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Segunda-feira, 22 de julho de 2024

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Presidente da associação das vítimas da Kiss viaja para os EUA

Nesta segunda-feira, o presidente da Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM), Adherbal Ferreira, viaja rumo aos Estados Unidos para participar de um congresso mundial sobre vítimas de queimaduras.


Adherbal vai aos Estados Unidos para o Congresso Mundial da Phoenix Society, que será realizado em Providence, Rhode Island, entre quarta-feira e sábado. Em maio deste ano, o presidente da AVTSM participou de um evento em Brasília, que marcou os 100 dias do incêndio na Kiss, no qual ele conheceu a diretora da Phoenix Society, Amy Acton. A entidade americana atua há 10 anos no auxílio a pessoas atingidas pelo incêndio na boate The Station e é a responsável pelo World Burn Congress.

Foi em Brasília que nasceu o convite para a viagem, cuja estada, alimentação e transporte serão pagos pela Phoenix Society. Já as passagens aéreas foram custeadas pelo Instituto Sprinkler Brasil, entidade que promovia o evento de maio na capital federal e que busca debater normas de prevenção a incêndio e defende o uso de sprinklers (sistema de chuveiros para extinção de incêndios).

O principal objetivo de Adherbal é buscar informações para o tratamento dos sobreviventes da tragédia que tiveram queimaduras. Outra intenção é dar mais um passo para a criação de uma associação pan-americana, que deve reunir sobreviventes e familiares de desastres semelhantes ao da Boate Kiss. Ela deve congregar todos aqueles que foram afetados por tragédias em que a falta de fiscalização ou de cumprimento da legislação possa ter sido a causa.

O congresso do qual Adherbal vai participar marca o 10º aniversário do incêndio na boate The Station, na cidade de West Warwick, no mesmo Estado da cidade em que será realizado o evento. A tragédia na cidade de West Warwick aconteceu no dia 20 de fevereiro de 2003. Centenas de pessoas assistiam ao show da banda The Great White na casa noturna quando um artefato pirotécnico acionado pelo vocalista do grupo deu início ao incêndio, que causou a morte de 100 pessoas. Um dos sócios da boate e o gerente da banda foram condenados a 15 anos de prisão, mas cumpriram entre dois e três anos. O outro proprietário foi condenado a prestar serviços comunitários.

Adherbal sairá na tarde desta segunda-feira de Porto Alegre rumo a São Paulo, onde terá um encontro com familiares de vítimas da tragédia da Kiss. À noite, ele embarcará para os Estados Unidos. A previsão é que ele chegue à cidade do congresso no final da manhã de terça-feira.

“Nunca me imaginei nessa situação. Foi uma missão dada pelos nossos filhos. Se preciso for, vou dar a volta ao mundo para que tragédia como a da Kiss não se repitam. No fim, acabamos ganhando mais apoio à nossa luta fora do que em Santa Maria”, disse Adherbal.

Incêndio na Boate Kiss
Na madrugada do dia 27 de janeiro, um incêndio deixou 242 mortos em Santa Maria (RS). O fogo na Boate Kiss começou por volta das 2h30, quando um integrante da banda que fazia show na festa universitária lançou um artefato pirotécnico, que atingiu a espuma altamente inflamável do teto da boate.

Com apenas uma porta de entrada e saída disponível, os jovens tiveram dificuldade para deixar o local. Muitos foram pisoteados. A maioria dos mortos foi asfixiada pela fumaça tóxica, contendo cianeto, liberada pela queima da espuma.

Os mortos foram velados no Centro Desportivo Municipal, e a prefeitura da cidade decretou luto oficial de 30 dias. A presidente Dilma Rousseff interrompeu uma viagem oficial que fazia ao Chile e foi até a cidade, onde prestou solidariedade aos parentes dos mortos.

Os feridos graves foram divididos em hospitais de Santa Maria e da região metropolitana de Porto Alegre, para onde foram levados com apoio de helicópteros da FAB (Força Aérea Brasileira). O Ministério da Saúde, com apoio dos governos estadual e municipais, criou uma grande operação de atendimento às vítimas.

