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Quinta-feira, 18 de julho de 2024

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Um ano depois, motorista de acidente na Linha Amarela continua dirigindo

Foto: (Foto: Reprodução/GloboNews)

Queda da passarela deixou cinco mortos, esmagou carros e bloqueou os dois sentidos da Linha Amarela

Queda da passarela deixou cinco mortos, esmagou carros e bloqueou os dois sentidos da Linha Amarela

Era um dia normal de trabalho que se transformou em uma tragédia. Na terça-feira, dia 28 de janeiro de 2014, uma passarela foi arrastada por um caminhão de entulho que estava com a caçamba levantada, trafegando pela Linha Amarela em horário não permitido. Cinco pessoas morreram e quatro ficaram feridas em um acidente que chocou a cidade.


Luiz Fernando Costa, motorista do caminhão, está sendo acusado na Justiça por homicídio culposo e lesão corporal culposa. Um ano após a tragédia, em entrevista exclusiva ao G1, ele diz que continua trabalhando atrás de um volante, agora dirigindo um caminhão-guindaste por vários bairros do Rio.

Uma via, no entanto, continua sendo vista com medo. "Tento evitar ao máximo a Linha Amarela. Quando ando nela, vou com medo", diz o motorista, que afirma que trabalha sem ter a carteira de trabalho assinada. "Faço isso como bico para sobreviver, tenho duas filhas para criar", explica ele.

Luis afirma que conseguiu uma habilitação no Detran para dirigir caminhões, após pedir uma segunda via no órgão em março de 2014, dois meses após o acidente. "Não havia nenhum processo e na minha carteira, então eu pedi uma segunda via", explica.

O motorista admite que estava falando em um rádio-comunicador no momento do acidente e que errou ao pegar a Linha Amarela, já que a circulação de caminhões na área só seria permitida a partir das 10h daquela terça-feira. "Eu estava falando com um amigo meu que o filho havia desaparecido, e passei por ali exatamente para cortar caminho... Para ir para a rodoviária [que fica na Zona Portuária]", afirma.

Por meio de sua assessoria, o Detran não informou se Luiz Fernando Costa tem algum auto de infração registrado em sua carteira de habilitação. Em nota, o órgão acrescentou que o processo administrativo de suspensão do direito de dirigir de um condutor infrator, de acordo com o Código de Trânsito Brasileiro (CTB) e da Resolução Contran, só é instaurado depois de esgotados todos os meios de defesa das infrações. Ainda segundo o Detran, o condutor tem três chances de recorrer no õrgão. Portanto, enquanto a carteira não for suspensa, o condutor poderá renovar sua CNH nos trâmites normais. Já o motorista explicou que não tem nenhuma multa registrada em sua carteira.

'Minha vida quase acabou'

As cicatrizes no braço após a fratura exposta e a marca do dreno do tórax são, para Jairo Zenatti, de 44 anos, a lembrança constante da tragédia em que quase morreu. "Tive perda de memória, quebrei nariz, globo ocular, tive que fazer dreno de pneumotórax, quebrei três vértebras. Minha vida quase acabou", contou Jairo ao G1. Ele conta que viajava de moto para Jacarepaguá, no sentido contrário ao caminhão de Luis Fernando Costa.

"Na hora em que eu ouvi o estrondo e vi aquela sombra vindo para cima, acelerei para tentar passar por baixo, mas fui atingido pelo piso da passarela. Quando acordei, cuspi sangue e tentei mexer o braço, mas não consegui", relata ele, que foi levado para o Hospital Federal de Bonsucesso, na Zona Norte do Rio e passou por cinco horas de cirurgia. Após quatro dias, ele foi levado para um hospital particular. Ao voltar para casa, a recuperação foi difícil.

"Eu morava em um lugar sem elevador, então era difícil subir até o apartamento. Tenho duas filhas para criar, minha mulher teve que sair do trabalho para cuidar de mim, praticamente só posso andar de táxi até hoje, tive problemas na fisioterapia e fiquei 7 meses afastado do trabalho", diz ele, emocionado. "Só estou aqui pelas minhas filhas e pela força do espírito".

