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Quarta-feira, 17 de julho de 2024

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Maioria das câmeras em uso não flagra criminosos

Faz dois meses que o assassinato da executiva Eunice Terazzi, 61, testemunhado pelo neto de quatro anos, movimentou o bairro Butantã, na zona oeste de São Paulo. Desde então, suspeitos foram localizados, mas não havia provas contra eles, apesar de a vizinhança ser cheia de câmeras de vigilância apontadas para a rua.


Na rotina dos investigadores, o problema não é novidade. Por estarem mal posicionadas, fornecerem imagens ruins ou, pior, não gravarem nada, a maior parte das câmeras em prédios residenciais da cidade não é suficiente para que se impeça ou elucide os crimes que acontecem diante de suas lentes, dizem policiais e profissionais de segurança privada.

No crime do Butantã, foram pedidas imagens de câmeras de seis imóveis vizinhos. Algumas não gravavam nada e outras não funcionavam nem para simples monitoramento. Só uma delas fez registro de suposta passagem do criminoso, com péssima qualidade.

"Só dá para ver um vulto. Não dá para saber se é magro ou gordo, alto ou baixo", diz o delegado Antonio Tadeu Cunha, do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), que investiga o caso.

A Abese (Associação Brasileira das Empresas de Sistemas Eletrônicos) diz que, após levantamento com associados, constatou que apenas em 14% das ocorrências pesquisadas a câmera foi suficiente para mostrar o crime e identificar, de imediato, seus autores.

Isso não quer dizer que todas as outras são inúteis. A presença do equipamento pode inibir o crime e mesmo imagens distorcidas podem dar pistas do tipo físico do criminoso, ressalta a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo. "Mas o ideal é que a imagem não deixe dúvidas do que aconteceu e quem estava lá", diz Marcos Menezes, da diretoria da Abese.

O delegado Antonio Cunha faz a ressalva: "É claro que os profissionais de segurança privada querem vender o trabalho deles. Mas essa pesquisa [da Abese] faz sentido. Infelizmente, há muitas falhas de gravação, especialmente em bairros da periferia", diz Tadeu.

Por falta de estratégia na implantação das câmeras, escolhe-se frequentemente o equipamento errado para o ambiente. Exemplo: câmeras fabricadas para identificação de portaria usadas no jardim.

A gravação das cenas, importante para esclarecer os crimes, é muitas vezes deixada de lado por economia. Especialistas dizem que é um erro e que, se possível, as imagens devem ser transmitidas e gravadas em central fora do condomínio, para evitar problemas como o do arrastão em um prédio do Morumbi, em julho, em que assaltantes levaram os computadores com as imagens.

Faça você mesmo?

Contudo, tanto a Polícia Militar quanto profissionais do setor desaconselham o "faça você mesmo". Dizem que é preciso contratar um especialista para traçar uma estratégia para o prédio, de acordo com o orçamento dos moradores.

"Para escolher consultor ou a empresa, veja referências de trabalhos que já fizeram", diz José Elias de Godoy, capitão da Polícia Militar, autor de dois livros sobre segurança.

Para a delegada Nair de Castro Andrade, do 7º DP, na Vila Romana, contratar um consultor "não é fundamental". "Se houver orçamento para isso, é melhor, mas há bons profissionais que instalam as câmeras corretamente", diz ela, que investiga arrastão que aconteceu na Lapa, há cerca de dez dias.

Nesse arrastão, o 26º do ano na capital, houve flagrante. Três suspeitos foram mortos no confronto e seis foram presos. "Se a câmera gravasse, saberíamos se faltou prender alguém. Mas, como na maioria dos casos, o equipamento só servia para monitoramento."

Debater a estratégia de segurança em reunião de condôminos e convencê-los a seguí-la é fundamental. "Às vezes, o morador do prédio não quer que o porteiro entreviste, filme seu visitante. É preciso colaboração", diz a delegada.
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