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Quarta-feira, 17 de julho de 2024

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'Não participei disso', diz pai sobre morte de Bernardo em depoimento

Foto: (Foto: Ricardo Duarte/Agência RBS )

Leandro Boldrini, pai do menino Bernardo, depõe em audiência

Leandro Boldrini, pai do menino Bernardo, depõe em audiência

Após ser recebido com gritos de "assassino" por manifestantes, Leandro Boldrini, pai do menino Bernardo, iniciou seu depoimento por volta das 10h30 desta quarta-feira (27) no fórum de Três Passos, no Noroeste do Rio Grande do Sul. Ele é o primeiro acusado a ser ouvido pelo juiz Marcos Luís Agostini, que também interrogará a madrasta Graciele Ugulini, a amiga dela, Edelvânia Wirganovicz, e o irmão de Edelvânia, Evandro Wirganovicz. Os quatro são réus no processo e estão presos.


Com um colete à prova de balas, ele falou sobre como era sua relação com o filho, como foi o dia da morte do menino e abriu sua fala negando participação no crime. "A acusação é falsa, não participei disso", afirmou o médico (leia mais abaixo os principais trechos do depoimento).

"Fiquei sabendo da morte do Bernardo quando já estava preso", afirmou Leandro. "Quando ela [Graciele] confessou que teve participação... a polícia me segurou. Sei lá o que iria fazer, senti um descontrole. Chorei e fiquei indignado com ela", completa.

O menino desapareceu no dia 4 de abril de 2014, data em que foi morto. Seu corpo só foi encontrado no dia 14 de abril. Segundo as investigações da Polícia Civil, o menino morreu em razão de uma superdosagem do sedativo midazolan e foi enterrado em uma cova, na área rural de Frederico Westphalen, a 80 km de Três Passos. Graciele e Edelvânia teriam dado o remédio que causou a morte do garoto e depois teriam recebido a ajuda de Evandro para enterrar o corpo.

A denúncia do Ministério Público (MP) apontou que Leandro Boldrini atuou no crime de homicídio e ocultação de cadáver como mentor, juntamente com Graciele. O médico responde por homicídio triplamente qualificado, ocultação de cadáver e falsidade ideológica.

Após a leitura da denúncia pela Justiça, as perguntas começaram a ser feitas ao réu durante a audiência.

"A acusação é falsa, não participei disso", disse Boldrini, em suas primeiras palavras sobre a morte do menino. "Tem laudos periciais provando isso. Fizeram a denúncia baseados na intuição, imaginaram que eu tivesse participação", completou.

Questionado sobre quem, então, teria participação na morte, o médico respondeu: "os outros", referindo-se aos outros três denunciados.

O médico também negou que existisse marcas de agressão no menino, mas disse que pode haver "marcas de contenção".

Sobre ameaças de Graciele a Bernardo, ele defendeu que não fez nada porque acreditou que ela seria incapaz de fazer alguma coisa.

Sobre o dia do crime
Sobre o dia do crime, Leandro disse que sabia que Graciele iria a Frederico Westphalen comprar uma televisão e afirmou que ficou contente. Também disse que ouviu da mulher que levou Bernardo junto para ele não ficar fazendo barulho e acordar a filha do casal.

"Não sabia que o Bernardo iria junto. Saí do consultório e tentei ligar para a Graciele, mas vi que o carro dela estava ali na frente. Ela estava carregando o aquário. Recebi uma mensagem dizendo que uma compra foi feita com meu cartão. A TV estava no banco da frente do carro e ela estava carregando o aquário", afirmou.

Relação de Bernardo com casal
O pai de Bernardo também teve de falar sobre a relação de Graciele com o enteado, e dele com o filho. "A Graciele tinha insatisfação pelo Bernardo ter desempenho escolar insatisfatório", relatou, antes de o juiz lembrar que, em outro momento, o médico disse que Graciele e Bernardo se odiavam.

"Isso foi em meados de 2013, ela tinha discussões muito agressivas e eu entrava no meio para apaziguar. O Bernardo me obedecia porque eu insistia para ele me obedecer", acrescentou, completando que tinha boa relação como o filho, e que rezavam juntos antes de dormir.

Ainda de acordo com o médico, um vídeo gravado no celular em que a madrasta aparece ameaçando o menino foi o ponto de partida para a procura de ajuda.

