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Sábado, 27 de julho de 2024

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1ª do país em índice da FGV, Trabiju tem apenas um homicídio na história

Em 15 anos de emancipação, o município de Trabiju (SP) registrou um único homícidio na história: o crime aconteceu há 12 anos. A cidade, a 286 km da capital, tem o maior índice de desenvolvimento social do país, segundo dados da Fundação Getúlio Vargas (FGV) divulgados na última terça-feira (4). Além da baixa criminalidade, outro destaque que ajuda a colocar a cidade à frente dos 5.564 municípios do Brasil no ranking é a erradicação da mortalidade infantil. O único caso aconteceu em 2001.


A aposentada Maria Angela Fonseca Buzuti, de Bocaina (SP), mudou-se há 30 anos para Boa Esperança do Sul (SP), de onde Trabiju era distrito até 1997. "Eu sempre morei aqui e daqui eu não saio porque é bom demais. É muito tranquilo, eu não troco Trabiju por nada", diz Maria Angela.

Dados da Secretaria de Segurança Pública (SSP) mostram que neste ano apenas 13 delitos, entre roubos e furtos, foram registrados na cidade de 1.544 habitantes. “O que se acumula de boletim de ocorrência aqui durante cinco meses é o equivalente aos casos registrados em um dia em qualquer cidade média”, afirma o delegado titular Ricardo Farah, responsável também pela vizinha Boa Esperança do Sul (SP), de onde Trabiju era distrito até 1997.
Trabiju é a primeira cidade do país em desenvolvimento social, aponta FGV (Foto: Felipe Turioni/G1)Ricardo Farah é o delegado titular de Trabiju e de
Boa Esperança do Sul (Foto: Felipe Turioni/G1)

“A distância de uma cidade para outra é de sete quilômetros e enquanto aqui não se registra uma ocorrência há semanas, só no final de semana, Boa Esperança registrou três grandes ocorrências, entre elas um caso de latrocínio”, compara o delegado. “A proximidade mostra que a cidade não está isolada do restante do país, mas o estilo de vida aqui é diferente", analisa ele.

Comprometimento
Para o delegado, há uma “arma secreta” na cidade. “Existe um comprometimento da população em ajudar. Ao ver qualquer movimentação estranha, um carro diferente, as pessoas ficam preocupadas e acionam a polícia, tentam evitar qualquer coisa”, avalia. “É diferente dos grandes centros onde todo mundo se fecha e não está nem aí para o vizinho”, observa.

Segundo ele, dois casos de roubo a caixas eletrônicos foram evitados com ajuda de pessoas que notaram a ação. Além disso, a cidade conta com um sistema de vigilância de câmeras que funciona há quatro anos, na área central da cidade.
Trabiju é a primeira cidade do país em desenvolvimento social, aponta FGV (Foto: Felipe Turioni/G1)Cidade só registrou um caso de mortalidade na
infância em 2001 (Foto: Felipe Turioni/G1)

Saúde
Segundo o estudo da FGV, o Indicador Social de Desenvolvimento dos Municípios (ISDM) de Trabiju foi de 6,28, numa escala de 0 a 10. No setor segurança/saúde o índice superou a expectativa e atingiu a casa dos 11,10 - o dobro da média registrada no país. Segundo a secretária de Saúde, Emília Ferrari, um único caso de mortalidade infantil, por má formação do feto, foi registrado em 2001; e de lá para cá mais nenhum caso ocorreu.

O programa de prevenção é comum, o que muda, segundo ela, é mais uma vez o comprometimento da população. “As pessoas são envolvidas, se alguma adolescente fica grávida e não nos procura, nós ficamos sabendo e procuramos a futura mamãe para dar o acompanhamento necessário”, afirma Emília.

Educação
Esse mesmo comprometimento fez a pedagoga Andréia Fazan chegar a ser diretora de Educação do município. “Eu cresci em Trabiju e estudava na mesma escola que hoje ajudo a coordenar. Quando eu era criança, eu dizia que seria professora nela, fiz pedagogia e encontrei uma maneira de continuar”, relembra.
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Trabiju, SP, é a primeira do país em desenvolvimento social, aponta FGV

No setor de educação, a cidade obteve o ISDM de 5,7. Na rede municipal, do 1º ao 5º ano, por exemplo, o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) alcançado foi de 5,5, meta que estava prevista para o município apenas em 2019. Segundo a diretora, essa conquista foi obtida pelo baixo número de evasão nas duas escolas que existem na cidade. Dos 260 alunos que frequentam as aulas entre o 6º e 9º ano, apenas dois estudantes não comparecem à escola por problemas familiares.

Mesmo com um número baixo de evasão, a diretora afirmou que ainda não está satisfeita. “Nossa expectativa é zerar esse número com mais cobrança”, diz. Segundo ela, isso será possível com a presença de diretores em cada unidade de ensino. Atualmente, uma mesma equipe dirige as escolas. “Imagine como seria se tivéssemos um diretor que fosse até a casa desses alunos com problema, eles se sentiriam importantes e voltariam para a escola”, opina.
Trabiju é a primeira cidade do país em desenvolvimento social, aponta FGV (Foto: Felipe Turioni/G1)Trabiju é a primeira cidade do país em desenvolvimento social, aponta FGV (Foto: Felipe Turioni/G1)

Trabalho e renda
Na área de trabalho e renda, Trabiju ficou com médias 6,33 e 5,73, respectivamente. Na cidade, quatro empresas devem se instalar nos próximos seis meses, segundo a Prefeitura. O valor dos investimentos não foi divulgado. Entre as empresas, está uma fábrica de beneficiamento de amendoim.

A escolha pela cidade para a instalação da empresa foi a isenção de impostos e a localização. “A cidade doou o terreno, ofereceu isenção de impostos, como outras também fazem, mas a localização no centro do Estado foi determinante”, confirma o engenheiro agrônomo Sadaho Yamamoto.

Para o prefeito de Trabiju, Maurílio Tavoni Júnior, o interesse pela cidade mostra que o município é respeitado. “Não é porque somos pequenos que as pessoas não buscam investimento aqui, somos respeitados e o trabalho de anos está sendo valorizado agora pelo Brasil”, afirma.

A principal fonte de renda do município é a agricultura baseada na cana-de-açúcar. São pequenos produtores que abastecem quatro usinas da região: duas em Araraquara, além de Ibaté e Bocaina. O Produto Interno Bruto (PIB) é R$ 18,2 milhões e a renda per capita é R$ 11,9 mil.

Satisfação
O desenvolvimento do município fez com que a técnica financeira Maria Aparecida Colim, de 58 anos, retornasse para a cidade onde nasceu após morar em São Paulo (SP) e Porto Alegre (RS) durante 28 anos.

“Saí depois que me formei e voltei quando meu marido morreu, há nove anos, e percebi que essa era a cidade em que eu conseguiria viver”, justifica Maria Aparecida.

“Quando pensei em voltar com os meus dois filhos, fiquei aliviada ao saber que a cidade não era mais terra e mato e tinha uma boa estrutura de saúde e segurança, como os grandes centros, mas sem tantos problemas”.

Para a filha de Maria Aparecida, a estudante Ana Carolina Colim, de 18 anos, a maneira pacata da cidade não é um problema para alguém jovem. “Tenho segurança aqui, e temos o apoio das cidades vizinhas, como Araraquara, onde estudo e vou às festas”, diz.

O namorado mora em Boa Esperança e o contato por celular é feito porque os dois têm a mesma operadora de telefonia, a única que funciona na cidade. “Só uma operadora funciona aqui, mas não temos problema e temos internet para ajudar na comunicação”, garante.
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