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Terça-feira, 23 de julho de 2024

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Grávida de seis meses, usuária de crack diz que come lixo e vive na rua para alimentar o vício

Foto: Reprodução / TV Record Brasília

Grávida de seis meses, usuária de crack diz que come lixo e vive na rua para alimentar o vício
Grávida de seis meses, uma usuária disse à TV Record Brasília que "come lixo e vive nas ruas" para alimentar o vício do crack. Viciada há vários anos, ela disse que morou um ano embaixo da ponte e perdeu os filhos.


— A gente não tem mais nenhum objetivo. Perdi casa, marido, filhos, tudo, e mesmo assim ainda não consegui sair.

Uma realidade devastadora. Conhecida por crianças, jovens adultos e idosos, muitos se tornam reféns logo na primeira pedra. Difícil mesmo é abandonar o vício depois que ele passa a ser a principal companhia do usuário.

No Setor Comercial da Asa Sul, área central de Brasília, os crackeiros são vistos a todo o momento em bueiros e calçadas perambulando como zumbis. O que chama a atenção, porém, é a grande quantidade de mulheres entre eles.

Durante a reportagem, a TV Record Brasília flagrou uma, com corpo franzino, destruído pelo crack. De forma agressiva, ela pediu dinheiro com o pretexto de comer.

A equipe foi com ela até uma lanchonete e se propôs a comprar algo, mas ela não parecia estar com fome e sim pertubada.

Confessou que havia fumado e os sinais eram nítidos. A conversa não fluiu e como estava fora de controle, chegou a dizer que fuma de 300 a 500 pedras por dia.

Número alarmante

Mulheres que estão espalhadas pelas cracolândias de todo o País começam a representar um número preocupante: dez por cento das usuárias de crack no Brasil estavam grávidas quando responderam à última pesquisa encomendada pela Secretaria Nacional de Políticas sobre drogas feita pela Fiocruz. Mais da metade delas já engravidaram pelo menos uma vez desde que começaram a usar a droga.

Algumas mães, mesmo sabendo que estavam grávidas, não deixaram o vício. A cozinheira Juliana Oliveira, por exemplo, usou crack por três anos e há dois meses está limpa graças a ajuda da Casa de Recuperação Salomão.

Ela disse que não conseguiu deixar a droga, mesmo sabendo que carregava uma filha na barriga.

— Tinha muito medo de perder minha filha, pensava bastante que ela poderia até mesmo não nascer, mas o crack é um vício tão devastador que não deixa você ter amor por nada nem por ninguém. Não há controle da situação. Fumei até o último dia, até ter minha filha. Ela é linda e não consigo me perdoar por saber que eu poderia ter feito algo bem pior com ela.

Apesar de não ter ficado com sequelas físicas, a filha da cozinheira apresenta alguns comportamentos estranhos, provavelmente em função do crack consumido pela mãe durante a gravidez.

— Ela é mais agitada, tem um ano e sete meses e é bem agressiva para a idade que tem. Os médicos dizem que talvez ela tenha dificuldades em aprender. Quero ter outros filhos e saber o que é estar grávida, nunca soube.

A balconista Odânia Batista Garcez foi viciada por nove anos. Parou quando soube da gestação, mas admite que retomou o uso após o nascimento.

O vício da ex-usuária Cristina Aparecida Barbosa começou em Belo Horizonte, mas o enredo não foi diferente. Ela conheceu o crack quando o segundo filho tinha dois meses. Foram sete anos de uso.

Além disso, ela consumiu maconha, bebida alcoólica, cocaína e até merla. Durante este período, engravidou do terceiro filho e usou a droga até o último dia de gravidez.

O sonho da ex-viciada é ter algo que sempre esteve ao alcance dela, mas que a pedra tomou lugar e não a deixou aproveitar.

— Quero ter uma família. Tinha filhos e maridos, mas nunca fomos uma família. Quero adquirir uma agora.

Centro de Recuperação Salomão

O Centro de Recuperação Salomão recebe 20 mulheres de uma só vez, que ficam internadas durante seis meses.

O local sobrevive da ajuda de igrejas e da fé de seu José Silva Pinto, usuário de drogas por 32 anos, que fundou o local. Ele furtou, roubou, traficou, chegou a ficar preso durante 12 anos e transformou uma antiga boca de fumo em casa de recuperação.

— Em 2006, quando saí da cadeia, comecei a trabalhar com recuperação de homem e uma mulher me pediu ajuda e não pude dar porque não tinha para onde levá-la. Tinha essa chácara e tive a ideia de construir o centro. Aqui, elas são ensinadas a restituir o que foi perdido.

A psicóloga Fátima Sudbrack, professor da UnB (Universidade de Brasília), explicou que o uso de drogas na gravidez pode ter graves consequências, físicas, psíquicas e mentais.

— Depende de vários fatores, desde a quantidade ao tipo de droga, mas é sempre uma situação de alto risco que essas crianças são expostas.
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