"O grau de tolerância do Bernardo era zero, ele queria tudo na hora. Jogava óculos no chão, celular no chão, tudo no chão. Foi mostrado ao psiquiatra e até a polícia".

A criança tomava remédios como ritalina para déficit de atenção, relatou Boldrini. "Ele começou tratamento psiquiátrico em 2013 e parou no mesmo ano, mas seguiu tomando ritalina. Era para melhorar o desempenho escolar".

Chegado a fórum sob gritos de "assassinos"
Antes do depoimento, Leandro Boldrini foi recebido por gritos de "assassino" por manifestantes do lado de fora do fórum. Ele veste um colete à prova de balas.

Já dentro da sala, de frente ao juiz, o pai de Bernardo pediu para que a imprensa não participasse da audiência, o que foi negado. As audiências ocorrem depois de a Justiça ouvir mais de 50 testemunhas. O crime completou um ano em abril e chocou o país.

Do lado de fora do fórum, manifestantes se concentraram desde cedo para pressionar os réus. Além de xingamentos, um carro de som repete a todo o momento a gravação dos gritos do menino(assista no vídeo abaixo). Materiais foram confeccionados por integrantes do grupo "Corrente do Bem", que pede justiça pela morte de Bernardo, são distribuídos, como uma foto dele com um terço.

A Rua General Osório, perto da esquina do prédio do fórum, foi bloqueada para o tráfego de veículos pouco antes das 8h, e equipes da Brigada Militar e da Polícia Civil guardam a entrada. Ao longo da rua também foram pendurados cartazes em homenagem a Bernardo.

Até agora, o processo conta com 32 volumes e um total de 6,6 mil páginas. Considerando as testemunhas de acusação e defesa, 53 pessoas foram ouvidas em 18 audiências de instrução.

A audiência é conduzida pelo juiz Marcos Luís Agostini, titular do processo da 1ª Vara Judicial da Comarca. Os defensores de Graciele e Edelvânia chegaram a pedir dispensa do comparecimento delas na audiência. Porém, a Justiça negou e mandou que elas sejam levadas ao Fórum de Três Passos. Mesmo assim, os réus podem exercer o direito de permanecer em silêncio.

Encerrada esta fase, as defesas apresentam seus argumentos. Ao final, o juiz terá quatro opções: sentença de pronúncia (os réus vão ser julgados em júri popular), sentença de impronúncia (o magistrado considera que não há prova da existência do fato ou indícios de autoria e o processo é arquivado), absolvição sumária (réus inocentados) e desclassificação (em discordância do juiz com a acusação, o caso acaba sendo julgado em vara criminal).

Relembre o caso

- O menino de 11 anos Bernardo Boldrini foi visto vivo pela última vez no dia 4 de abril de 2014 por um policial rodoviário. No início da tarde daquele dia, Graciele foi multada por excesso de velocidade. A infração foi registrada na ERS-472, em um trecho entre os municípios de Tenente Portela e Palmitinho. A mulher trafegava a 117 km/h e seguia em direção a Frederico Westphalen. O Comando Rodoviário da Brigada Militar (CRBM) disse que ela estava acompanhada do menino.

- Um vídeo divulgado em maio do ano passado mostra os últimos momentos de Bernardo. Ele aparece deixando a caminhonete da madrasta, Graciele Ugulini, e saindo com ela e com a assistente social Edelvânia Wirganovicz. Horas depois, as duas retornam sem Bernardo para o mesmo local.

- O corpo de Bernardo foi encontrado no dia 14 de abril de 2014, enterrado em um matagal na área rural de Frederico Westphalen.

- Segundo as investigações da Polícia Civil, Bernardo foi morto com uma superdosagem do sedativo midazolan. Graciele e Edelvânia teriam dado o remédio que causou a morte do garoto e depois teriam recebido a ajuda de Evandro para enterrar o corpo.  A denúncia do Ministério Público (MP) apontou que Leandro Boldrini atuou no crime de homicídio e ocultação de cadáver como mentor, juntamente com Graciele. Conforme a polícia, ele também auxiliou na compra do remédio em comprimidos, fornecendo a receita. A defesa do pai nega.

- O irmão de Edelvânia, Evandro Wirganovicz é acusado de homicídio simples e ocultação de cadáver. Ele seria o responsável por cavar a cova onde o menino foi enterrado.

