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Segunda-feira, 22 de julho de 2024

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Decisão sobre caso da mulher que teve olhos perfurados fica para 2014

Terminou no início da tarde desta sexta-feira (6) a primeira audiência sobre a tentativa de homicídio contra a operadora de caixa Mara Rúbia Guimarães, 27 anos, que teve os olhos perfurados pelo ex-marido, Wilson Bicudo. O presidente da sessão, realizada no 1º Tribunal do Júri de Goiânia, juiz Jesseir Coelho de Alcântara, acredita que a sentença deve ser dada no início do próximo ano."Hoje terminamos a colheita de provas. A somatória de provas é fundamental para uma decisão oportuna. Dependendo dos indícios, vamos decidir se ele vai, ou não, a júri popular". Para defesa e acusação, o resultado da audiência foi satisfatório.


A audiência durou cerca de 3h30. Além dos depoimentos de Mara Rúbia e de Wilson Bicudo, dez das trezes testemunhas arroladas foram interrogadas. As três testemunhas que não compareceram, duas da defesa e uma de acusação, foram dispensadas sem objeção das partes.

A primeira a prestar depoimento foi Mara Rúbia. Muito emocionada durante todo o interrogatório, ela contou que o ex-marido sempre a ameaçava. A situação, segundo ela, ficou pior após o divórcio. Inclusive, na tentativa de fugir de Wilson Bicudo, ela afirma que se isolou e precisou se mudar várias vezes. “Eu não trabalhava, não dormia, não comia, não tomava banho, não falava com ninguém. Estava em depressão. Perdi vários empregos, mudei para vários lugares e tive vários endereços”, disse.

Para a operadora de caixa, a intenção do ex-marido no dia em que teve os olhos perfurados era de matá-la. "Ele me deu uma gravata e disse: 'eu vim aqui só pra uma coisa, pra te matar'", contou.

Mara Rúbia afirma que foi enforcada, estrangulada e teve as mãos amarradas nos pés de duas camas. "Então ele pegou tecido e pois na minha boca. Depois, sentou em cima de mim com a faca e furou meu olho direto e depois o esquerdo. Nunca senti uma dor tão grande. Fiz xixi e coco na roupa de dor", relatou.

Durante o depoimento de Bicudo, ele negou que quisesse matá-la. “Nunca, jamais tentei matar ela. Não fiz de maldade. Não sei nem explicar, na hora fiquei completamente cego. Jamais mataria uma pessoa que sempre gostei”. Ele se emocionou ao relembrar a história e disse ainda que está arrependido. “Se eu pudesse voltar atrás não tinha feito isto”, afirmou.

Bicudo, que está detido desde que se entregou à polícia, em setembro, afirmou ainda que levou o celular de Mara Rúbia com ele depois de agredí-la para pedir ajuda. “Só levei o celular para falar com o irmão dela e pedir socorro. Se eu chamasse os vizinhos eles me matariam”.

Sobre o dia da agressão, vítima e acusado entraram em contradição em relação à abordagem. Segundo Mara Rúbia, o ex-marido a surpreendeu na cozinha puxando pelo pescoço logo depois que ela chegou em casa. No entanto, Bicudo afirma que estacionou o carro uma quadra antes da casa dela e, ao ver a operadora de caixa se aproximando, encontrou com ela na rua. “A gente foi conversando. Eu entrei na casa e pedi para voltarmos a ficar juntos. Ela disse que não voltaria para um pé-rapado como eu. Me chamou de corno, de trocha. Foi quando perdi a cabeça”, disse.

O ex-marido, que foi o último a depor, também negou agressões anteriores a Mara Rúbia. “Nunca agredi ela enquanto estávamos juntos. Empurrei ela uma vez na parede quando já estávamos separados”, afirmou.

Durante o depoimento de Mara Rúbia, ela disse que teme que o marido saia do presídio. "Ele me disse que vai por fogo no meu filho, me matar e se suicidar".

A operadora de caixa declarou ainda que tenta deixar o filho de 7 anos fora do problema com Bicudo, mas a criança sente o que está acontecendo. "Ele me disse: 'Mãe, quando eu crescer eu vou comprar um revólver e matar meu pai'. Eu falo que ele não pode fazer isso, que o pai dele o ama'", afirmou.
Testemunhas

Após o depoimento de Mara Rúbia, sete testemunhas da acusação depuseram. Entre elas, o irmão da vítima, Mário Lázaro Mori Guimarães, que afirmou ter recebido uma ligação do acusado no dia da agressão. “Ele me ligou dizendo: A vadia da sua irmã está morta”.
Colega de trabalho da vítima, Ângela de Oliveira Cabral contou durante o depoimento que também recebeu uma ligação do acusado: “Tinha ligado para ela um tempo antes. Como meu número era um dos últimos da agenda, ele ligou pra mim. Ele me disse: ‘Acho que matei ela. Ela está caída no chão. Vai socorrer ela.’ Ele estava nervoso, parecendo que queria ajuda. Um dia depois ele me ligou perguntando como ela estava”. A mulher ainda afirmou que já presenciou uma agressão do acusado. “Ele já bateu nela um dia que a gente estava saindo do trabalho. Foi na frente de todo mundo”, lembra.

