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Terça-feira, 23 de julho de 2024

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Justiça Federal quebra sigilo de 11 investigados no caso Alstom

A Justiça Federal de São Paulo determinou a quebra do sigilo bancário e fiscal de 11 pessoas investigadas em um suposto esquema de propinas da Alstom para funcionários públicos em São Paulo. A empresa francesa é suspeita de pagar para obter benefícios em contratos.


As denúncias do Ministério Publico Federal (MPF) dizem respeito a negociações suspeitas ocorridas entre a empresa e o governo paulista, sobretudo a partir de 1998, quando o estado era governado por Mário Covas, do PSDB. O primeiro resultado das investigações foi o indiciamento das 11 pessoas investigadas, inclusive secretários de estado à época (veja reportagem do Jornal Nacional).

A quebra do sigilo autorizada pela Justiça abrange o período entre 1997 a 2000. A informação foi divulgada na manhã desta segunda-feira (30) pelo site do jornal "O Estado de S. Paulo". A decisão da Justiça é de 27 de agosto e foi endereçada tanto à Receita Federal quanto ao Banco Central.

De acordo com a decisão judicial, foi determinada a quebra fiscal também das empresas vinculadas aos investigados. O juiz ainda solicitou que seja informado se os suspeitos mantêm contas no exterior.
Em outro pedido, a Justiça Federal solicitou à Embaixada da França no Brasil informações sobre dois suspeitos de comandar o pagamento de propinas pelo grupo Alstom: Phillippe Jaffré e Pierre Chazot. Há suspeitas de que Jaffré tenha morrido e, neste caso, o magistrado pede que a morte seja informada.

A Justiça determinou a quebra de sigilo de Andréa Matarazzo (atual vereador do PSDB e ex-secretário de energia), Eduardo José Bernini, Henrique Fingerman, Jean Marie Marcel Jackie Lannelongue, Jean Pierre Charles Antoine Coulardon, Jonio Kahan Foigel, José Geraldo Villas Boas, Romeu Pinto Júnior, Sabino Indelicato, Thierry Charles Lopez de Arias e Jorge Fagali Neto, (ex-presidente do Metrô).

O G1 busca contato com todos os citados. Anteriormente, tanto Matarazzo quando Fagali Neto negaram irregularidades.

Suspeita de pagamentos
Os pagamentos de propina teriam ocorrido para viabilizar contratos em diversas áreas, de acordo com investigação da Polícia Federal. Há suspeita de atuação em obras nas áreas de transportes, energia e abastecimento entre 1998 a 2001.

Um dos contratos suspeitos foi firmado com a então estatal de energia do estado, a EPTE. De acordo com o inquérito da Polícia Federal (PF), a irregularidade ocorreu porque a companhia obteve um crédito no banco francês Société Générale, de R$ 72,7 milhões, para adquirir equipamentos do grupo Alstom.

A PF ressalta que a contratação do crédito milionário foi feita sem licitação. E só foi possível porque a Alstom montou esquema de suborno para recompensar funcionários públicos pela aprovação do contrato.

De acordo com a PF, o esquema de pagamento usava pessoas com empresas no exterior que recebiam recursos do grupo Alstom "para depois repassá-los aos beneficiários finais, servidores públicos do governo do Estado de São Paulo, no primeiro semestre de 1998".

À época, o estado era governado por Mário Covas. Uma das contas, segundo o inquérito, era de Jorge Fagali Neto, ex-diretor financeiro dos Correios e ex-presidente do Metrô. A PF diz que naquela época, "embora fosse diretor financeiro dos Correios, há evidências de que ele tinha livre trânsito por todas as secretarias de estado".

A Polícia Federal afirma ainda que Jorge Fagali Neto "integrou o esquema de distribuição de valores para agentes públicos paulistas que ele mantinha conta não declarada no exterior e que ocultou a origem de valores recebidos em virtude de pagamento de propinas, também no exterior". Por isso, ele foi um dos indiciados.

Outra empresa no exterior apontada pela polícia como usada na lavagem do dinheiro da propina foi a MCA Uruguay, que aparece no documento do Ministério Público Federal com quatro transações no valor de US$ 1 milhão e com demonstrativos de transferência. O dono da MCA, Romeu Pinto Junior, confessou à Polícia Federal ter servido de intermediário do pagamento de propinas a funcionários públicos paulistas a mando da Alstom e por meio da MCA".

Secretários
Em suas investigações apresentadas ao MPF, a Polícia Federal afirmou que Andrea Matarazzo, como secretário de energia e presidente do conselho administrativo da EPTE, tinha o pleno conhecimento de tudo. A investigação cita o depoimento do então presidente da EPTE, Henrique Fingermann. Ele declarou que o secretário Andrea Matarazzo tinha conhecimento de todos os procedimentos que levaram à assinatura do contrato de crédito com o banco Société Générale.

A Polícia Federal afirma que há indícios de que Matarazzo tenha se beneficiado juntamente com o partido político, o PSDB, das vantagens indevidas arquitetadas pelo grupo Alstom. E usa isso como argumento para indiciá-lo por corrupção passiva.

A Polícia Federal indiciou os dois ex-secretários e mais nove pessoas em agosto de 2012. O inquérito foi encaminhado para o Ministério Público Federal (MPF), mas a denúncia ficou parada porque o MPF considerou que era necessário obter mais informações sobre o caso.

Após o indiciamento, o advogado que representa a estatal EPTE, Pedro Iokoi, afirma que não conseguiu ter acesso ao inquérito da PF e que o crime prescreveu. O Ministério Público Federal considera que o crime de lavagem de dinheiro ainda não prescreveu.

O que dizem os suspeitos
Na ocasião em que o caso foi revelado, Andrea Matarazzo qualificou como um "disparate" ter seu nome ligado a supostos favorecimentos e disse que, no período em que foi secretário, não teve conhecimento, não discutiu nem assinou qualquer aditivo ou contrato que esteja sendo investigado.

Ele afirmou ainda que as atas das reuniões podem comprovar o fato. O ex-secretário de energia acrescentou que é com muita indignação e repulsa que vê o seu nome envolvido nas denúncias.

Segundo o ex-diretor dos Correios Jorge Fagali Neto, o Ministério Público nunca atribuiu a ele qualquer ato de violação à lei penal e que não interferiu em nenhuma das empresas citadas, nem celebrou contratos com a Alstom ou Siemens.

A empresa MCA Uruguay e o então presidente da EPTE, Henrique Fingermann, não foram localizados.

À época, em nota, o PSDB declarou que repudia veementemente a tentativa de alguns setores de envolver, sem provas, o partido e seus quadros em casos de corrupção. O PSDB disse ainda que não compactua com a corrupção e espera que os casos sejam investigados e, se houver responsáveis, que eles sejam punidos.
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