- Em vídeo divulgado pela defesa de Edelvânia, ela muda sua versão sobre o crime. Nas imagens, ela aparece ao lado do advogado e diz que a criança morreu por causa do excesso de medicamentos dados pela madrasta. Na época em que ocorreram as prisões, Edelvânia havia dito à polícia que a morte se deu por uma injeção letal e que, em seguida, ela e a amiga Graciele jogaram soda cáustica sobre o corpo. A mulher ainda diz que o irmão, Evandro, é inocente.

PERGUNTAS E RESPOSTAS SOBRE O CASO

Como Bernardo morreu?

A Polícia Civil aponta que Bernardo foi morto com uma superdosagem do sedativo midazolan e depois enterrado em uma cova rasa, na área rural de Frederico Westphalen. Graciele e Edelvânia teriam dado o remédio que causou a morte do garoto e depois teriam recebido a ajuda de Evandro para enterrar o corpo.

Com quem Bernardo morava?

Ele vivia com o pai, a madrasta e a bebê do casal, à época com cerca de um ano, em uma casa em Três Passos. A mãe de Bernardo, Odilaine, morreu em fevereiro de 2010. Recentemente, o  Ministério Público solicitou novos documentos sobre o caso de Odilaine. Em até 30 dias, o MP deve se manifestar a favor ou contra a abertura das investigações. O inquérito policial concluiu que ela se matou, mas uma perícia particular contratada pela família aponta a hipótese de homicídio.

Quem está preso?

O médico Leandro Boldrini, pai da criança, a madrasta Graciele Ugulini, a amiga dela Edelvânia Wirganovicz e o irmão Evandro Wirganovicz.

Quando ocorre o julgamento?

Ainda não há data marcada. Após o interrogatório dos quatro réus nesta quarta, as defesas apresentam seus argumentos. A expectativa é que o julgamento aconteça até o fim de 2015.

Os réus respondem por quais crimes?

Leandro Boldrini vai responder por homicídio triplamente qualificado, ocultação de cadáver e falsidade ideológica. Graciele e Edelvânia responderão por homicídio triplamente qualificado e ocultação de cadáver. Evandro Wirganovicz é acusado de homicídio simples e ocultação de cadáver.

Como o corpo foi encontrado?

Na noite do dia 14 de abril, o corpo do menino foi encontrado enterrado em uma cova em um matagal na cidade de Frederico Westphalen, no Norte do estado, a 80 km de onde o menino morava. Edelvânia mostrou aos policiais onde o corpo da criança estava enterrado.

Como era a relação de Bernardo com o pai? 

No ano passado, vídeos gravados pelo próprio pai mostram discussões do menino com o casal. Em um deles, a criança está com uma faca na mão e é instigada por Leandro. "Vamos lá, machão", diz o médico. Há também relatos de vizinhos e amigos dão conta que o menino se dizia carente de atenção. Ele chegou a procurar a Justiça para relatar o caso.

No início de 2014, o juiz Fernando Vieira dos Santos, 34 anos, da Vara da Infância e Juventude de Três Passos, autorizou que o garoto continuasse morando com o pai, após o Ministério Público (MP) instaurar uma investigação contra o homem por negligência afetiva e abandono familiar.

De acordo com o MP, desde novembro de 2013, o pai de Bernardo era investigado. Entretanto, jamais houve indícios de agressões físicas. Em janeiro, o garoto foi ouvido pelo órgão e chegou a pedir para morar com outra família.

O médico pediu uma segunda chance. Com a promessa de que buscaria reatar os laços familiares com o filho, ele convenceu a Justiça a autorizar uma nova experiência. Na época, a avó materna, que mora em Santa Maria, na Região Central do estado, chegou a se disponibilizar para assumir a guarda. Porém, conforme o MP, Bernardo também concordou em continuar na casa do pai e da madrasta.

O que ocorreu com a mãe de Bernardo? 
Odilaine Uglione foi encontrada morta em 2010, dentro da clínica do então marido, o médico Leandro Boldrini, em Três Passos. À época, a investigação da polícia concluiu que ela cometeu suicídio com um revólver. Em 29 de março, o Fantástico mostrou o resultado de uma perícia particular contratada pela família, que conclui que a suposta carta suicida da enfermeira teria sido forjada, escrita por outra pessoa.

 
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