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Domingo, 28 de julho de 2024

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Morte de índio encerra atividades da Kari-Oca durante a Rio+20

O índio da etnia karajá que morreu na madrugada desta sexta-feira (22), no alojamento indígena montado na Aldeia Kari-Oca, em Jacarepaguá, na Zona Leste do Rio, havia se sentido mal duas vezes desde que chegou ao local, em 12 de junho. Por conta da morte de Ismael Kurananá Karajá, 48 anos, o encerramento dos Jogos Verdes, que seria realizado na tarde desta sexta, foi cancelado. Todos os demais índios, de 16 etnias, sendo 14 brasileiras e duas estrangeiras, abandonaram o espaço em solidariedade aos karajás.


A primeira vez que Ismael se sentiu mal foi na terça-feira (19). "Ele estava com um resfriado leve, foi medicado e voltou às atividades", disse Maglia Terezinha, assessora especial para assuntos indígenas do Governo federal.

A segunda vez que ele passou mal foi na tarde desta quinta-feira (21), quando reclamou de dores fortes nas costas. "Ninguém esperava. Acordamos com alegria ontem [quinta-feira] de manhã. Estávamos juntos e, de repente, ele sentiu uma forte dor nas costas. Um primo nosso deu um analgésico para ele, mas a dor demorou a melhorar. Depois disso, eu o levei para receber atendimento médico. Imediatamente ele foi levado para o hospital", disse o cacique Iwraru Karajá.

Segundo Iwraru, Ismael voltou com uma receita médica, "ficou bem, conversou com a gente na fogueira. O nosso pajé chegou a conversar com ele para saber como estava a saúde dele, estava preocupado com ele. O Ismael disse que estava bem."

O cacique disse ao G1 que durante os dias que ficaram na Kari-Oca, Ismael dormiu em uma rede do lado de fora do acampamento. "Por causa da chuva forte de ontem, a gente entrou para o acampamento. Quando foi de manhã, perto das 6h, quando todo mundo acorda, alguém foi acordá-lo na rede, mas ele estava diferente, já estava morto", afirmou Iwraru.

Sepultamento karajá
De acordo com o cacique, o corpo de Ismael foi levado para o Instituto Médico-Legal. A família aguarda a liberação e os trâmites para o traslado do corpo até a aldeia, que fica em São Félix do Araguaia, em Mato Grosso. "Na nossa cultura, a família cava um buraco e enterra o corpo. Depois, a família faz luto de dois dias. Em seguida, o líder da aldeia libera brincadeira, canto e acaba o luto. Cinco dias depois, nós damos comida para o espírito, que começa a trabalhar. Depois o líder da aldeia libera festona. Tem vezes que a família lamenta um mês, dois meses, depende da resistência da família em ficar velando", explicou Iwraru.

"Nós viemos aqui para falar da nossa mãe terra. Foi marcante essa morte. Hoje eu chorei a morte de Ismael, ontem chorei a falta de meu irmão. Ismael morreu lutando para entregar um documento para representantes da ONU. Conseguimos fazer isso pelos nossos representantes que conquistaram um espaço indígena no Riocentro. Agora é entregar para Deus", disse o cacique.

Os indígenas que estavam na Kari-Oca seguiram em ônibus para suas aldeias na tarde desta sexta-feira. "Em solidariedade ao parente que morreu, todos decidiram sair da Kari-Oca. É a solidariedade do índio com o luto de outra tribo", disse Marcos Terena, orrganizador da aldeia durante a Rio+20.

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