Olhar Direto

Sexta-feira, 19 de julho de 2024

Notícias | Brasil

'O Brasil não é um país tranquilo', diz Paulo Lins na última mesa da Flica

"A gente consegue ir à lua, mas não consegue equilibrar as relações humanas, lidar com as diferenças. O Brasil não é um lugar tranquilo", disse o romancista e roteirista Paulo Lins durante a décima segunda e última mesa de debates da 4ª Festa Literária Internacional de Cachoeira (Flica), no recôncavo da Bahia, que chegou ao fim no início da tarde deste domingo (2).


Por meio do tema "Demarcando Espaços e Territórios", Paulo Lins discutiu com os poetas e professores Nelson Maca e Juraci Tavares assuntos relacionados à violência contra a população negra, às políticas de reparação social e a literatura de afirmação identitária.  Autor do livro "Cidade de Deus", que fala sobre o avanço do tráfico de drogas e repressão policial nas favelas, Lins ressaltou que o país vive em guerra, e que a população negra é a principal vítima da violência. "Se você está na rua, você vê que todo mundo tem medo. Nas grandes cidades, você tem a violência e o bicho pega. A guerra continua", considerou.

Neste contexto, a redução da maioridade penal entrou em pauta. Os três participantes da mesa criticaram categoricamente a proposta levantada por algumas esferas sociais. Para Juraci Tavares, a pessoas que apoiam a ideia estão transferindo a responsabilidade do avanço da violência para as ruas. "Estamos transferindo a nossa responsabilidade para a rua. Quando transferimos a nossa responsabilidade para os outros, a gente abre a possibilidade de não resolver. A juventude negra é uma juventude que está o tempo todo acuada", apontou. Ele ressaltou que a população negra, que historicamente foi colocada à margem da sociedade, é a principal vítima deste tipo de política.

Para Juraci Tavares, a população deve refletir que ninguém nasce marginal e que todos têm responsabilidade sobre as pessoas que acabam entrando no mundo do crime. "A sociedade tem que entender que é co-responsável. Eles não nasceram marginais. Somos construídos médicos e também somos construídos delinquentes", refletiu sobre as práticas sociais que marginalizam pessoas pelo cor, pelo credo, pelos gosto e pela religião.

Neste sentido, Nelson Maca atestou que há mesmo uma guerra social em que uma determinada esfera social tenta definir qual é o lugar da outra. Para isso, ele define que a palavra de ordem é "resistência". "Eu gosto de dizer que sou da literatura negra. Em cada verso meu, inspiração, eu tento compor a partir desta simbologia. Eu sou desta guerra, meus textos estão nessa guerra. Enquanto houver desigualdades, o mundo estará em guerra", revelou.

Os integrantes da mesa também defenderam a importância das cotas nas universidades, como  um instrumento de democratização ao ensino. "Eu acredito que as cotas fazem parte do processo de emancipação do povo negro", acredita Nelson Maca. Sobre o assunto, Paulo Lins disse que a política de cotas tem provado que é justa e necessária. "Sobre as cotas, elas deram certo. Não precisa mais discutir mais isso", atestou.
Entre no nosso canal do WhatsApp e receba notícias em tempo real, clique aqui

Assine nossa conta no YouTube, clique aqui
 
Sitevip Internet