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Quinta-feira, 25 de julho de 2024

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'Parece que ele já vai chegar', diz mãe de vítima de incêndio na boate Kiss

A impressão da funcionária pública Nadir Krauspenhar da Silva, de 49 anos, é de que o filho Augusto Sergio pode a qualquer momento abrir a porta da casa...

A impressão da funcionária pública Nadir Krauspenhar da Silva, de 49 anos, é de que o filho Augusto Sergio pode a qualquer momento abrir a porta da casa onde ela mora no Bairro Camobi, em Santa Maria. Um mês após o incêndio na boate Kiss, completado nesta quarta-feira (27), a família ainda tenta superar a dor pela ausência do filho.


O jovem de 20 anos foi uma das 234 pessoas que morreram sufocadas ou queimadas na fatídica madrugada do dia 27 de janeiro, durante uma festa promovida por estudantes universitários na casa noturna. Outras cinco vítimas morreram nos dias subsequentes, internadas em hospitais de Santa Maria e de Porto Alegre.

Guto, como era chamado por amigos e familiares, estudava Direito no Centro Universitário Franciscano (Unifra). Também era aluno de Filosofia na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), curso que havia trancado recentemente. Até sua vida ser interrompida precocemente naquela madrugada, ele sempre chegava em casa no início da noite, após o trabalho no Fórum da cidade, onde estagiava havia dois anos.

O drama de Nadir e do marido, o militar da reserva Sergio da Silva, de 49 anos, e do caçula Julio Cesar, 16, começou depois que um primo de Nadir retornou do Centro Desportivo Municipal (CDM), o Farrezão, para onde foram levados os corpos das vítimas do incêndio. Lá, ao lado de centenas de outros jovens sem vida, ele encontrou Augusto Sergio, depois de a família ter percorrido diversos hospitais em busca de notícias. Desde então, eles vivem uma espécie de pesadelo sem fim.

“Quando meu primo voltou do ginásio com o celular e a carteira dele, perdemos a noção do tempo. E até hoje parece que ele já vai chegar. Ele chegava por volta das 19h, e parece que ele já vai chegar. E durante o dia, parece que ele está viajando”, conta a mãe, que recebeu a reportagem do G1 em um final de tarde. “Este é o horário mais complicado”, acrescenta.
Medalhas no quarto de Augusto (Foto: Felipe Truda/G1)Medalhas de boxe de Augusto ainda estão
penduradas no quarto (Foto: Felipe Truda/G1)

Para Nadir e Sérgio, os dias parecem intermináveis. Um mês depois, ainda é difícil para a família aceitar a realidade. Por vezes, chegam a se referir ao jovem no presente, como se não tivesse partido. Sorriem ao lembrar dele. A dor causada pela ausência do primogênito ainda não foi superada e talvez jamais seja. Mas o casal encontra forças na fé. A religião espírita os ajuda a seguir em frente.

“A própria vida é o espírito. A matéria é temporária. Nos apegamos a isto para não sofrer, porque há famílias que ainda estão desesperadas depois de um mês. Mesmo assim há momentos em que ficamos tontinhos. Às vezes estamos falando bem, e de uma hora para outra ficamos tristes. E o que tentamos fazer é lembrar dos momentos bons”, conta Sérgio.

Augusto dividia o quarto com Júlio. Na estante, ainda há medalhas penduradas e luvas de boxe, o esporte praticado pelo jovem. O computador e o telefone celular continuam lá. As fotografias digitais serão impressas e guardadas como recordação. As roupas que ele usava foram doadas, menos as de festa, que Augusto Sergio vestia para ir a boates como a Kiss. Essas foram guardadas por Nadir, talvez para lembrar de uma noite impossível de ser esquecida. Por ela e por muitas outras famílias.

Entenda
O incêndio na boate Kiss, em Santa Maria, região central do Rio Grande do Sulx, deixou 239 mortos na madrugada de domingo, dia 27 de janeiro. O fogo teve início durante a apresentação da banda Gurizada Fandangueira, que fez uso de artefatos pirotécnicos no palco. De acordo com relatos de sobreviventes e testemunhas, e das informações divulgadas até o momento por investigadores:

- O vocalista segurou um artefato pirotécnico aceso.
- Era comum a utilização de fogos pelo grupo.
- A banda comprou um sinalizador proibido.
- O extintor de incêndio não funcionou.
- Havia mais público do que a capacidade.
- A boate tinha apenas um acesso para a rua.
- O alvará fornecido pelos Bombeiros estava vencido.
- Mais de 180 corpos foram retirados dos banheiros.
- 90% das vítimas fatais tiveram asfixia mecânica.
- Equipamentos de gravação estavam no conserto.
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