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Domingo, 21 de julho de 2024

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Motorista pede perdão às famílias das vítimas de acidente na Linha Amarela

O caminhoneiro Luiz Fernando Costa, em entrevista exclusiva ao Fantástico, a primeira desde o acidente com a carreta que derrubou uma passarela na Linha Amarela, no Rio de Janeiro, na terça-feira (28), pediu perdão às famílias das vítimas. Cinco pessoas morreram no acidente.


“Perdão a todos. Se pudesse pedir, abraçar... Eu tenho família também. Tenho um casal de filhos. Cinco famílias destruídas. A minha poderia ser a outra. Perdão mesmo”, declarou. O motorista permanecia internado no Centro de Tratamento Intensivo (CTI) do Hospital do Coração (HSCor) de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, sem previsão de alta.

Veja o site do Fantástico

Na entrevista, Costa garantiu que não viu o acidente e não percebeu que a caçamba do caminhão havia levantado. “Eu não vi nem o acidente. Só escutei aquele estrondo (...) Não sei nem até agora quantas pessoas que morreram, por causa dessa desgraça”, afirmou, durante a entrevista. Ao ser informado sobre quantas pessoas morreram, o motorista chorou. A dona de casa Dulce Costa, mãe do motorista que acompanhava a entrevista, tentou consolá-lo. “Não fica assim.”

Irregularidades
Ao dirigir pela Linha Amarela, que liga as zonas Norte e Oeste do Rio, Luiz Fernando cometeu várias irregularidades. Naquele horário, às 9h, caminhões são proibidos de circular pela via expressa. Além disso, ele estava acima da velocidade permitida, não usava o cinto de segurança e falava ao celular.

O motorista admitiu que foi negligente na direção da carreta. “Com certeza (sobre assumir que foi negligente). Não sou louco de levantar um troço de toneladas contra carros pequenos numa via daquela, capaz de derrubar uma passarela”, ressaltou.

O Fantástico levou um caminhão do mesmo modelo usado por Luiz Fernando para uma pista fechada para obras em São Paulo. Por motivos de segurança, o veículo não passou dos 40 km/h, velocidade bem inferior à do caminhão no momento do acidente.

“A caçamba normalmente para acionar você pisa na embreagem até o final e aciona a tomada de força que manda pressão pra bomba hidráulica. Em seguida, você libera o óleo da bomba hidráulica pra levantar a caçamba”, explica o motorista Alessandro Pereira Batista.“O painel, ele não indica nada, o procedimento é todo hidráulico."
"O motorista vai perceber. Isso começa a balançar, tira todo o prumo do caminhão, o ponto de equilíbrio dele sobe. Desculpe, mas tem que ser um motorista muito distraído para durante três quilômetros não ter olhado no espelho”, completou Mario Rinaldi, diretor da Associação de Fabricantes de Caminhões.

Costa discordou da avaliação de Rinaldi. “Tu não sente impacto nenhum levantando uma caçamba daquela a não ser que tenha um tufão, furacão, para ficar aquela caçamba levantada. Aí eu vou sentir. Fora isso, levantar ela mesma, coisa que quando está parado. Eu senti o impacto, mas não sabia que era naquela passarela”, declarou.
A Polícia Civil pretende concluir as investigações do caso nesta semana. “Pela investigação, ainda não temos a conclusão do laudo, mas que possa ter havido realmente uma falha humana, pela distração do motorista, principalmente por ter falado ao telefone celular”, afirmou o delegado Fábio Asty.

Para o delegado, o motorista pode ter esbarrado, de forma proposital ou acidental, no interruptor que aciona o levantamento da caçamba. “Exato. Ele pode ter acionado o interruptor de força de forma voluntária ou involuntária, por um esbarrão, por exemplo, quando estava utilizando a caixa de marchas. E com isso, com a aceleração que ele dispendeu na Linha Amarela, e com essa aceleração ele pode ter causado esse acidente.”

A análise das imagens feita pela polícia revela que, do momento em que a caçamba começou a levantar até o choque com a passarela, passaram-se 36 segundos. Neste período, ele trocou de pista duas vezes. “Eu não sei o que houve, não. Mas houve falha mecânica. Se for feita a perícia... Embaixo do caminhão, eles vão saber o que foi... Foi alguma coisa debaixo...”, defendeu Costa.

Homicídio culposo

Luiz Fernando deve ser indiciado por homicídio culposo, sem intenção de matar. “Mas ao final das investigações, ele pode ser indiciado por homicídio culposo e pelas lesões corporais culposas. Caso tenha sido comprovado que ele assumiu o risco desse resultado ter acontecido”, disse o delegado.

A empresa Arco da Aliança, dona do caminhão, aguarda o resultado da perícia. “Vida não tem como voltar. É uma coisa que, infelizmente... Senão, a gente voltaria o tempo, né? Mas as coisas que forem, que a Justiça falar que tem que fazer, a empresa com certeza vai assumir todas as responsabilidades”, disse Adélia Almeida Hernandes, dona da empresa.

Frequentes

Acidentes como o do Rio são mais frequentes do que se imagina. Fato semelhante ocorreu na região metropolitana de Porto Alegre, em dezembro de 2013. Não houve feridos, na ocasião. Mas em Sorocaba, interior de São Paulo, dois morreram. O acidente aconteceu em novembro de 2010.

Em Uberlândia, a maior cidade do Triângulo Mineiro, em maio do ano passado, houve acidente semelhante na BR-050, uma rodovia importante do país. O caminhão, que também estava com a caçamba levantada, bateu em uma passarela de pedestre.

As imagens gravadas logo após a batida mostram a caçamba presa nas ferragens. Uma mulher que estava em uma motocicleta ficou ferida. E um homem, que atravessava a passarela numa bicicleta, morreu. Luís Amado Bezerra, de 58 anos, despencou de uma altura de mais de cinco metros.

A Polícia Civil só encerrou as investigações na última sexta-feira (31). Segundo o delegado, o laudo da perícia foi inconclusivo. Mas o motorista foi indiciado por homicídio culposo.

Desde 2012, a Associação Brasileira de Normas Técnicas recomenda que os caminhões saiam de fábrica com um dispositivo de segurança, que evita que a caçamba levante em movimento.
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