O principal programa de jornalismo investigativo – ‘Profissão Repórter’ – da maior emissora de TV do Brasil, Rede Globo, execrou sem piedade, no início da madrugada desta quarta-feira (29/05), o Hospital e Pronto Socorro de Cuiabá, maior unidade pública e saúde de Mato Grosso. Dos 58 minutos de duração do programa, quase 20 foram dedicados à Sala Amarela do PSM da Capital, que improvisa uma moribunda Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Infantil.

Paciente morre após cair da maca duas vezes no Pronto Socorro de Cuiabá
Encontramos de tudo no PS, até medicamentos que não eram dados aos pacientes, diz Kamil

Tamanha pressão fez o secretário municipal de Saúde, médico Kamil Fares, há décadas atuando no sistema, responder com rara sinceridade às perguntas do ‘Profissão Repórter’ e confessou ter um problema maior que sua expectativa. “Assumimos uma bomba atômica. Todos os procedimentos de alta complexidade vêm para cá [Cuiabá]. Mas a vida é assim, mesmo! E do jeito que está é muito preocupante”, respondeu Kamil, em reportagem veiculada nacionalmente pela Rede Globo.

O ‘Profissão’ foi implacável nas críticas sobre o funcionamento da unidade sanitária de urgência da Capital e chamou de “à beira do caos” o formato de atendimento do Pronto Socorro Municipal. A repórter Eliane Scardovelli, da Globo, entrevistou pacientes em macas no chão e familiares de crianças enfermas, dando maior grau de dramaticidade à reportagem.

“Estou aqui fazendo um apelo para que ajudem a salvar meu filho”, disse, em lágrimas, a jovem Simone Hian, mãe de um menino de dois anos, portador de uma cardiopatia grave.

Sob pressão da repórter Eliane Scardovelli, que mantinha linha direta com o jornalista Caco Barcelos, diretor do programa, a superintendente do HPSM, Iracema Queiroz, se comprometeu em conseguir uma vaga de UTIs para o bebê Hian. Todavia, a espera foi demasiada impiedosa: 10 horas após dar entrada na Clínica Femina, a mais conceituada na área pediátrica, a criança morreu.

No Pronto Socorro de Cuiabá, a UTI pediátrica foi fechada. A reportagem do ‘Profissão’ encontrou crianças em estado gravíssimo que precisavam estar na UTI e estavam na enfermaria – Sala Amarela. Barcelos chegou a chamar a atenção da repórter Eliane para que não interferisse na busca da UTI infantil. “Nossa missão é relatar o que está acontecendo. E não tentar solucionar o caso. Você agiu no limite”, repreendeu-a Barcelos.

Em lágrimas, a pediatra Débora Gouget, plantonista do Pronto Socorro Municipal, revelou ao ‘Profissão’ que só mantinha-se no atendimento, apesar das precárias condições, porque não sabia quando seria um parente seu a necessitar dos mesmo cuidados.

Há algumas semanas, a reportagem do Olhar Direto acompanhou o prefeito Mauro Mendes (PSB) e o secretário Kamil Fares em visita ao Pronto Socorro Municipal, confirmando a situação crítica da unidade hospitalar. E, entre os principais problemas atestados, estão superlotação, falta de médicos e funcionários e estrutura física deficiente.

A situação encontrada o Pronto-Socorro foi de pessoas deitadas em macas espalhadas no chão da unidade. Pacientes com diabetes, vítimas de acidentes e demais enfermidades lotam os corredores, à espera de um leito.

Na época, já se reclamava da falta de equipamentos essenciais. “Aqui não tem nem bomba de oxigênio. Deveria ter respirador para todos os leitos e não temos. Falta tudo, até camas. Às vezes, fazemos o atendimento nas mesas”, denunciou à época a médica Ivana Cristina Alcântara, então responsável pela pediatria do PSM. E mais: faltavam até equipamentos básicos, como estetoscópio e respirador artificial.

A reportagem que a Globo levou ao ar na noite desta terça-feira e início da madrugada de quarta-feira, no ‘Profissão’, fatos que a reportagem do Olhar Direto apresentam, cotidianamente, com a seriedade que lhe é peculiar, aos internautas de Mato Grosso e do Brasil.