A titular da Delegacia de Especializada no Antedimento à Mulher, Ana Elisa Gomes Martins, era uma das testemunhas de acusação. Para a responsável pela investigação, não há dúvida de que ele teve intenção de matar: “Para mim, quando ele saiu de lá, ele sabia que ela estava morta. Ele deixou ela desfalecida, amarrada e com os olhos perfurados”, declarou.

Com o fim dos depoimentos de acusação, três testemunhas de defesa foram interrogadas. Eles afirmaram que não sabiam de conflito no relacionamento de Mara Rúbia e de Bicudo. Todos ainda definiram o acusado como “uma pessoa tranquila e trabalhadora”.

Posicionamento
Ao fim da sessão, a advogada de defesa, Darlene Liberato, afirmou que a audiência foi “perfeita”. “As testemunhas deles não acrescentaram nada. Elas tentaram 'endeusá-lo'. Ele entrou em contradição e não respondeu a perguntas. Estou muito tranquila. O objetivo deve ser atingido", disse.

O promotor de Justiça Paulo Pereira dos Santos concorda com o posicionamento da advogada. “A audiência foi ótima porque as testemunhas de defesa não informaram nada de diferente. As de acusação repetiram o que já tinham dito. O fato do acusado contradizer é uma confirmação do que aconteceu. Não tenho dúvida de que será pronunciado e de que vai a júri popular. Tenho plena convicção na tentativa de homicídio”.
Para a defesa de Bicudo, a audiência ocorreu dentro da normalidade. “Nós não pleiteamos a isenção do crime. Os fatos qualificam o crime em lesão corporal grave. Ele deve ser punido conforme as normas jurídicas”, afirmou o advogado Antônio Wilmar Fleury Fernandes.

Segundo o advogado Gabriel Constâncio Lamouniere e Barros, o fato de Bicudo não responder a algumas perguntas também não causa prejuízo para a defesa. “Ele ficou perturbado, nervoso, por isso ano respondeu. Não foi porque não quis”, explica.

Tentativa de homicídio

O agressor foi denunciado pelo Ministério Público Estadual de Goiás (MP-GO) por tentativa de homicídio triplamente qualificado. A decisão sobre o crime pelo qual ele iria responder foi definido no dia 20 de novembro pelo procurador-geral de Justiça de Goiás, Lauro Machado Nogueira, após um impasse jurídico que paralisou o processo.

O inquérito foi concluído em outubro deste ano e indiciou o agressor por tentativa de homicídio triplamente qualificada. Mas o promotor de Justiça João Teles Neto discordou do relatório policial. Para ele, o crime não foi uma tentativa de homicídio, mas, sim, um caso de lesão corporal grave. Com a decisão, teve início uma discussão sobre qual crime o acusado responderia.

Mara Rúbia Guimarães teve os olhos perfurados
em agosto (Foto: Arquivo pessoal)
Com a mudança na tipificação do crime, o processo seguiu para uma nova vara. Por isso, o juiz Jesseir Coelho, que tinha decretado a prisão do suspeito, teve de revogar o pedido no dia 13 de novembro, mesmo não concordando com o posicionamento do promotor. O juiz, então, devolveu o caso para a Procuradoria-Geral de Justiça (PGJ) para manifestação. No mesmo dia, a Justiça aceitou um novo pedido do MP-GO e decretou uma nova prisão preventiva para o acusado, que não chegou a ser solto.
O processo foi, então, encaminhado ao Juizado da Violência Doméstica Familiar contra a Mulher, que discordou mais uma vez da tese de lesão corporal e entendeu que o caso se trata de uma tentativa de homicídio. Com isso, Lauro Machado seguiu a mesma decisão e destacou que ficou evidente nos depoimentos que Bicudo tinha a pretensão de matar a vítima.
Crime
Mara Rúbia foi agredida pelo ex-marido no dia 29 de agosto deste ano, logo após chegar em casa para o almoço. Segundo a denúncia, a vítima relatou que foi surpreendida por Bicudo já no interior da residência, quando foi torturada e imobilizada. Em seguida, teve os dois olhos perfurados com uma faca. Desde que foi ferida, ela já passou por uma operação no olho esquerdo e duas no olho direito.
Após 21 dias foragido, Bicudo se entregou à Polícia Civil. Segundo a delegada responsável pelo caso, Ana Elisa Gomes, ele confessou ter cometido o crime depois que a vítima se recusou a reatar o casamento.
Segundo familiares, o casal se separou há dois anos. Desde então, a mulher, que morava em Corumbá de Goiás, se mudou para a capital. Esta não foi a primeira vez que o homem agrediu a ex-mulher, que tentou por quatro vezes denunciar o agressor, mas não obteve ajuda.
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