativamente pequena e trabalhamos para que nossos associados não se envolvam em confusões, bem como não incentivamos a criação de músicas ou formação de grupos (bondes) para brigar. Temos de certa forma monitorado os nossos nas redes sociais para terem cautela no que escrevem ou propõem. Por esta atitude da torcida, já perdemos vários integrantes com essa mentalidade violenta, porém ganhamos outros melhores. Infelizmente, a geração de adolescentes e jovens da sociedade atual não tem ou não respeita limites ou autoridades, o que dificulta a educação aqui e em qualquer escola."

Fúria Andreense
"Não vemos problema em ser monitorados por qualquer instituição, estamos cientes do trabalho sério que realizamos à frente da torcida e em nossa luta pelo combate à violência nos estádios. Achamos positivo uma maior proximidade e atuação das instituições como a Polícia Civil para evitar qualquer tipo de ato violento seja de torcidas, de policiais, de grupos, etc. Em nosso país temos problemas principalmente de corrupção por parte das instituições que acabam denegrindo um todo, por exemplo os maus policiais, os maus médicos, etc."

Os Fanáticos
"Para nós da Torcida Os Fanáticos, é excelente que exista uma investigação e um acompanhamento nas torcidas organizadas, desde que exista uma punição aos verdadeiros culpados e não seja generalizada como a maioria da imprensa gosta de fazer. Não temos nada a esconder, portanto, a presença da polícia em nossa sede só tende a facilitar nosso trabalho."
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