Olhar Direto

Sábado, 20 de julho de 2024

Notícias | Brasil

RJ: herói argentino de 78 se hospeda em favela para ver Copa

René Houseman, campeão mundial pela Argentina, se divide entre Santa Marta e Cidade de Deus enquanto a bola rola no Brasil


A canção vem de memória aos torcedores argentinos e ecoa há décadas nos estádios em partidas da seleção. “Voltaremos voltaremos. Voltaremos outra vez. Voltaremos a ser campeões. Abraçados a René”.

René é René Houseman, autor de três gols na Copa de 74, campeão do Mundial em 78. Ele escolheu uma maneira diferente para acompanhar a edição de 2014 no Brasil. Na última semana, o ídolo argentino se hospedou na favela de Santa Marta, no Rio de Janeiro. É de lá que acompanhará a luta de seu país por um novo Maracanazo.

A idolatria dos argentinos a René se explica justamente por gestos como esse. Espécie de Carlitos Tevez de seu tempo, Houseman teve uma infância dura no Baixo Belgrano, foi recusado pelo clube que torcia (Excursionistas), acabou por estrear no rival (Defensor de Belgrano) e virou ídolo no Huracán. Driblava como poucos. Representava o povo como quase ninguém. Parou de jogar prematuramente porque era alcoólatra.

“O melhor que temos é nossa humildade”, disse Houseman à revista Garganta Poderosa. Trata-se de uma publicação argentina desenvolvida justamente sobre a vida em favelas, onde é distribuída. Já entrevistou personalidades como Lionel Messi, Juan Riquelme e Diego Maradona. E convidou René para seguir até a comunidade de Santa Marta, no Rio, junto a uma legião de torcedores do país.

“Só de cumprir o sonho de participar de mais um Mundial me sinto muito feliz. Mas sobretudo porque aqui estou em meu ambiente, com a gente das vilas, das favelas. Como não se emocionar? Estou contente de voltar ao passado, às minhas origens e às coisas que me fazem bem”, disse René Houseman em carta aberta.

No Rio de Janeiro, seu telefone celular está desligado. René se divide entre Santa Marta e a Cidade de Deus, das comunidades mais famosas do Rio de Janeiro. Houseman caminha pelas vilas vestido com uma camisa de número 24 que têm todos os que compõem seu grupo. Naturalmente, eles se intitulam o 24º jogador do elenco de 23. E têm um campeão junto de si.

“Sempre me gera indignação ver as necessidades que ainda têm as vilas e favelas em qualquer lugar do mundo”, lembrou Houseman. "Me dói, porque não nasci em berço de ouro. Nasci em berço de barro e estou muito orgulhoso disso. Vivi a minha vida inteira sendo coerente com isso e seguirei assim”, contou. “Essa banda (turma) poderosa sabe de onde venho porque vem do mesmo lugar”.

Prestes a completar 61 anos no próximo mês, René se empolgou com o que viu do alto do morro no Rio de Janeiro. "Não posso comparar com Baixo Belgrano, porque esse amor é muito especial para mim. Mas devo reconhecer as paisagens admiráveis que temos nesse morro. Isso é impagável e juro pelo meu neto, o que mais amo neste e em outros mundos", emocionou-se.

No domingo, René Houseman foi um entre os mais de 74 mil torcedores no Maracanã. Desprezou camarotes. Estava nas arquibancadas, se camuflou entre os argentinos que invadiram o Rio. Nem parecia ter 13 gols em 55 jogos por seu país. Nem parecia um campeão do mundo. É certamente um campeão da vida.

Entre no nosso canal do WhatsApp e receba notícias em tempo real, clique aqui

Assine nossa conta no YouTube, clique aqui
 
Sitevip Internet