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Domingo, 21 de julho de 2024

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Após falar em imprudência de jovens na Kiss, padre pede desculpas a pais

O padre de Farroupilha, na Serra do Rio Grande do Sul, que afirmou que a morte dos 242 jovens na boate Kiss foi uma "imprudência" das próprias vítimas, enviou um pediu de desculpas formal à Associação de Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM). O pároco já havia se retratado ao vivo em um programa para o presidente da associação, Adherbal Ferreira, na terça-feira (28). Em carta, recebida pelos pais nesta sexta-feira (31), ele reforça o pedido de desculpas.

No texto, o padre Odair Rizzo diz que sofre pela morte das vítimas da casa noturna, e que já celebrou missas em memória. "Unido em oração com os que sofrem pelo acontecido na boate Kiss, peço de coração mil desculpas se numa entrevista da Rádio Spaço FM houve um mal entendido numa hora inoportuna, digo, na colocação da entrevista", desculpou-se.
Durante a resposta ao vivo na rádio, na terça-feira à tarde, o padre disse que estava dirigindo no momento da entrevista, e que tudo não passava de um mal-entendido. No entanto, as declarações ganharam repercurssão. Além de falar sobre o incêndio, Rizzo criticou a falta de segurança em casas noturnas e o Conselho Tutelar. Segundo ele, o órgão é a “maior praga do mundo”, pois não permite que jovens trabalhem.

Na carta, o padre afirma que errou. "Se me expressei mal, mais uma vez, mil desculpas. Falando é que a gente se entende. 'Errar é humano, permanecer no erro, não'. Continuarei rezando por todos, pois a vida continua", escreveu.
Ao G1, Adherbal Ferreira falou que aceitou o pedido de desculpas. "Ele me mandou a carta e justificou. Na minha concepção, quem perdoa é Deus, mas eu aceitei as desculpas dele. Estou falando por mim, não em nome da associação. Acho que cada pai deve agir conforme sua vontade", ressaltou o empresário.
Leia a carta com o pedido de desculpas na íntegra:

"Paz e Bem!

Unido em oração com os que sofrem pelo acontecido na boate Kiss, peço de coração mil desculpas se numa entrevista da Rádio Spaço FM houve um mal entendido numa hora inoportuna, digo, na colocação da entrevista.

Já celebrei muitas missas pelos falecidos, suas famílias, bem como pelos que ficam com sequelas. Coragem a vida continua. Também sofri um acidente há quatro anos e estou lutando pela minha saúde, sei o que é sofrer para curar.

Se me expressei mal, mais uma vez, mil desculpas. Falando é que a gente se entende.
“Errar é humano, permanecer no erro, não”. Continuarei rezando por todos, pois a vida continua.
Atenciosamento, Pe. Odair Rizzo."

Entenda
O incêndio na boate Kiss, em Santa Maria, na Região Central do Rio Grande do Sul, ocorreu na madrugada do dia 27 de janeiro de 2013. A tragédia matou 242 pessoas, sendo a maioria por asfixia, e deixou mais de 630 feridos.

O fogo teve início durante uma apresentação da banda Gurizada Fandangueira e se espalhou rapidamente pela casa noturna, localizada na Rua dos Andradas, 1.925.

O local tinha capacidade para 691 pessoas, mas a suspeita é que mais de 800 estivessem no interior do estabelecimento. Os principais fatores que contribuíram para a tragédia, segundo a polícia, são: o material empregado para isolamento acústico (espuma irregular), uso de sinalizador em ambiente fechado, saída única, indício de superlotação, falhas no extintor e exaustão de ar inadequada.

Ainda estão em andamento dois processos criminais contra oito réus, sendo quatro por homicídio doloso (quando há intenção de matar) e tentativa de homicídio, e os outros quatro por falso testemunho e fraude processual. Os trabalhos estão sendo conduzidos pelo juiz Ulysses Fonseca Louzada. Sete bombeiros também estão respondendo pelo incêndio na Justiça Militar. O número inicial era oito, mas um deles fez acordo e deixou de ser réu.

Entre as pessoas que respondem por homicídio doloso (com intenção), na modalidade de "dolo eventual", estão os sócios da boate Kiss, Elissandro Spohr (Kiko) e Mauro Hoffmann, além de dois integrantes da banda Gurizada Fandangueira, o vocalista Marcelo de Jesus dos Santos e o funcionário Luciano Bonilha Leão. Os quatro chegaram a ser presos nos dias seguintes ao incêndio, mas a Justiça concedeu liberdade provisória aos quatro em maio do ano passado. Entre os bombeiros investigados, está Moisés da Silva Fuchs, que exerceu a função de comandante do 4° Comando Regional de Bombeiros (CRB) de Santa Maria.

Atualmente, a Justiça está em fase de recolher depoimentos dos sobreviventes da tragédia. O próximo passo será ouvir testemunhas. Os réus serão os últimos a falar sobre o incêndio ao juiz. Quando essa fase for finalizada, Louzada deverá fazer a pronúncia, que é considerada uma etapa intermediária do processo.

Se o magistrado "pronunciar" o réu, ele vai a júri (a pronúncia é a ordem para ir a júri). Outra possibilidade é a chamada desclassificação, quando o juiz não manda o réu para júri, mas reconhece que houve algum tipo de crime. Nesse caso, a causa será julgada sem júri. Também existe a chance de absolvição sumária dos réus. Em todas as hipóteses, cabe recurso.

No âmbito das investigações, três delas estão sendo conduzidas pela Polícia Civil. Além dos documentos sobre as licenças concedidas à boate Kiss, um inquérito apura as atividades da empresa Hidramix, responsável pela instalação de barras antipânico na boate, e outro analisa uma suposta fraude no documento de estudo de impacto na vizinhança do prédio onde ficava a casa noturna. O Ministério Público, por sua vez, investiga as responsabilidades de servidores municipais na tragédia.
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