​Quatro pessoas foram presas temporariamente - dois sócios da boate, Elissandro Callegaro Spohr, conhecido como Kiko, e Mauro Hoffmann, e dois integrantes da banda Gurizada Fandangueira, Luciano Augusto Bonilha Leão e Marcelo de Jesus dos Santos. Enquanto a Polícia Civil investiga documentos e alvarás, a prefeitura e o Corpo de Bombeiros divergem sobre a responsabilidade de fiscalização da casa noturna.

A tragédia fez com que várias cidades do País realizassem varreduras em boates contra falhas de segurança, e vários estabelecimentos foram fechados. Mais de 20 municípios do Rio Grande do Sul cancelaram a programação de Carnaval devido ao incêndio.

No dia 25 de fevereiro, foi criada a Associação dos Pais e Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia da Boate Kiss em Santa Maria. A associação foi criada com o objetivo de oferecer amparo psicológico a todas as famílias, lutar por ações de fiscalização e mudança de leis, acompanhar o inquérito policial e não deixar a tragédia cair no esquecimento.

Indiciamentos
Em 22 de março, a Polícia Civil indiciou criminalmente 16 pessoas e responsabilizou outras 12 pelas mortes na Boate Kiss. Entre os responsabilizados no âmbito administrativo, estava o prefeito de Santa Maria, Cezar Schirmer (PMDB). A investigação policial concluiu que o fogo teve início por volta das 3h do dia 27 de janeiro, no canto superior esquerdo do palco (na visão dos frequentadores), por meio de uma faísca de fogo de artifício (chuva de prata) lançada por um integrante da banda Gurizada Fandangueira.

O inquérito também constatou que o extintor de incêndio não funcionou no momento do início do fogo, que a Boate Kiss apresentava uma série das irregularidades quanto aos alvarás, que o local estava superlotado e que a espuma utilizada para isolamento acústico era inadequada e irregular. Além disso, segundo a polícia, as grades de contenção (guarda-corpos) existentes na boate atrapalharam e obstruíram a saída de vítimas, a boate tinha apenas uma porta de entrada e saída e não havia rotas adequadas e sinalizadas para a saída em casos de emergência - as portas apresentavam unidades de passagem em número inferior ao necessário e não havia exaustão de ar adequada, pois as janelas estavam obstruídas.

Já no dia 2 de abril, o Ministério Público denunciou à Justiça oito pessoas - quatro por homicídios dolosos duplamente qualificados e tentativas de homicídio, e outras quatro por fraude e falso testemunho. A Promotoria apontou como responsáveis diretos pelas mortes os dois sócios da casa noturna, Mauro Hoffmann e Elissandro Spohr, o Kiko, e dois dos integrantes da banda Gurizada Fandangueira, Marcelo de Jesus dos Santos e Luciano Augusto Bonilha Leão.

Por fraude processual, foram denunciados o major Gerson da Rosa Pereira, chefe do Estado Maior do 4º Comando Regional dos Bombeiros, e o sargento Renan Severo Berleze, que atuava no 4º CRB. Por falso testemunho, o MP denunciou o empresário Elton Cristiano Uroda, ex-sócio da Kiss, e o contador Volmir Astor Panzer, da GP Pneus, empresa da família de Elissando - este último não havia sido indiciado pela Polícia Civil.

Os promotores também pediram que novas diligências fossem realizadas para investigar mais profundamente o envolvimento de outras quatro pessoas que haviam sido indiciadas. São elas: Miguel Caetano Passini, secretário municipal de Mobilidade Urbana; Belloyannes Orengo Júnior, chefe da Fiscalização da secretaria de Mobilidade Urbana; Ângela Aurelia Callegaro, irmã de Kiko; e Marlene Teresinha Callegaro, mãe dele - as duas fazem parte da sociedade da casa noturna.
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