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Segunda-feira, 22 de julho de 2024

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Jovem se recupera após passar por cirurgia de retirada de tumor acordada

Uma jovem de Santos, no litoral de São Paulo, enfrentou um procedimento inusitado durante uma cirurgia no cérebro para curar constantes convulsões. Após decidir fazer a intervenção, a administradora Ana Carolina Lima da Costa, de 23 anos, descobriu que teria que ficar acordada durante o procedimento. O jeito foi se preparar psicologicamente para o momento e confiar no médico. A cirurgia foi um sucesso. Dois meses após o procedimento, ela conta como foi a experiência e fala da felicidade de estar curada.

A jovem conta que começou a ter convulsões há dois anos. "Descobri quando estava trabalhando e senti um mal estar. Fui falar para uma amiga que eu queria beber água, mas disse que preferia escrever. Percebi que estava tendo dificuldade, trocava verbos e algumas palavras eu esquecia", conta.
Nas crises, Ana Carolina sentia mal estar, dificuldade para falar certas palavras, uma sequência de tremores e dormência na perna e no braço direitos, além de ficar sem força e com dor de cabeça. Após passar por uma consulta médica, ela fez exames que comprovaram uma malformação no cérebro e um cavernoma (tumor benigno) – que, dependendo da localização, poderia trazer grandes transtornos neurológicos. A lesão de Ana Carolina ficava na área do cérebro responsável pela compreensão e pela fala.

Como ela é jovem, os médicos acharam melhor acompanhar o caso. Enquanto isso, ela tomava medicamentos para evitar as convulsões. Mas Ana Carolina teve outras crises que a levaram a uma internação. "O tumor aumentou, e o sangramento interno desta vez foi mais forte", diz a administradora, que ficou mais de 15 dias no hospital.

Ana Carolina foi buscar médicos especialistas para o tratamento e teve contato com o neurocirurgião Marcus Vinicius Serra, do Hospital Sírio Libanês, em São Paulo, e da Casa de Saúde de Santos. O profissional indicou uma cirurgia para a retirada da lesão, sem deixar sequelas e mantendo a qualidade de vida da paciente. O problema é que o procedimento seria feito com a jovem acordada.
A paciente não pensou duas vezes em aceitar a operação. Ela não queria mais sofrer com as convulsões, que já tinham passado de cinco. "Eu já tinha ouvido falar, mas não sabia que era o meu caso", afirma. O neurocirurgião explicou que, se a jovem fosse realizar uma cirurgia neurológica normal, teria mais risco de ficar com sequelas, como perda da compreensão e da fala, além de poder ficar com um lado do corpo paralisado.
Já nesse novo procedimento, em que Ana Carolina teria que ficar acordada, havia apenas 5% de risco de sequelas. "Pelo que eu saiba, foi a primeira vez em Santos [que uma cirurgia como essa foi feita]. Mas, em São Paulo, a gente já fez algumas desse jeito", diz o médico.

A operação foi realizada no dia 31 de outubro do ano passado. A paciente tomou um anestésico de curta duração, que bloqueou todos os nervos que se direcionavam para a cabeça dela. Os médicos colocaram uma máscara laríngea na jovem, para ventilação pulmonar, e sua cabeça foi totalmente presa. Em seguida, os médicos abriram o crânio dela e usaram uma espécie de GPS para navegar em tempo real pela região.
Logo depois, Ana Carolina acordou e começou a conversar com uma fonoaudióloga e com os médicos. Ela teve que olhar imagens e falar o nome dos objetos. Enquanto isso, uma espécie de caneta, chamada de "estimulador cortical", foi usada pelos cirurgiões para mapear os pontos onde a jovem apresentava hesitação na fala, podendo, assim, escolher o melhor local para alcançar o tumor.
"A gente vai encostando a caneta que está ligada a um aparelho e isso interfere na condução dos neurônios. Naquela área que ela errava a resposta, eu não podia mexer. A gente sabe por anatomia onde é a área do cálculo, do discurso, da compreensão e da fala. A gente mapeou toda a área do cérebro e fez de um jeito para entrar e conseguir retirar o problema sem deixar sequelas. A área da fala dela estava 4 mm mais para baixo. Se a gente tivesse feito só pela anatomia, ela estaria sequelada hoje", explica o médico.
Antes de fechar a cabeça da jovem, os médicos deram outro medicamento para que ela conseguisse dormir. Assim, a equipe teve condições de terminar o procedimento cirúrgico. Toda a operação demorou cerca de duas horas. "Nos primeiros dias, dá um pouco de dor, mas o procedimento é rápido. Não fiquei nervosa", revela Ana Carolina.
O neurocirurgião diz que não é possível fazer o procedimento com qualquer paciente, pois é preciso muito preparo psicológico. Se a pessoa se desesperar, o médico tem que sedá-la e não é possível fazer a operação. Já a jovem conta que conseguiu manter a calma graças à equipe médica. "Eu estava muito confiante neles. Depois de dois anos sofrendo, eu sabia que era aquilo ou nada", afirma Ana Carolina.

Após a cirurgia, ela teve que ficar em repouso durante alguns dias. No começo, apresentou falhas na fala e na compreensão de textos e imagens, como era previsto pelos médicos. O problema, porém, foi desaparecendo com o passar dos dias.
A administradora conta que se sente muito melhor agora. "Minha qualidade de vida é muito boa. Em breve, vou poder fazer coisas que eu não fazia por causa do tumor, como praticar esportes, exercícios", destaca. Ela continua tomando remédios contra o problema e tendo acompanhamento médico e por exames. "A chance de o tumor voltar é muito pequena", garante o neurocirurgião.
Agora, Ana Carolina pretende passar o ano sem crises neurológicas. Ela deve voltar a trabalhar na segunda quinzena deste mês e quer guardar os vídeos da cirurgia para lembrar dos momentos em que participou acordada. "Minha família ficou muito feliz e me deu muito apoio. Eu nunca vou esquecer aquele Halloween", brinca, fazendo referência ao dia da operação, no qual também é celebrado o Dia das Bruxas em vários países.
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