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Quarta-feira, 17 de julho de 2024

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Ativista denuncia participação de militares brasileiros no Plano Condor

O secretário do MJDH (Movimento de Justiça e Direitos Humanos), Jair Krischke, afirmou em entrevista à Ansa que militares brasileiros, que atuaram na repressão à Guerrilha do Araguaia (1972-1975), foram enviados ao Chile em 1975 para participar da primeira reunião do Plano Condor.


"Somente agora, passados mais de 30 anos, conseguimos saber quem foram os militares que representaram a ditadura brasileira naquele nefasto evento. O tenente-coronel Flávio de Marco (também conhecido pelo codinome Tio Caco), chefe da delegação, e o major Thaumaturgo Sotero Vaz, chamado de Doutor Sabino", afirmou Krischke.

O "nefasto evento" ao qual o ativista se refere é um encontro ocorrido em Santiago do Chile em novembro de 1975, sob a aprovação do ditador Augusto Pinochet (que governou o país de 1971 a 1990).

Krischke falou da participação brasileira no Plano Condor, estratégia de repressão coordenada pelas ditaduras do Cone Sul na década de 1980, seu tema de estudo.

A Justiça italiana consultou o trabalho do secretário do MJDH para, em 2007, processar 13 militares brasileiros, dentre os quais o presidente João Baptista Figueiredo, que governou o país entre 1979 e 1985.

De acordo com o ativista, a missão do regime brasileiro --que viajou ao Chile e foi recebida pelo chefe da Dina (a polícia secreta de Pinochet), Manuel Contreras-- era liderada por Flávio de Marco, homem de confiança de Figueiredo. Em 1975, Marco era o chefe dos serviços de Inteligência brasileiros.

As informações sobre a atuação do Brasil junto às ditaduras de Argentina, Chile, Bolívia, Paraguai e Uruguai começam a aparecer pouco depois que o major Sebastião Curió divulgou documentos sobre torturas e desaparecimentos de guerrilheiros na região do Araguaia.

No último mês, o ex-capitão do Exército entregou à imprensa documentos sobre a repressão militar na região do rio Araguaia. Nos papéis consta o nome do ex-major Vaz, além de Marco, ambos responsáveis pelo sumiço de dezenas de pessoas no Araguaia.

Segundo Krischke, os nomes dos representantes enviados à primeira reunião do Plano Condor eram um mistério no Brasil, pois eles "não assinaram a ata de formação do grupo", juntando-se "formalmente" ao mesmo somente "no segundo encontro, em junho de 1976".

O ativista explicou que agentes brasileiros do SNI (Serviço Nacional de Informações) atuavam no Chile desde 1971, "buscando desestabilizar o governo de Salvador Allende e monitorando os exilados brasileiros no país, que naquele momento chegavam a mais de cinco mil pessoas". O presidente Salvador Allende morreu no dia 11 de setembro de 1973, quando um golpe militar pôs fim a seu governo.

Outro precedente, aponta ele, foi a presença de repressores brasileiros nos interrogatórios comandados por agentes chilenos no Estádio Nacional de Santiago, após consumado o golpe.

Krischke indicou que outro agente envolvido com o Condor foi o delegado Sérgio Paranhos Fleury, que atuou no Dops (Departamento da Ordem Política e Social) de São Paulo. "O próprio Embaixador do Brasil estava muito envolvido com os golpistas" chilenos, disse ele, referindo-se a Antônio Cândido da Câmara Canto, que desempenhava a função à época.

Para o MJDH, é possível que os militares ainda impunes no Brasil sejam processados nas cortes dos países sul-americanos. Isto porque, no Brasil, os militares foram anistiados.
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