O último senso demográfico do IBGE sobre a população indígena realizado em 2010 revelou que existem cerca de 3 mil índios no estado do Piauí. Deste número, 1.333 estariam vivendo na capital Teresina e os outros 1.611 moram no interior. Para o cacique José Guilherme da Silva, 62 anos, da comunidade Itacoatiara dos Remanescentes Indígenas da cidade Piripiri, o número de indíos tem aumentado no estado, mas sua cultura está sendo dizimada.
O cacique revela que na cidade de Piripiri vive atualmente cerca de 300 índios, mas que a falta de uma unidade tem provocado a destruição de sua cultura. “Nós vivemos espalhados pelo subúrbio da cidade, não temos terras, emprego e a maioria dos descendentes da nossa etnia, os Tabajaras, vivem em situação de pobreza”, revela José Guilhereme.
De acordo com Guilherme, a falta de terra prejudica no resgate das tradições e costumes. “Sem ter terra para nossa aldeia, não temos como preservar a nossa cultura que está acabando. Estamos vivendo em casas e nas ruas, junto com o branco e convivendo com todos os problemas que antes não conhecíamos, quando dependíamos somente da terra para sobreviver”, lamenta o cacique.
Fuga da seca
José Guilherme, também contou com os povos da etnia Tabajaras chegou ao estado do Piauí fugindo da seca que assolava a região da Serra da Ibiapaba, no estado do Ceará. “O nosso povo fugia da seca que destruía a região, a maioria de nossas terras já havia sido tomada pelo homem branco e o pouco que nos restou não era suficiente para sobrevivermos a uma seca. Com isso, os Tabajaras se espalharam pelo Piauí, Maranhão e outras áreas do Ceará”, relatou o cacique.
Sobrevivência
Para conseguir sobreviver, o cacique conta que tem renda através da venda de peças de artesanatos, como brincos, pulseiras e colares, característicos da cultura indígena. Ele também revela que para conseguir se manter, outros indígenas da cidade fazem 'bicos' ou pedem esmolas.
“Alguns até têm estudo e conseguem um bom emprego, mas a maioria vive desempregada na cidade ou tem uma pequena lavoura, onde colhem o mínimo para sobrevier. Há também algumas famílias que se humilham pedindo esmolas para poder ter o que comer”, ressaltou José Guilherme.
Terras para aldeia
Segundo o cacique a única solução para os problemas enfrentados pelos povos indígenas no estado seria a distribuição de terras. “Nós queríamos ter a nossa terra para poder montar nossa aldeia, resgatar nossa cultura e fazer com que todos possam ter uma vida digna, como era as dos nossos antepassados”, disse o cacique.
Através da terra, o cacique explica que sua etnia, conseguiria plantar e colher o alimento e ainda produzir artesanato para vender e ajudar na renda de toda a aldeia. “Hoje se queremos produzir uma peça de artesanato, como um pilão, temos que roubar a matéria prima de um terreno particular”, reclama Guilherme.
O cacique também reclama da falta de empregos. José Guilherme conta que três dos seus filhos, foram embora do Piauí para São Paulo para conseguir emprego. “Tenho seis filhos, mas três deles tiveram que ir à São Paulo em busca de emprego porque na cidade não tinha”, afirma José.
Apoio do governo e da sociedade
Para o presidente da Associação Itacoatiara de Remanescentes Indígenas de Piripiri, Francisco Dias, o apoio que é dado pelos órgãos do governo e até mesmo da sociedade é muito pouco. “Nossa cultura está pouco a pouco morrendo, os mais de 300 índios de Piripiri, quase não têm nenhuma assistência do governo”, informou Francisco.
Segundo Francisco Dias, a sociedade ainda vê os povos indígenas de forma marginalizada e sem o merecido respeito. “A população não valoriza a origem de sua cultura, somos sempre excluídos", diz Francisco.
Funai no Piauí
Os dados do senso 2010 do IBGE revelaram que em pelos menos 10 cidades do Piauí, têm uma população indígena. Eles estão presentes nos municípios de Teresina, Floriano, Queimada Nova, Parnaíba, Bom Jesus, São Raimundo Nonato, Oeiras , Picos, São João do Piauí e Piripiri.
Mas apenas Piripiri possui uma Coordenação Técnica Local (CTL) da Fundação Nacional do Índio (Funai). Para o coordenador da CTL de Piripiri, Yuri Fernando, ainda são pequenos os investimentos voltados para dar melhor qualidade de vida aos povos indígenas.
“Estamos atendendo um grupo de 52 famílias na região, sempre buscando melhorias e procurando legitimar as reinvindicações de todos, mas atendendo de acordo com nossas possibilidades. Sabemos que ainda faltam investimentos e incentivos para que essas pessoas possam voltar a ter o espírito de seus ancestrais”, afirmou Yuri.
Semana dos Povos Indígenas no Piauí
Para comemorar o dia do índio, o Governo do Estado realiza de 19 a 26 de abril, a 10ª Semana Nacional dos Povos Indígenas. O evento acontece no Museu do Piauí, no Centro de Teresina. Durante a semana, serão realizadas palestras, oficinas, seminários e exposição da cultura indígena.