Jairo vai entrar com uma ação por danos morais e patrimoniais contra a empresa de entulho Terra Prometida, a Lamsa, concessionária que administra a Linha Amarela. "Ele teve perdas patrimoniais, não conseguiu pagar o aluguel porque tinha que andar o tempo todo de táxi, e não teve nenhuma ajuda vinda da empresa ou da Lamsa", afirma Alexandre Goldberg, advogado de Jairo. Trabalhando atualmente em serviços administrativos em uma empresa da área de combustíveis, ele diz que o motorista tem de pagar pelo que fez, mas não sente raiva. "Ele foi imprudente, mas não posso viver com rancor", avaliou.

O amigo de uma das vítimas, Adriano Oliveira, de 26 anos, conta que o dia da tragédia quase se repetiu nesta segunda-feira (26). "Um caminhão ficou a dois dedos de bater exatamente na mesma passarela, também de manhã. Foi um absurdo o que aconteceu, tentei com a ajuda de outros salvar o Adriano, mas não teve jeito", lembra Paulo Ivair dos Santos, morador de Irajá.

Mortes ainda atormentam motorista

A morte de cinco pessoas no acidente ainda atormenta Luiz, que afirma que gostaria de encontrar as famílias das vítimas. "Nunca quis ver e não sei se vou conseguir ver as imagens do acidente. É difícil, queria explicar que foi uma falha mecânica, mas as pessoas devem estar com muita raiva de mim", diz ele, que se emociona e chora ao falar dos mortos. "É complicado, é complicado".

O advogado de Luiz Fernando, Jaime Ângelo Nonato Fusco, diz que vai pedir uma nova perícia do caminhão que se envolveu no acidente. Durante as investigações da 44ª DP, ficou comprovado depois que o veículo estava em alta velocidade, e o Ministério Público denunciou o motorista. "Queremos provar que o carro estava com problemas mecânicos já há muito tempo, inclusive na semana anterior, quando a caixa de marcha caiu, e que a caçamba só levantou devido a esse problema". O motorista nega que estivesse em alta velocidade. "Estava a 80 km/h, 85 km/h, por aí", diz.

O motorista não foge às perguntas sobre o acidente, mas também se diz vítima da empresa Arco da Aliança. Ele afirma que foi demitido enquanto ainda estava no Centro de Terapia Intensiva do Hospital do Coração de Duque de Caxias, o HScor. "Tive fratura na coluna, problemas cardíacos e operei o fígado. No meio de tudo isso, me mandam embora?", questiona ele. "Fiquei muito revoltado, não esperava isso da empresa. Estava trabalhando havia praticamente 21 horas na hora do acidente, e fazia isso o tempo todo", desabafa. "Era um dia normal que se transformou em uma tragédia. Me arrependo muito de ter pegado a Linha Amarela naquele dia. Não consigo dormir depois disso", diz ele. Após uma audiência no dia 25 de novembro, uma nova audiência de instrução e julgamento para o caso de Luiz Fernando Costa está marcada para o dia 9 de abril.

Empresa não comenta

A empresa Arco da Aliança, para quem Luis Fernando Costa prestava serviço no momento do acidente, declarou que não iria comentar as declarações de Luis Fernando Costa e das vítimas do acidente e as ações judiciais movidas por estas contra a empresa.

A Lamsa, concessionária que administra a Linha Amarela, afirmou, em nota, que ao constatar a presença de caminhões trafegando fora do horário permitido, entre 6h e 10h, avisa ao Batalhão de Policiamento de Vias Especiais (BPVE), que é responsável pela fiscalização da via. A empresa afirma que ofereceu apoio médico às vítimas e auxílio funeral para todas as famílias de vítimas fatais.

Em relação a eventuais processos judiciais, a empresa está tomando as medidas cabíveis. A empresa diz ainda que instalou um limitador de altura em fevereiro, ainda quando havia uma passarela provisória após a tragédia, além de dois radares móveis em Bonsucesso. Segundo a Concessionária, foram aplicadas 6791 multas por circulação de caminhões em horário restrito em 2014.
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